Não há um caminho certo. A paz encontra-se quando visões conflituosas formam um laço de amor acima de todas as diferenças
As campanhas de eleição têm sempre tendência a levar as coisas até ao extremo. Quando você escuta os candidatos a tentarem vilipendiar o seu oponente, você pensa, “Por que é que ele/ela não está ainda na prisão (por evasão fiscal ou fraude de correspondência electrónica ou um exército de outras razões)?”
Embora cada partido e cada candidato reivindique a posse da verdade e da maneira certa de fazer as coisas, a história comprova o inverso. Durante a história, nenhuma forma de governo se provou ser livre de defeitos. Até a glória da democracia já foi ofuscada pela crescente evidência de corrupção e abuso de poder. Como disse Winston Churchill há cerca de setenta anos atrás, “Ninguém finge que a democracia é perfeita ou toda sábia. Certamente, …democracia é a pior forma de Governo só que todas as outras formas já foram tentadas de tempos a tempos.”
O que é verdade para a política é ainda mais verdade para a religião. Com milhares de religiões e sistemas de fé pelo mundo, por que deve um deles reivindicar a propriedade da verdade? Mas se não conseguirmos aceitar outras visões, então estamos destinados ao eterno conflito e estado de guerra?
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Por muito arriscada que seja nossa insistência em sermos os únicos donos da verdade, esse é na realidade um passo necessário no nosso desenvolvimento. O pluralismo pode existir somente quando vemos os benefícios que colhemos da multiplicidade. E para isso acontecer, precisamos de ver a finalidade do nosso desenvolvimento.
No começo dos anos 30, o Cabalista Yehuda Ashlag, conhecido como Baal Hasulam (Autor de A Escada) pelo seu comentário Sulam (Escada) sobre O Zohar, publicou uma série de ensaios. No ensaio, “A Paz,” explica Baal Hasulam o que ele chama “A Lei do Desenvolvimento”: “A corrupção e malvadez que aparecem num estado são consideradas a causa e o gerador do próximo, bom estado. Cada estado dura somente tanto quanto for suficiente para que o mal nele cresça até uma medida que o público não o consiga mais suportar. Nessa altura, o público se deve unir contra ele, o destruir e reorganizar um estado melhor.
Subsequentemente, o estado novo, também, dura apenas tanto quanto as centelhas do mal nele amadurecem e alcançam tal nível em que não mais possam ser toleradas, nessa altura ele deve ser destruído e um estado mais confortável é construído no seu lugar. Portanto os estados emergem um após o outro até que cheguem a um estado corrigido que não tenha centelhas de mal.”
Em acréscimo aos nossos estados mutáveis, nossos desejos se tornam mais intensos e mais egocêntricos. Isto, por sua vez, nos torna mais intolerantes para outras visões. No ensaio, “Paz no Mundo,” descreveu Baal Hasulam a natureza humana assim: “Toda e cada pessoa quer explorar as vidas de todas as outras pessoas para seu benefício pessoal. E tudo aquilo que uma dá à outra é somente por necessidade; e até então há exploração das outras nisso, mas isso é feito astutamente, para que a outra não repare nisso e conceda voluntariamente.”
De Competitivos a Complementares
Enquanto a humanidade atravessa o caminho cheio de sangue da transformação dos estados, ela gradualmente percebe que não há um caminho certo. Na realidade, o estado inicial de todos os caminhos é mau pois seus defensores têm tendência a oprimir todos os outros caminhos, deste modo plantando as sementes de sua morte futura.
Se a humanidade quer acabar com esta procissão atormentada de estados que descreveu Baal Hasulam, precisamos de ver os estados de uma perspectiva completamente diferente. A única justificação para a existência de visões diferentes é que elas nos permitem nos elevarmos acima delas e nos unirmos apesar de nossas diferenças. Cada estado tem suas próprias vantagens e desvantagens, mas nunca seremos capazes de os ver claramente a menos que coloquemos a união da humanidade acima de toda a ideologia. Paz e união existem somente onde visões conflituosas formam um laço de amor acima de todas as diferenças.
Quando mudarmos do nosso modo competitivo prevalecente para um modo complementar, seremos capazes de encontrar a beleza e benefício em cada pessoa e em cada visão. Em “A Liberdade,” escreveu Baal Hasulam, “Qualquer um que extermine a tendência de um indivíduo e a desenraizar causa a perda desse sublime e maravilhoso do mundo, pois essa tendência nunca mais surgirá em qualquer outro corpo … Disto aprendemos que terrível mal infligem essas nações que forçam seu reino sobre as minorias, as privando da liberdade sem as permitirem viver suas vidas segundo as tendências que herdaram de seus antepassados. Elas são consideradas não menos que assassinas. Até aqueles que não acreditam em orientação propositada conseguem entender a necessidade de preservar a liberdade do indivíduo, pois podemos ver como todas as nações que alguma vez caíram, durante as gerações, chegaram a isso somente devido a sua opressão das minorias e dos indivíduos, que portanto se revoltaram contra elas e as arruinaram. Assim, está claro para todos que a paz não pode existir no mundo se não tomarmos em consideração a liberdade do indivíduo. Sem ela, a paz não será sustentável e a ruína prevalecerá.”
Com estas palavras em mente, penso que nesta campanha de eleições crucial, o que devemos apoiar é o espírito do pluralismo. Devemos nos lembrar que por muita razão que possamos ter, toda a visão tem o seu lugar justo e merece respeito, até se for apenas uma “geradora do próximo, bom estado,” como Baal Hasulam o colocou.
Para concluir, gostaria de citar as aptas palavras de Rei Salomão (Provérbios 10:12): “Ódio atiça o conflito e o amor cobre todos os crimes.”
Publicado originalmente no Hareetz