Como a União e a Responsabilidade Mútua São a Necessidade do Momento Michael Laitman, PhD Como Um Feixe de Juncos é um livro aprofundado de mais de 200 páginas por Dr. Michael Laitman que oferece introspecções atempadas e ferramentas pelas quais…
Como a União e a Responsabilidade Mútua São a Necessidade do Momento Michael Laitman, PhD Como Um Feixe de Juncos é um livro aprofundado de mais de 200 páginas por Dr. Michael Laitman que oferece introspecções atempadas e ferramentas pelas quais…
Como Um Feixe de Juncos é um livro aprofundado de mais de 200 páginas por Dr. Michael Laitman que oferece introspecções atempadas e ferramentas pelas quais mudar a tendência ameaçadora de Antissemitismo e trazer uma perspectiva inteiramente diferente e solução para este velho demônio.
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” Como eu vim a escrever este livro Nasci em Agosto de 1946 na cidade de Vitebsk, Bielorrússia. Era o segundo verão depois do fim da Segunda Guerra Mundial, minha vida era preguiçosa, lentamente…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
Nasci em Agosto de 1946 na cidade de Vitebsk, Bielorrússia. Era o segundo verão depois do fim da Segunda Guerra Mundial, minha vida era preguiçosa, lentamente mancando para trás em direção à afável monotonia da normalidade. Sendo o filho primogénito de um pai dentista e uma mãe ginecologista, tive uma infância despreocupada, convenientemente crescendo num bairro suburbano, não tendo preocupações materiais que a maioria dos meus amigos de infância tinha.
E todavia, uma sombra me perseguia pela minha infância e até durante a minha adolescência: o espectro do Holocausto, esse fantasma que muitos nunca escolhem mencionar, embora esteja sempre lá. Nomes de familiares ou amigos que pereceram foram mencionados num tom sombrio lhes dando uma presença estranha, como se ainda estivessem conosco, embora soubesse que nunca estiveram.
E mais estranha ainda era o asco dos meus colegas Russos dos Judeus. Crianças com as quais cresci odiavam Judeus simplesmente porque eram Judeus. Elas sabiam o que tinha acontecido aos seus vizinhos Judeus há apenas um ano atrás, mas eram tão sarcásticas e insensíveis como antes da guerra, o que me foi contado pelos mais idosos. Isto, eu não conseguia entender. Porque eram eles tão odiados? Que mal imperdoável os Judeus fizeram? E de onde tinham eles aprendido essas histórias de horror sobre as coisas que os Judeus podiam fazer?
Como seria de esperar do filho de pais em profissões de medicina, eu, também, assumi a profissão médica como minha carreira “de escolha.” Estudei bio-cibernética, uma ciência que explora os sistemas do corpo humano, e tornei-me um cientista, um investigador no Instituto de Pesquisa do Sangue de São Petersburgo. E enquanto fantasiava comigo mesmo radiando orgulho sobre o púlpito em Estocolmo na Suécia, vencedor de um Prémio Nobel, uma paixão profunda que já nutria e que vinha à superfície da minha consciência.
“Eu quero compreender o sistema”, comecei a pensar, “saber como tudo funciona.” Mas mais que tudo, comecei a ponderar porque tudo era da maneira que era.
Enquanto cientista de coração, comecei a pesquisar respostas cientificas que pudessem explicar tudo, não só como calcular a massa de um objeto ou a aceleração de sua queda, mas o que causava esse objeto a existir em primeiro lugar.
E dado que não consegui achar uma resposta na ciência, decidi avançar. Depois de ser um refusenik (Judeus soviéticos a quem era negada permissão para emigrar para o estrangeiro) durante dois anos, finalmente obtive a minha licença e parti para Israel em 1974.
Em Israel, continuei a procurar o sentido e a razão por trás de tudo. Dois anos depois de ter chegado a Israel, comecei a estudar Cabalá. Mas não foi até Fevereiro de 1979 que encontrei o meu professor, o Rabash, o filho primogénito e sucessor do Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada) pelo seu comentário Sulam (Escada) sobre O Livro do Zohar.
Finalmente, minhas orações foram respondidas! Cada dia, cada hora , novas revelações despertavam em mim. As peças do quebra cabeça da realidade caíram em seu lugar uma de cada vez e uma imagem coerente do mundo começou a se formar perante mim, como se o nevoeiro em si mesmo estivesse se formando diante de meus olhos atônitos.
Minha vida havia sido transformada e eu submergia a mim mesmo nos estudos e em assistir o Rabash da maneira que conseguia. Era sortudo o suficiente para ser capaz de suportar a minha família com apenas algumas horas de trabalho todos os dias e dedi cava o resto do meu tempo a absorver a sabedoria tanto e quão profundamente podia.
Para mim, vivia numa realidade de sonho. Tive uma maravilhosa família, vivia num país onde me sentia realmente livre, tinha uma boa vida com facilidade e tinha encontrado as respostas às minhas perguntas vitalícias.
Uma dessas perguntas persistentes era aquela sobre o ódio aos Judeus. Na Cabalá, descobri porque acontece, porque é tão persistente e mais importante, o que deve ser feito para o curar. Certamente, antissemitismo é uma ferida no coração da humanidade, um eco de uma dor não curada que o mundo carrega há praticamente 4000 anos, desde Abraão, nosso Patriarca, ter deixado a Babilônia.
A Cabalá ensinou-me que Abraão tinha proposto ao seu povo se unir e ser uma vez mais de “uma língua e uma fala” (Génesis 11:1), e que Rei Nimrod, governante da Babil ônia nessa altura, tinha proibido Abraão de circular a sua ideia. Gradualmente, vi que o que o mundo agora precisa é dessa mesma união, essa camaradagem e responsabilidade mútua que Abraão havia desenvolvido com seu grupo e descendência e que Rei Nimrod o tinha impedido de doar aos seus irmãos e irmãs Babilônios.
Em uma aula matinal, meu professor, o Rabash, ensinou-me a “Introdução ao Livro do Zohar,” de Baal HaSulam. No final dele, Baal HaSulam escreveu que a menos que os Judeus doassem ao mundo o conhecimento e orientação para a união, as nações do mundo desprezariam os Judeus, os humilhariam, os expulsariam para fora da terra de Israel e os atormentariam onde quer que estivessem. Havia lido esse ensaio insondável anteriormente, mas nessa manhã teve um impacto mais profundo em mim. Senti outra fase no meu desenvolvimento a emergir por dentro.
Mais tarde nesse dia, fomos até Kfar Sába, uma pequena cidade perto de Telavive, a um Kolel (seminário judaico) com o nome do meu estimado mentor. Na cave, o Rabash mostrou-me uma caixa de cartão de tamanho médio cheia até à borda de pequenos pedaços de papel. Ele perguntou-me se o levaria para o carro e o traria para a sua casa.
Coloquei a caixa na mala do carro e no caminho de volta perguntei -lhe o que eram esses papeis na caixa. Sem a menor cerimónia ele murmurou, “Alguns velhos manuscritos de Baal HaSulam.” Eu olhei para ele, mas ele olhou diretamente para a estrada à frente e manteve-se silencioso todo o caminho de volta.
Nessa noite, as luzes estavam acesas na cozinha de Baruch Ashlag toda a noite. Fiquei lá e li meticulosamente cada pedaço de papel até que descobri um que não me deixaria procurar mais. Era a peça do quebra cabeça que procurava sem sequer o saber. Era o capeamento, o primeiro passo na marcha que estava prestes a tomar doravante.
O papel que tinha encontrado, que é agora parte de “Os Escritos da Última Geração” de Baal HaSulam,” contava um conto de agonia e sede, amor e amizade, libertação e compromisso. Aqui estão as palavras que descobri: “Há uma alegoria sobre amigos que estavam perdidos no deserto, esfomeados e sedentos. Um deles havia encontrado um acampamento abundantemente cheio de cada delicia. Ele lembrou -se dos seus pobres irmãos, mas ele já se havia afastado deles e não sabia onde estavam. …Ele começou a gritar alto e a soprar o chifre, talvez seus pobres, amigos esfomeados escutassem sua voz, se aproximassem e viessem a esse acampamento abundantemente cheio de cada delícia.
“Assim é a questão perante nós: nós nos perdemos no terrível deserto juntamente com toda a humanidade e agora encontramos um grande e abundante tesouro, nomeadamente os livros da Cabalá. Eles preenchem nossas ansiosas almas e nos preenchem abundantemente com exuberância e acordo.
“Somos saciados e há mais, mas a memória dos nossos amigos deixados desesperadamente no terrível deserto permanece fundo dentro dos nossos corações. A distância é grande e palavras não conseguem abrir caminho entre nós. Por esta razão, temos de montar esta trombeta para soprar com força para que nossos irmãos possam escutar e se aproximar e serem tão felizes como nós.
“Saibam, nossos irmãos, nossa carne, que a essência da sabedoria da Cabalá consiste de conhecimento de como o mundo desceu do seu lugar elevado e celestial ao nosso estado ignóbil. …É desta forma muito fácil descobrir na sabedoria da Cabalá todas as correções futuras destinadas a vir dos mundos perfeitos que nos precedem. Através dela saberemos como corrigir nossas maneiras doravante.
“. . .Imaginem, por exemplo, que certo livro histórico fosse descoberto hoje, que descreve as últimas gerações milhares de anos a frente, descrevendo o comportamento tanto dos indivíduos como sociedade. Nossos líderes procurariam cada conselho para organizar a vida aqui correspondentemente, e nós não chegaríamos às manifestações nas praças. Corrupção e o terrível sofrimento cessariam e tudo chegaria pacificamente ao seu lugar.
“Agora, distintos leitores, este livro encontra -se aqui diante de vocês, em um armário. Ele afirma explicitamente a inteira sabedoria do estadismo e as condutas da vida privada e pública que virão a existir no fim dos dias. Eles são os livros da Cabalá, onde os mundos corrigidos estão dispostos. Abram estes livros e encontrarão todos os bons comportamentos que virão a aparecer no fim dos dias e encontrarão dentro deles as boas lições pelas quais ordenar as questões mundanas hoje também.
“…Não consigo mais me conter. Resolvi divulgar as condutas da correção do nosso futuro definitivo que descobri pela observação e pela leitura nestes livros. Decidi sair ao povo do mundo com esta trombeta e acredito e estimo que ela será suficiente para reunir todos aqueles que merecem começar a estudar e a mergulhar nos livros. Assim eles se sentenciarão a si mesmos e ao mundo inteiro a uma escala de mérito.”1
Cerca de um ano depois de descobrir estes artigos, publiquei os meus primeiros tr ês livros com a orientação e apoio do meu professor. Tenho publicado livros desde então e circulei a Cabalá por numerosos outros meios, também.
A realidade de hoje é muito dura, e as pessoas frequentemente não têm paciência ou desejo de mergulhar em livros, como Baal HaSulam imaginara. Mas a essência da sabedoria, o amor, e a união que são as fundações da realidade e que a Cabalá instiga nos seus praticantes, permanecem tão verdadeiras como sempre foram.
Além do mais, desde o virar do século, o antissemitismo tem aumentado uma vez mais, desta vez por todo o mundo. O espectro e o ódio aos Judeus enraizaram-se mundialmente. Se espalhando furtiva e venenosamente, ele ameaça infestar nações inteiras com fobia de judeus e repetir os horrores do passado.
Mas agora sabemos qual é a cura. Cada vez que os Judeus se unem, a serpente esconde a sua cabeça. O espírito de camaradagem e responsabilidade mútua que sempre foram a nossa “arma,” nosso escudo contra a adversidade.
Agora devemos reunir esse espírito, nos vestirmos com ele e deixar que o seu calor curativo nos rodeie. E assim que o tenhamos feito, devemos partilhar esse espírito com o resto do mundo, pois esta é a nossa vocação, a essência do nosso ser “uma luz para as nações.” E assim, porque todos precisamos de respostas para as nossas perguntas mais profundas, porque bem fundo todos os Judeus querem saber a cura para o antissemitismo e porque é o legado do meu professor e de seu pai e grande professor. Decidi detalhar o que significa ser um Judeu, o que significa ser comprometido e o que significa partilhar. Mas acima de tudo, eles me ensinaram o que significa amar o Criador.
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” Se uma pessoa pegasse num feixe de juncos, ela não os conseguiria quebrar todos de uma vez. Mas se pegasse um de cada vez, até uma criança os quebraria. Assim também, Israel não será…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
Se uma pessoa pegasse num feixe de juncos, ela não os conseguiria quebrar todos de uma vez. Mas se pegasse um de cada vez, até uma criança os quebraria. Assim também, Israel não será redimida até que todos sejam um feixe.”
(Midrash Tanhumá, Nitzavim, Capítulo 1)
Durante a história do povo Judeu, união e garantia mútua (conhecida como responsabilidade mútua) têm sido os emblemas de nossa nação. Inumeráveis sábios e líderes espirituais escreveram sobre o significado destas duas marcas registradas, as hasteando como o coração e alma da nossa nação, e declarando que salvação e redenção podem chegar somente quando houver união em Israel.
Na realidade, o conceito de união tem sido tão proeminente que excedeu o da devoção ao Criador e a observação dos mandamentos. Um número considerável de líderes espirituais Judeus e escrituras sagradas durante as gerações sublinham a importância da união acima de tudo. Masechet Dérech Eretz Zuta, escrito aproximadamente na mesma época do Talmude, é uma das numerosas declarações escritas nesse espírito: “Mesmo quando Israel adora ídolos e há paz entre o povo, o Senhor diz, ‘Eu não tenho desejo de lhes fazer mal.’ … Mas se eles são contestados, o que se diz sobre eles? ‘Seu coração está dividido, agora eles carregarão sua culpa’”.2
Depois da ruína do Segundo Templo, a proeminência da união e amor fraterno alcançaram um pico. O Talmude Babilônico, entre muitas outras fontes, ensina-nos que a razão pela qual o Segundo Templo foi arruinado foi ódio sem fundamento e a divisão dentro de Israel. As fontes até declaram que ódio sem fundamento é tão prejudicial, que ele equivale ao impacto dos três grandes males que causaram a ruína do Primeiro Templo, todos juntos: idolatria, incesto e derramamento de sangue. Masechet Yomá ensina-nos essa lição muito claramente: “O Segundo Templo… porque foi ele arruinado? Foi porque havia ódio sem fundamento nele, ensinando-vos que ódio sem fundamento é igual a todas as três transgressões, idolatria, incesto e derramamento de sangue, combinadas.”3
Evidentemente, união, fraternidade, e responsabilidade mútua não estão somente no ADN da nossa nação, elas são a substância da linha da vida que nos poupou de aflições quando as tivemos, e permitiu que aflições se revelassem quando não as tínhamos. Nestes tempos difíceis de benefício próprio e narcisismo, precisamos de união mais que nunca, todavia ela parece mais inacessível que em qualquer outro tempo na história.
Há cerca de quatrocentos séculos atrás, no sopé do Monte Sinai, nos encontramos como um homem com um coração, e ao fazer isso nos tornamos uma nação. Deste então, a união nos sustentou através da chuva e sol, como o reconhecido orador e escritor, Rabi Kalonymus Kalman Halevi Epstein, descreve em sua aclamada composição, Maor va Shemesh (Luz e Sol): “Embora a geração de Ahab fossem idolatras, eles se envolveram em guerra e venceram porque havia união entre eles. É ainda mais quando há união em Israel e eles se envolvem na Torá pelo Seu bem … Com isso, eles subjugam todos aqueles que estão contra eles, e a tudo o que eles dizem com suas bocas, o Senhor concede seus desejos”4
Seguindo Moisés, chegamos a Canaã, a conquistamos, e a tornamos A Terra de Israel, então fomos exilados uma vez mais, desta vez para Babel. E assim que M ordecai nos uniu em Babel, regressamos, embora com praticamente duas das doze tribos originais, e estabelecemos o Segundo Templo. Enquanto mantivemos nossa união, também mantivemos nossa soberania e o Templo. Mas assim que renunciamos ao amor fraterno, fomos esmagados pelo inimigo e fomos exilados nos séculos que se seguiram.
Todavia, divisão e ódio sem fundamento, que causaram a ruína do Segundo Templo e o exílio da nação da sua terra, não aprisionaram nosso desenvolvimento enquanto em exílio. Através de muito dos últimos dois milénios e pouco, mantivemo-nos para nós mesmos, mantendo relativa separação da vida cultural das nações nas quais residíamos.
Mas desde o Iluminismo, gradualmente adotamos uma cultura que hasteia distinção pessoal e realização individual, e tolera a exploração dos fracos e necessitados. Nas últimas várias décadas, sobressaímos tanto na cultura do interesse pessoal e do benefício pessoal que nos tornamos o oposto completo da comunidade preocupada e humana que nutríamos no começo de nossa nação.
No mundo de hoje, o tom e atmosfera predominantes são os do benefício pessoal e egoísmo até ao ponto do narcisismo. No seu livro perspicaz, A Epidemia do Narcisismo: Viver na Era do Benefício Pessoal, os psicólogos Jean M. Twenge e Keith Campbell descrevem ao que se referem como “O crescimento incansável do narcisismo na nossa cultura”,5 e os problemas que causa. Eles explicam que “Os Estados Unidos presentemente sofrem de uma epidemia de narcisismo. …traços de personalidade narcisista aumentaram tão rápido como a obesidade”.
Pior ainda, eles continuam, “O aumento no narcisismo está acelerando, com resultados crescendo mais rápido nos anos 2000 que nas décadas anteriores. Em 2006, um de quatro estudantes de liceu concordavam com a maioria dos itens numa med ida padronizada de traços narcisistas”.6
E a maioria de nós Judeus, progenitores do princípio, “Ama teu próximo como a ti mesmo,” não só nos sentamos e vemos enquanto o egoísmo celebra, mas também nos juntamos à festa, muitos de nós até liderando o grupo, tomando os espólios onde quer que possamos. Abraçamos a máxima, “Quando em Roma, faça como os Romanos,” com entusiasmo espetacular, e ao fazer assim, muitos nomes Judeus se tornaram sinônimos de riqueza e poder. Não há dúvida que não perseguimos riqueza e poder para apresentar nossa herança como superior a dos outros. Contudo, quando os Judeus ganham notoriedade pelas mencionadas duas distinções, eles são notados não só pelos seus ganhos, mas também por sua herança.
Por muito injusto que possa parecer, Judeus e o estado Judeu não são vistos da mesma maneira que são os outros países e nações. Eles são tratados como especiais, tanto positiva como negativamente.
Mas há uma boa razão porque isto assim é. Quando Abraão descobriu a força singular que conduz o mundo, aquele a que nos referimos como “o Criador,” “Deus,” “HaShem, HaVaYaH (Yud-Hey-Vav-Hey, o “Senhor”), ele desejou contar ao mundo inteiro sobre isso. Enquanto babilônio e de elevado estatuto social e espiritual, filho de um fazedor de ídolos e estátuas, ele estava numa posição para ser escutado. Foi somente quando o Rei Nimrod o tentou matar e mais tarde o expulsou da Babilônia que ele foi para outro lugar, eventualmente chegando a Canaã.
Todavia, Rav Moshé Ben Maimon (Maimônides) descreve a toda a hora a maneira como ele continuava à procura de almas gémeas com quem partilhar sua descoberta: “Ele começou a clamar ao mundo inteiro, para alertar que há um Deus para o mundo inteiro… Ele clamava, vagando de cidade em cidade e de reino em reino, até que ele chegou à terra de Canaã… E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinou todos…até que ele os trouxe de volta ao caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seu redor, e eles são o povo de ‘a casa de Abraão.’ Ele plantou seu princípio nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho, Isaac. E Isaac se sentou, e ensinou, alertou, e informou Jacó, e o nomeou professor, para sentar e ensinar… E Jacó o Patriarca ensinou todos seus filhos, e separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar e aprender o caminho de Deus”…7
De Jacó em diante, narra a reconhecida composição, O Kozari, “Divindade é revelada numa assembleia, e desde então é a contagem pela qual contamos os anos dos antepassados, de acordo com o que foi dado na lei de Moisés [Torá], e sabemos o que se desdobrou desde Moisés até este dia”.8
Assim, a união se tornou uma condição para alcançar a percepção de Deus, ou o Criador, como os Cabalistas frequentemente se referem a Ele (por razões que não descreveremos aqui, pois isso está além da amplitude deste livro). Sem união, a realização era simplesmente impossível. Aqueles que foram capazes de se unir, se tornaram o povo de Israel e alcançaram o Criador, a força singular que cria, governa, e conduz o todo da realidade. Aqueles que não foram capazes de fazê-lo permaneceram sem essa percepção, todavia com uma sensação de que os Israelitas sabiam algo que eles não, e tinham algo que lhes pertencia, também, mas que eles não podiam ter.
Esta é a raiz do ódio a Israel, que mais tarde se tornou antissemitismo. É uma sensação de que os Judeus têm algo que não estão compartilham com o mundo, mas que têm que compartilhar.
Certamente, os Judeus devem partilhá-lo com o mundo. Tal como Abraão tentou partilhar sua descoberta com todos os seus semelhantes babilônios, os Judeus, seus descendentes, devem fazer o mesmo. Este é o significado de ser “Uma luz para as nações”.
Esta é a obrigação para a qual o grande Rav Kook, o primeiro Rabino Chefe de Israel se referiu no seu estilo eloquente e poético quando escreveu, “O movimento genuíno da alma Israelita na sua grandiosidade é expresso somente pela sua força sagrada e eterna, que flui de dentro de seu espírito. Foi isso que a fez, a faz, e a fará ainda uma nação que se encontra como uma luz para as nações, como redenção e salvação para o mundo inteiro para seu próprio propósito especifico, e pelos propósitos globais, que estão interligados.
Este compromisso também é ao que Rav Yehuda Leib Arie Altar se referiu com suas palavras, “Os filhos de Israel são fiadores no sentido que eles receberam a Torá em prol de corrigir o mundo inteiro, as nações, também”.10
E o que é que estamos obrigados a transmitir as nações exatamente? É a união, que um descobre a força única, singular e criadora da vida, o Senhor, ou Deus. Nas palavras de Rabi Shmuel Bornstein, autor de Shem MiShmuel [Um Nome A Partir de Samuel], “A meta da Criação foi para que todos fossem uma associação … Mas devido ao pecado, a matéria tornou-se tão estragada que até os melhores nessas gerações foram incapazes de se unirem juntos para servir o Senhor, mas foram somente u ns poucos.”11
Por esta razão, continua Rabi Bornstein, somente aqueles que se podiam unir o fizeram, enquanto o resto os abandonou até que fossem capazes de se juntar à união. Nas suas palavras, “A correção começou ao fazer uma reunião e associação de pessoas para servir o Criador, começando com Abraão o Patriarca e seus descendentes, para que eles fossem uma comunidade consolidada pela obra de Deus. Sua ideia [do Criador] em separar os povos foi que primeiro Ele causou separação na raça humana, no tempo da Babilônia, e todos os malfeitores foram dispersados… Subsequentemente começou a reunião em prol de servir do Criador, à medida que Abraão o Patriarca foi e clamou pelo nome do Senhor até que uma grande comunidade se reuniu na sua direção, que havia sido chamada ‘o povo da casa de Abraão.’ A matéria continuou a crescer até que se tornou a assembleia da congregação de Israel … e o fim da correção será no futuro, quando todos se tornem uma associação em prol de fazer Vossa vontade com todo o coração.”12
Considerando as presentes circunstâncias globais, parece urgente que todos saibam sobre o conceito de união como um meio para alcançar o Criador. Assim que todos nós saibamos e aceitemos esse princípio, paz e fraternidade naturalmente prevalecerão.
Na realidade, de acordo com o reconhecido Cabalista, Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam [Dono da Escada] pelo seu comentário Sulam [Escada] sobre O Livro do Zohar, a necessidade de conhecer o Criador tem sido urgente há praticamente um século até agora. Em “Paz no Mundo,” um ensaio que data do princípio dos anos 30, Baal HaSulam explica que porque somos todos interdependentes, devemos aplicar as leis de responsabilidade mútua ao mundo inteiro. Enquanto o termo, “globalização,” não era ubíquo em tratados do seu tempo, suas palavras claramente ilustram sua necessidade urgente de tornar o mundo uma única unidade solidificada.
Aqui está a descrição de globalização e interdependência de Baal HaSulam: “Não fique surpreso se eu misturar juntos o bem-estar de um coletivo particular com o bem-estar do mundo inteiro, porque certamente, já chegamos a tal grau que o mundo inteiro é considerado um coletivo e uma sociedade. Isto é, porque cada pessoa no mundo extrai sua essência e vivacidade da vida de todas as pessoas no mundo, um é coagido a servir e cuidar do bem-estar do mundo inteiro.
“…Desta forma, a possibilidade de levar condutas boas, felizes e pacificas num país é inconcebível quando não é assim em todos os países no mundo, e vice -versa. No nosso tempo, os países estão todos ligados na satisfação de suas necessidades da vida, como os indivíduos estavam nas suas famílias em tempos anteriores. Desta forma, não podemos mais falar ou lidar somente com condutas que garantam o bem-estar de um país ou uma nação, mas somente com o bem-estar do mundo inteiro porque o benefício ou dano de toda e cada pessoa no mundo depende e é medido pelo benefício de todas as pessoas no mundo.”13
Contudo, para o mundo alcançar essa união, essa garantia mútua, ele precisa de um modelo exemplar, um grupo ou coletividade que possa implementar a união, alcançar o Criador, e através de exemplo pessoal, pavimentar o caminho para o resto da humanidade. Porque nós Judeus já estivemos nesse ponto, e o mundo sente isso subconscientemente, é nosso dever reacender esse amor fraterno entre nós, alcançar essa força singular, e passar ambos o método de união e a realização do Criador ao resto do mundo. Este é o papel dos Judeus: trazer a luz do Criador para o mundo, ser uma luz para as nações.
Em “O Amor a Deus e o Amor ao Homem”, Baal HaSulam descreve claramente esse modus operandi: “A nação Israelita já foi estabelecida como uma transi ção. À mesma medida que os próprios Israel são purificados ao manter a Torá [a lei (de união), que dissemos na introdução ser uma condição prévia para a realização do Criador], eles transmitem seu poder ao resto das nações. E quando o resto das nações também sentenciam a si mesmas a uma escala de mérito [se unem e alcançam o Criador], o Messias [a força que nos puxa para fora do egoísmo] será revelado.”14
Rav Yehuda Altar similarmente descreve o papel dos Judeus em respeito ao resto das nações: “Pareceria que os filhos de Israel, os recipientes da Torá, são os mutuários e não os fiadores, exceto que os filhos de Israel se tornaram responsáveis pela correção do mundo inteiro através do poder da Torá. É por isso que lhes foi dito, ‘E vós sereis para Mim um reino de sacerdotes e uma nação sagrada’. …E foi a isso que eles responderam, ‘Isso que o Senhor disse, nós faremos’, corrigir o todo da Criação. …Na verdade, tudo depende dos filhos de Israel. Tanto quanto eles se corrigem a si mesmos, todas as criações os seguem. Como os estudantes seguem o Rav [professor] que corrige a si mesmo … em semelhança, o todo da Criação segue os filhos de Israel.”15
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” O Nascimento do Povo de Israel Antes de mergulharmos no significado e posição do povo de Israel no mundo, precisamos olhar para a razão pela qual a nação Israelita se formou, e como essa…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
Antes de mergulharmos no significado e posição do povo de Israel no mundo, precisamos olhar para a razão pela qual a nação Israelita se formou, e como essa formação se revelou. Vamos, por um momento, viajar praticamente seis mil milhas para o leste, e praticamente quatro mil anos no passado, para a antiga Mesopotâmia, o coração do Crescente Fértil, o berço da civilização. Situada dentro de um vasto e exuberante trecho de terra entre os rios Tigre e Eufrates, no que hoje é o Iraque, a cidade-estado Babilônia representava-se anfitriã para uma civilização florescente. Explodindo com vida e ação, ela era o centro de comércio do mundo antigo.
Babilônia, o coração dessa civilização dinâmica, era uma panela de pressão, um substrato ideal sobre o qual uma miríade de sistemas de crença e ensinamentos cresceram e floresceram. Os Babilônios praticavam muitos tipos de idolatria. O Sefer HaYashar [O Livro do Justo] descreve a vida dos Babilônios nessa altura, e como eles adoravam: “Todas as pessoas da terra fizeram, cada uma, seu próprio deus nesses dias, deuses de madeira e pedra. Eles os adoravam, e se tornaram deuses para eles. Nesses dias, o rei e todos seus servos, e T erah [pai de Abraão] e seu inteiro agregado, foram os primeiros entre os adoradores de madeira e pedra. … [Terah] os adoraria e se dobraria a eles, e assim fez o todo dessa geração. Todavia, eles haviam abandonado o Senhor, que os havia criado, e não havia um único homem em toda a terra que conhecesse o Senhor…”16
Ainda assim, o filho de T erah, Abraão, que então ainda era chamado pelo nome de Abrão, possuía uma certa qualidade que fazia dele único: ele era invulgarmente perceptivo, com um zelo cientifico pela verdade. Abraão era também uma pessoa preocupada, que reparou que o povo da sua cidade estava tornando-se crescentemente infeliz. Quando ele refletiu sobre isso, descobriu que a causa da sua infelicidade era o crescente egoísmo e alienação que se apoderavam deles. Dentro de um período de tempo relativamente curto, eles declinaram a união e preocupação mútua, tendo sido “De uma língua e uma fala” (Génesis 11:1), para a vaidade e alienação, dizendo “Vinde, construamos uma cidade, e uma torre, com seu topo nos céus, e façamos para nós mesmos um nome” (Génesis, 11:4).
Na realidade, eles estavam tão preocupados em construir sua torre de orgulho que se esqueceram completamente das pessoas que lhes eram em tempos parentes. A composição, Pirkey de Rabi Eliezer (Capítulos de Rabi Eliezer), um dos Midrashim sobre a Torá (Pentateuco), oferece uma descrição vivida não só da vaidade dos Babilônios mas também da alienação com a qual eles se consideravam uns aos outros. O livro escreve, “Nimrod disse a seu povo, ‘Construamos uma grande cidade e moremos nela, caso contrário ficaremos dispersos pela terra como os primeiros, e construamos uma grande torre dentro dela, subindo em direção aos céus … e façamos para nós um grande nome na terra…’
“Eles a construíram alta … aqueles que trariam os tijolos a subiam pelo seu lado oriental, e aqueles que desciam dela, desciam pelo seu lado ocidental. Se uma pessoa caísse e morresse, eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse, eles se sentariam e chorariam e diriam, ‘Quando virá outro em seu lugar’”.17
A atitude dos conterrâneos de Abraão uns para com os outros o incomodava, e ele iria até lá e observaria a conduta dos construtores. Pirkey de Rabi Eliezer continua a descrever suas observações da sua animosidade de uns para os outros: “Abraão, filho de Terah, passou e os viu construir a cidade e a torre”. Ele tentou falar com eles e lhes contar sobre o Criador, a força governante da união que ele havia descoberto, para atestar que as coisas seriam ótimas somente se eles seguissem a lei da união, também. “Mas eles abominaram suas palavras”, o livro descreve. Em vez disso, “Eles desejaram falar a língua uns dos outros”, como antes, quando ainda eram de uma língua, “Mas eles não sabiam a língua uns dos outros. Que fizeram eles? Cada um deles pegou sua espada e lutou com o outro até à morte. Certamente, metade do mundo morreu ali pela espada.”18
À luz da grave situação do seu povo, Abraão decidiu espalhar o princípio que ele havia encontrado, independentemente dos riscos. Na sua composição, HaYad HaChazaká (A Mão Poderosa), também conhecida como Mishnê Torá (Repetição da Torá), o reconhecido acadêmico do século XII, Maimonides (o RAMBAM), descreve a determinação de Abraão e esforços para descobrir as verdades da vida: “Desde que este firme foi desmamado, ele começou a questionar. …Ele come çou a ponderar dia e noite, e ele questionava -se como era possível que esta roda sempre rodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não se pode rodar a si mesma? Ele não tinha nem professor nem tutor. Em vez disso, ele foi cunhado em Ur dos Caldeus entr e os idolatras iletrados, com sua mãe e pai, e todas as pessoas que adoravam as estrelas, e ele, adorava com eles.”19
Na sua busca, Abraão descobriu a união, a unicidade da realidade, essa força singular criativa que cria, sustenta e conduz toda a realidade para a sua meta. Nas palavras de Maimonides, “[Abraão] alcançou o caminho da verdade … com sua sabedoria correta, e sabia que havia um Deus que conduz… que Ele criou tudo, e que em tudo o que há, não há outro Deus senão Ele.”20
Para compreender precisamente o que é que Abraão alcançou, mantenha em mente que quando os Cabalistas falam de Deus, eles não se referem a um ser todo-poderoso ou a uma força que você deve adorar, agradar e apaziguar, que em retorno recompensa os devotos adoradores com saúde, riqueza, longa vida e outros benefícios terrenos. Em vez disso os Cabalistas identificam Deus com a Natureza, o todo da Natureza.
Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada), fez várias afirmações inequívocas sobre o sentido do termo, “Deus”. Sucintamente, ele explica que Deus é sinônimo de Natureza. No ensaio, “A Paz”, Baal HaSulam escreve (num excerto ligeiramente editado),
“Para evitar de ter que usar ambas as línguas daqui em diante, ‘Natureza’ e um ‘Supervisor’, entre os quais, como demonstrei, não há qualquer diferença…é melhor para nós … aceitarmos as palavras dos Cabalistas que HaTeva [A Natureza] é o mesmo…que Elokim [Deus]. Então, serei capaz de chamar às leis de Deus ‘mandamentos da Natureza’, e vice-versa, pois eles são um e o mesmo, e não precisamos discutir mais.”21
“Aos quarenta anos de idade”, escreve Maimonides, “Abraão veio a conhecer seu Fazedor”, a lei singular da Natureza, que cria todas as coisas. Mas Abraão não manteve sua descoberta para si mesmo: “Ele começou a fornecer respostas ao povo de Ur dos Caldeus, a conversar com eles e a lhes contar que o caminho sobre o qual eles caminhavam não era o caminho da verdade.”22 Assim, Abraão foi confrontado pelo estabelecimento, que neste caso era Nimrod, rei de Babel.
O Midrash Rabá, escrito no século V da E.C., apresenta uma descrição vivida da confrontação de Abraão com Nimrod, um vislumbre das dificuldades que Abraão sofreu por sua descoberta e sua dedicação à verdade. Ele também fornece uma divertida visão no fervor de Abraão. “Terah [Pai de Abraão] era um adorador de ídolos [que ganhava sua vida fazendo e vendendo estátuas na loja da família]. Uma vez, ele foi a certo lugar e disse a Abraão que ficasse em seu lugar para ele. Um homem entrou e quis comprar uma estátua. [Abraão] perguntou -lhe, ‘Quão velho sois vós? ‘E o homem respondeu, ‘Cinquenta ou Sessenta’, Abraão disse- lhe: ‘Ai daquele que tem sessenta e tem de adorar uma estátua de um dia.’ O homem ficou envergonhado e partiu.
“Outra vez, uma mulher entrou com uma taça de semolina. Ela disse-lhe, ‘Aqui, sacrifica perante as estátuas’, Abraão levantou-se, pegou no martelo, quebrou todas as estátuas, então colocou o martelo nas mãos da maior. Quando seu pai regressou, ele perguntou- lhe, ‘Quem fez isto’? [Abraão] respondeu, ‘Uma mulher entrou. Ela trouxe-lhes uma taça de semolina e pediu-me que sacrificasse perante elas. Eu sacrifiquei e uma disse, ‘Eu comerei primeiro’, e a outra disse, ‘Eu comerei primeiro’. A maior levantou-se, pegou o martelo, e as quebrou’. Seu pai disse, ‘Estás tu a enganar-me? O que sabem elas’? E Abraão respondeu-lhe, ‘Tuas orelhas escutam o que tua boca diz’?”23
Nesse ponto, Terah sentiu que não conseguia mais disciplinar seu filho descarado. “[Terah] levou [Abraão] e entregou-o a Nimrod [o rei, mas também a autoridade espiritual mais alta da Babilônia]. [Nimrod] disse-lhe, ‘Adora o fogo’. Abraão respondeu, ‘Talvez deva adorar a água, que extingue o fogo’? Nimrod respondeu, ‘Adora a água’! [Abraão] disse-lhe: ‘Então talvez deva adorar a nuvem, que transporta a água’? [Nimrod] disse-lhe, ‘Adora a nuvem’!
“[Abraão] disse-lhe: ‘Nesse caso, devo eu adorar o vento que dispersa as nuvens’? Ele disse-lhe, ‘Adora o vento’! [Abraão] disse-lhe, ‘E devemos nós adorar o homem, que sofre do vento’? [Nimrod] disse-lhe: ‘Tu falas demasiado, eu adoro somente o fogo. Eu jogar-te-ei nele, e deixarei que o Deus que adoras te venha salvar dele!
“Harã [irmão de Abraão] lá se encontrava. Ele disse, ‘Se Abraão vencer, eu direi que concordo com Abraão, e se Nimrod vencer, eu direi que concordo com Nimrod’. Quando Abraão desceu à fornalha e foi salvo, eles perguntaram [Harã], ‘Com quem estais’? Ele disse- lhes: ‘Eu estou com Abraão’. Eles o levaram e o jogaram no fogo, e ele morreu na presença de seu pai. Assim foi dito, ‘E Harã morreu na presença de seu pai Terah’.”24
Assim Abraão resistiu Nimrod, mas foi expulso da Babilônia e partiu para a terra de Harã (pronunciada Charan, para distingui-la de Harã, filho de Terah). Mas Abraão não deixou de circular sua descoberta só porque ele estava exilado da Babilônia. As descrições elaboradas de Maimônides contam-nos, “Ele começou a clamar ao mundo inteiro, para os alertar que há um Deus para o mundo todo… Ele clamou, vagueando de cidade em cidade e de reino em reino, até que chegou à terra de Canaã…
“E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinava a todos…até que ele os trouxe de volta ao caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seu redor, e eles são o povo da casa de Abraão. Ele colocou seu princípio nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho Isaac. E Isaac se sentou e ensinou e alertou, e informou Jacó, e o nomeou professor, para se sentar e ensinar… E Jacó o Patriarca ensinou todos os seus filhos. Ele separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar e aprender o caminho de Deus…”25
Para garantir que a verdade se transportaria pelas gerações, Jacó “ordenou a seus filhos que não parassem de nomear nomeado após nomeado de entre os filhos de Levi, para que o conhecimento não fosse esquecido. Isto continuou e se expandiu nos filhos de Jacó e naqueles que os acompanharam.”26
I S R A E L — O M A I S P R O F U N D O A N S E I O
O resultado surpreendente dos esforços de Abraão foi o nascimento de uma nação que conhecia as leis mais profundas da vida, a derradeira Teoria de Tudo, ou nas palavras de Maimônides: “Uma nação que conhece o Senhor foi feita no mundo.”27
Certamente, Israel não é meramente o nome de um povo. Em Hebraico, a palavra, Ysrael (Israel), consiste de duas palavras: Yashar (direto), e El (Deus). Assim, Israel designa uma mentalidade de querer descobrir a lei da vida, um desejo de alcançar ou perce ber o Criador. Nas palavras de Rabi Meir Ben Gabai, “No significado do nome ‘Israel’ há também Yashar El [direito a Deus]” .28 Em semelhança, no seu Drush [sermão escrito] a respeito da Oração do Viajante, o grande Ramchal escreveu simplesmente, “Israel — Yashar El”.
Colocando-o diferentemente, Israel não é uma atribuição genética, mas em vez disso o nome, ou direção do desejo que conduziu Abraão à s suas descobertas. Geneticamente, os primeiros Israelitas foram Babilônios ou membros de outras nações que se juntaram ao grupo de Abraão. O significado de seu nome era claro para os antigos Israelitas. Como Maimônides escreveu, eles tiveram seus professores, os Levitas, e eles foram ensinados a seguir as leis essenciais da vida.
Hoje, contudo, estamos inconscientes do fato de que “Israel” na realidade se refere ao desejo de conhecer a lei básica da vida, o Criador, e ele não faz alusão a uma linhagem genética. Quase 2000 anos de ocultação da verdade desde a ruína do Segundo Templo praticamente obliteraram a verdade de que a descoberta de Abraão era dirigida para todas as pessoas no mundo, tal como o próprio Abraão o pretendia para todas as pessoas na Babilônia, e mais tarde “começou a clamar ao mundo inteiro”, para citar Maimônides.
Com o passar dos anos, somente os Cabalistas mantiveram esta verdade viva. Cabalistas tais como Elimelech de Lizhensk,29 Shlomo Ephraim Luntschitz,30 Chaim Iben Attar,31 Baruch Ashlag32 e muitos outros escreveram em palavras simples: Ysrael significa Yashar El (diretamente a Deus).
Além do mais, a necessidade de descobrir esta força é mais pertinente hoje que nunca. Nada mudou na Natureza desde o tempo de Abraão, e o Criador ainda é a força una que cria, governa e sustenta a vida.
O que mudou é que hoje precisamos de verdadeiro conhecimento do Criador mais que nunca. No tempo de Abraão, a humanidade teve numerosos outros caminhos a seguir além do caminho da verdade de Abraão. Os caminhos sociais de hoje, contudo, estão gradualmente a se provar a si mesmos ineficazes em solucionar a nossa moral e coesão social em declínio.
Certamente, a seu tempo, a cultura Babilônia se dissipou e as pessoas se dispersaram pelo mundo. Sua alienação e discórdia social, que causaram sua queda, representadas pela queda da torre, se tornaram discretas e comedidas. As pessoas realojaram -se em novos lugares, trazendo com elas a cultura e atitude Babilônia, inconscientes de que transportavam seus costumes de
Agora que temos uma comunidade global, cada crise é numa escala global. Os erros que fizermos fazem sua cobrança no mundo inteiro, tornando a descoberta de uma única força de Abraão informação soberana e salva- vidas que deve ser somada aos nossos cálculos e planos se desejamos sobreviver.
Hoje, nossa única esperança é nos unirmos, porque a união, como veremos abaixo, é a direção da força que conduz toda a vida. Nosso desafio, desta forma, é aprender como nos unirmos. É possível e é plausível, mas num tempo de crises, isso exigirá reconhecer a força da vida e gerar um esforço mútuo para cooperar e colaborar para que possamos viver pelas prescrições desta lei.
Deve ser notado, contudo, que união não exige paridade ou semelhança. Em vez disso, ela exige disparidade, sobre a qual nos unirmos. Hoje, por exemplo, há muitas denominações dentro da religião Judaica, bem como Judeus não afiliados. União Judaica significaria que sem mudar nossos costumes, sem convergir para uma única denominação, nos uniríamos e aprenderíamos a valorizar, e eventualmente nos preocuparmos verdadeiramente uns pelos outros.
Isso pode parecer impossível, considere uma família com várias crianças. Numa família normativa, cada criança tem sua personalidade única. Mais frequentemente que o contrário, essas personalidades colidem, como nossas memórias das nossas brigas de infância com nossos parentes testemunham.
Frequentemente pensamos de nossos irmãos e irmãs em tais termos como, “Se ele/ela não fosse meu irmão/irmã, nunca estaria perto dele/dela”. Mas, precisamente esse fato de que estamos juntos com nosso parente muito diferente prova que quando há amor, podemos unir-nos acima das diferenças.
É precisamente o que precisamos fazer, nos unir acima de nossas diferenças. Desse modo intensamente sentiremos tanto nossa diversidade, frequentemente qualidades opostas, e a união que cavalga acima delas. Quando isso acontecer, seremos capazes de usar nos sas diferenças para o melhor, pois cada um de nós contribui perspectivas, ideias e modos de ação que mais ninguém consegue, assim formando um todo mais forte. Tal como nossos corpos precisam de diferentes órgãos para nos manter saudáveis, precisamos permanecer diferentes e nos unir acima das diferenças por uma meta comum de realizar o papel do povo Judeu, trazer a luz da união às nações.
Seguindo a partida de Abraão da Babilônia, regressando ao nosso tópico anterior, a cidade continuou a cultivar a despreocupação egocêntrica. E embora não haja nada de errado com prazer e diversão, quando é absolutamente egocêntrico, no fim é autodestrutivo. O verdadeiro propósito da vida, Abraão descobriu, é nos tornarmos semelhantes à força singular da vida, experimentar a unicidade com tudo. Nossos sábios chamam a essa união e unicidade, Dvekút [adesão], e o que pretendem eles dizer com essa palavra e que eventualmente devemos adquirir as qualidades do Criador e nos tornarmos similares, ou até iguais a Ele.
Para citar as palavras de Rabi Meir Ben Gabai, “Sobre a parte da Dvekút [adesão] com as forças do Grande Nome e Suas qualidades, você apega -se ao Senhor seu Deus, pois Ele é Seu nome, e Seu nome é Ele, pois você está relacionado e é semelhante a Ele, e Dvekút com Ele é a verdadeira vida”. 33 Em semelhança, o Sagrado Shlah escreveu em Toldot Adam [As Gerações do Homem], “Nossos sábios disseram (Sotá 14a), ‘E vós que vos apegais ao Senhor’, apegai-vos a Suas qualidades, e então ele é chamado Adam [homem], como em, adamé la Elyon [Eu serei como o mais alto]”.34
No século XX, Baal HaSulam elaborou extensamente sobre o termo, Dvekút, o definindo como “equivalência de forma”, ou seja adquirir a “forma” (qualidades) do Criador. Na sua “Introdução ao Prefácio à Sabedoria da Cabalá”, ele escreveu, “Assim, [a alma] será digna de receber toda a abundância e prazer incluídos no Pensamento da Criação, e também estará em completa Dvekút (adesão) com Ele, em equivalência de forma.35
Em “Introdução ao O Livro do Zohar”, Baal HaSulam acrescenta, “Assim, uma pessoa compra a completa adesão com Ele, pois adesão espiritual é senão equivalência de forma, como nossos sábios disseram, ‘Como é possível se apegar a Ele? Em vez disso, apegai – vos a Suas qualidades’”.36
Com o tempo, como mencionado acima, o grupo de Abraão tornou-se uma nação, e a necessidade de um novo método de união surgiu. Os ensinamentos de Abraão mantiveram-se enquanto todos em Israel podiam ser ensinados. Mas no tempo em que o povo de Israel saiu do Egito, eles atingiram o número de 600.000 homens e algumas três milhões de pessoas ao todo. Era impossível ensinar todos eles da mesma maneira que se aprende de um professor.
A solução encontrava -se no sopé do Monte Sinai. Lá, nesse ponto essencial da história de nosso povo, o princípio mais fundamental da nossa Torá foi dado, e é dado ainda hoje, cada dia e em cada momento. Esse princípio, como Rabi Akiva o colocou, é “Ama teu próximo como a ti mesmo”.
No sopé do Monte Sinai, explica o grande acadêmico e intérprete RASHI, recebemos a Torá, as leis pelas quais nos uniremos, porque lá concordamos com todo o coração assim fazer. Nas suas palavras, “‘E Israel acampou lá’, como um homem com um coração”.37 Desse momento em diante, união tem sido o principal bem do p ovo Judeu, o meio pelo qual alcançamos o Criador, adquirimos Suas qualidades, e obtemos Dvekút, equivalência de forma (qualidades) com Ele.
O Midrash Tanah De Bei Eliyahu escreve, “O Senhor disse para eles, para Israel: ‘Meus filhos, careci Eu de algo que vos deva pedir? E que vos posso pedir? Somente que vos amais uns aos outros, vos respeitais uns aos outros, e vos temais uns aos outros, e não haverá transgressão, roubo, e feiura entre vós”.”38
Com o tempo, união tornou-se tão crucial que substituiu qualquer outro mandamento em termos de sua importância. Ela tornou -se a una e única chave para a redenção espiritual de Israel e salvação de seus inimigos. O Midrash Tanhumá escreve, “Se uma pessoa pegar num feixe de juncos, ela não os consegue quebrar a todos. Mas se ela pegar um de cada vez, até uma criança os quebra. Similarmente, Israel não serão redimidos até que eles sejam todos um feixe.”39
No mesmo espírito, Masechet Derech Eretz Zutá escreve, “Assim Rabi Eleazar ha- Kappar diria, ‘Amai a paz, e desprezai a divisão. Grande é a paz, pois até quando Israel pratica idolatria, e há paz entre eles, o Criador diz, ‘Eu não lhes desejo tocar [magoar] ‘, como está escrito (Oséias, 4:17), ‘Efraim está junto aos ídolos, deixai-o sozinho’. Se há divisão entre eles, o que se diz sobre eles (Oséias, 10:2)? ‘Seu coração está dividido, agora eles carregarão sua culpa’”.40
E todavia, por tudo o que acaba de ser dito sobre a importância da união, quando olhamos ao nosso redor é evidente que a maioria das pessoas nem se deseja unir, nem encontra qualquer benefício na união, certamente não com seus próximos, como o princípio dita. Para compreender como tal princípio se tornou tão supremo para a existência de nosso povo, e agora para o mundo inteiro, precisamos de examinar a evolução da realidade de um ponto de vista diferente do que aquele que a ciência frequentemente toma. Precisamos olhar para a realidade como uma evolução de desejos. Quando vemos a realidade como tal, a razão por trás da proeminência do desejo de unir, e a consequente aquisição da qualidade do Criador, se tornarão claras como o cristal. Desta forma, a evolução dos desejos será o tópico do próximo capítulo.
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” A Vida como uma Evolução de Desejos No capítulo anterior, dissemos que o nome, Ysrael (Israel), combina as palavras Yashar (direito) e El (Deus). Estabelecemos que o nome surgiu quando Abraão reuniu pessoas que…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
No capítulo anterior, dissemos que o nome, Ysrael (Israel), combina as palavras Yashar (direito) e El (Deus). Estabelecemos que o nome surgiu quando Abraão reuniu pessoas que desejavam alcançar o Criador, descobrir Deus, e que foram chamadas “Israel” segundo esse desejo. Neste capítulo discutiremos a formação dos desejos em geral, e a formação do desejo pelo Criador, nomeadamente Israel, em particular. Para fazer isso, precisamos de examinar a realidade como uma evolução de desejos.
Em 1937, Baal HaSulam publicou Talmude Êsser HaSefirot (O Estudo das Dez Sefirot), um comentário monumental sobre os escritos do ARI, autor de A Árvore da Vida. No comentário, o autor entra em grande detalhe para explicar que na base da realidade reside o desejo de dar, a que ele chama “a vontade de doar,” que então criou a vontade de receber. Esta é a razão porque, explica Baal HaSulam, nossos sábios testemunham que “Ele é bom e faz o bem”41 e falam de “Seu desejo de fazer o bem às Suas criações”.42
Na Parte 1 de O Estudo das Dez Sefirot, Baal HaSulam explica porque a vontade de doar necessariamente criou a vontade de receber, e porque os dois desejos estão na base do todo da Criação. Nas suas palavras, “Assim que Ele contemplou a criação em prol de deleitar Suas criaturas, esta Luz [prazer] imediatamente se prolongou e expandiu d’Ele na completa medida e forma dos prazeres que Ele havia contemplado. Tudo está incluído nesse pensamento, a que chamamos ‘O Pensamento da Criação’. …O Ari disse que no princípio, uma Luz superior e simples havia preenchido o todo da realidade. Isto significa que uma vez que o Criador contemplou deleitar as criações, e a Luz se expandiu e partiu d’Ele, o desejo de receber Seus Prazeres foi imediatamente impresso nesta Luz”.43
Para sublinhar a suposição de que a vontade de doar, o Criador, criou a vontade de receber em prol de lhe dar prazer, Baal HaSulam categoriza essa seção, “A vontade de doar no Emanador necessariamente gera a vontade de receber no emanado, e ela [a vontade de receber] é o vaso na qual o emanado recebe Sua Abundância”.44
Ashlag não foi o primeiro a se referir à criação da vontade de receber pela vontade de doar, por isso ele o fez mais implicitamente. Rabi Isaiah HaLevi Horowitz (O Sagrado Shlah) também escreveu que “Uma vez que Ele favoreceu fazer o bem às Suas criações, Ele as desejou beneficiar com o verdadeiro benefício, como com a matéria da criação da inclinação do mal [desejo de receber, egoísmo], que é a favor das criações”.45
Semelhante aos dois mencionados acima os sábios, Rabi Nathan Sternhertz escreve em Likutey Halachot [Regras Sortidas], “O Senhor aumenta Suas misericórdias e gentileza, pois Ele desejou beneficiar Suas criações no melhor possível de todo o melhor”.46
Assim, a vontade de doar, o Criador, deseja doar sobre nós, Suas criações, e é suposto recebermos esse benefício, a doação. Todavia, o que é esse benefício, o bem que é suposto recebermos?
Na sua “Introdução ao Estudo das Dez Sefirot”, Baal HaSulam escreve que o benefício que é suposto recebermos é alcançar o Criador, tal como Abraão fez há praticamente 4000 anos atrás. Nas palavras de Ashlag, “[quando alcançamos] sente -se o maravilhoso benefício contido no Pensamento da Criação, que é deleitar Suas criaturas com Sua mão completamente bondosa e generosa. Devido à abundância do benefício que se alcança, amor maravilhoso aparece entre uma pessoa e o Criador, incessantemente derramando sobre ela pelos próprios trilhos e canais através dos quais o amor natural aparece. Contudo, tudo isto chega a uma pessoa a partir do momento em que ela alcança e daí em diante.”47
Para alcançar o Criador, temos de ter qualidades semelhantes às Suas, ou nos termos de Baal HaSulam, temos de obter “equivalência de forma” com Ele. Na “Introdução ao Livro, Panim Meirot uMasbirot [Face Brilhante e Acolhedora] “, Ashlag escreve, “Assim, como pode-se alcançar a Luz … quando se está separado e em completa oposição de forma … e há grande ódio entre eles [Criador e pessoa]? …Desta forma, a pessoa … lentamente purifica e inverte a forma de recepção para ser em prol de doar. Você descobrirá que a pessoa equaliza sua forma com o sistema de santidade, e a equivalência e amor entre eles regressa … Assim, se é recompensado com a Luz … uma vez que se entrou na presença do Criador.”48
QUATRO NÍVEIS DE DESEJO MOLDAM A REALIDADE
Quando examinando a realidade da perspectiva da evolução de desejos, os Cabalistas descobriram que a vontade de receber que acabamos de descrever contém quatro níveis distintos, imóvel (inanimado), vegetativo (flora), animado (fauna), e falante (humano). Desde que o ARI mencionou a divisão da realidade nesses quatro níveis no século XVI,49 numerosos acadêmicos e Cabalistas discutiram esses quatro níveis. O MALBIM (Meir Leibush ben Iehiel Michel Weiser),50 Rabi Pinhas HaLevi Horovitz,51 e o RABaD (Rabi Avraham Ben David), que escreveram, “Todas as criaturas do mundo são imóveis, vegetativas, animadas e falantes”,52 são senão três de numerosos sábios que se referem à realidade como consistindo desses quatro níveis.
Todavia, nenhum sábio ou acadêmico é tão descritivo como Baal HaSulam. Seus escritos, que explicitamente pretendeu que todos lessem e compreendessem, sistemática e elaboradamente detalham a estrutura da realidade da maneira que os Cabalistas e acadêmicos Judeus a percebiam durante as eras. Em seu ensaio, “A Liberdade”, ele explica a estrutura dos desejos imóvel, vegetativo, animado e falante sob a seção, “Lei da Causalidade”. Ele explica que todos os elementos da realidade estão ligados e emergem uns dos outros. Nas suas palavras, “É verdade que há uma ligação geral entre todos os elementos da realidade perante nós, que se regem pela lei da causalidade, por meio de causa e efeito, avançando em frente. E como o todo, assim cada item em si mesmo, ou seja que toda e cada criatura no mundo dos quatro tipos, imóvel, vegetativo, animado e falante, se rege pela lei da causalidade por meio de causa e efeito.
“Além do mais, cada forma particular de um comportamento particular, que uma criatura segue enquanto neste mundo, é empurrada por causas antigas, a obrigando a aceitar mudança nesse comportamento e não outro que se pareça. Isto é aparente a todos aqueles que examinam os caminhos da Natureza de um ponto de vista puramente cientifico e sem uma migalha de influência. Certamente, devemos analisar esta matéria para nos permitirmos a nós mesmos examiná -la de todos os lados.”53
OS QUATRO NÍVEIS DENTRO DE NÓS
Mas há mais, nossos sábios afirmam, os níveis de imóvel, vegetativo e falante não são exclusivos à natureza externa. Eles existem dentro de todo e cada um de nós, formando a base dos nossos desejos e até da estrutura interior de cada desejo. Rabi Nathan Neta Shapiro escreve, “Há quatro forças no homem, inanimado, vegetativo, animado e falante, e Israel têm ainda outra, quinta parte, pois eles são o Divino falante.”54
Baal HaSulam fornece uma explicação mais elaborada da maneira como e stes níveis de desejos funcionam dentro de nós: “Nós distinguimos quatro divisões na espécie falante [humanos], ordenadas em gradações uma sobre a outra. Essas são as Massas, os Fortes, os Ricos, e os Sagazes. Elas são iguais aos quatro graus no todo da realidade, chamados ‘Inanimado’, ‘Vegetativo’, ‘Animado’, e ‘Falante’.
“O inanimado … suscita as três propriedades, vegetativo, animado, e falante. … A mais pequena força entre elas é a vegetativa. A flora opera ao atrair o que é benéfico para ela e rejeitando o prejudicial muito da mesma maneira que os humanos e a nimais. Contudo, não há sensação individual nela, mas uma força coletiva, comum a todas as plantas no mundo…
“Sobre elas está o animado. Cada criatura sente a si mesma, atraindo o que é benéfico a ela e rejeitando o prejudicial. …Esta força sensível no Animado é muito limitada em tempo e espaço, uma vez que a sensação não opera sequer a mais curta distância fora de seu corpo. Também, ele não sente nada fora de sua própria estrutura temporal, ou seja no passado ou no futuro, mas somente no presente momento.
“Acima delas está o falante, consistindo de uma força emocional e uma força intelectual juntas. Por esta razão, seu poder em atrair o que é bom para ele e rejeitar o que é prejudicial e ilimitado no tempo e lugar, como é no animado. Devido à ciência, que é uma faculdade intelectual, ilimitada pelo tempo e lugar, se consegue ensinar a outros onde quer que eles estejam no todo da realidade, no passado ou no futuro, e no decorrer das gerações.”55
ONDE NÓS SOMOS LIVRES PARA ESCOLHER
Tal como aprendemos de Baal HaSulam, a diferença entre o nível falante da realidade e os outros três níveis, tanto na sua natureza geral e dentro de nós, é que nós somos ilimitados em tempo e lugar enquanto escolhendo o que aproximar a nós e o que repelir. Colocando-o diferentemente, no todo da Natureza, a raça humana é a única espécie que tem liberdade de escolha. Enquanto todas as outras criaturas seguem as ordens da Natureza involuntariamente, nós podemos escolher se as seguimos ou não. Lamentavelmente, como é evidenciado pelas crises globais de hoje, quando escolhemos ir contra as ordens da Natureza sem completo conhecimento das implicações de nossas ações, sofremos duras consequências pelos nossos erros.
E uma vez que interiormente consistimos dos mesmos quatro níveis, a mesma regra se aplica dentro de nós, e somente aqueles desejos e qualidades dentro de nós que pertencem ao nível falante são aquelas nas quais temos liberdade de escolha.
Dentro de nós, os desejos básicos naturais, para reprodução e continuação da espécie, por abrigo e por alimentação, correspondem aos primeiros três níveis de desejos na Natureza, inanimado, vegetativo, e animado. O quarto nível, “falante,” manifesta dentro de nós desejos por prosperidade além das nossas necessidades, poder, fama, respeito e conhecimento. A diferença fundamental entre os três níveis inferiores e o do topo é que os três inferiores existem em cada criatura na terra. Cada criatura procura assegurar a existência da sua própria espécie e manter sua descendência a salvo num abrigo adequado.
Inversamente, o quarto nível de desejos, que definiremos rudemente como “desejos por riqueza, honra e conhecimento,” são exclusivamente humanos.
Tal como na sua natureza geral, os três níveis inferiores funcionam automaticamente, de acordo com as ordens da Natureza. A única faculdade na qual há liberdade de escolha é o nível falante de desejos. Desta forma, devemos primeiro aprender os funcionamentos da nossa natureza interior antes que tentemos satisfazer os desejos do nível superior.
Para sermos capazes de trabalhar com o quarto nível de desejos, precisamos de saber o que afeta esses desejos e o propósito de sua existência dentro de nós. Com efeito, há outro nível de desejos dentro de nós que “suplanta” todos os quatro níveis, e que existe somente nos humanos.
O PONTO NO CORAÇÃO
Este é o nível a que Rabi Nathan Shapiro chamou, “o Divino falante”. Ele é este desejo que nos propulsiona a explorar como este mundo funciona, o que o faz funcionar e como ele o faz, e porquê. Ele é o desejo a que chamamos “Israel”, Yashar El (direito ao Criador). Em Abraão, esse desejo apareceu como o anseio de saber “Como era possível que esta roda sempre rodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não se pode rodar a si mesma?”56
Baal HaSulam chamou a esse desejo de conhecer o Criador, “o ponto no coração”. Na sua “Introdução de O Livro do Zohar”, ele explica que o coração pode ser visto como o todo dos nossos desejos, e que “o ponto no coração” é o desejo dentro de nós que aponta para o Criador.57 Meu professor, o Rav Baruch Shalom HaLevi Ashlag (o Rabash), o filho primogênito de Baal HaSulam e seu sucessor, explicou que o “ponto no coração” é o desejo chamado “Israel”. Nas suas palavras, “Há também Israel numa pessoa … mas ela é chamada ‘um ponto no coração’.”58
Agora podemos ver porque Abraão estava tão determinado a partilhar o que ele havia descoberto. Ele sabia que os desejos humanos estavam evoluindo, e ele sabia que quanto mais eles evoluem, mais eles se voltarão para adquirir prosperidade, poder, dominação sobre os outros e conhecimento. Era claro para ele que sem adquirir o conhecimento da natureza dos desejos humanos, as pessoas não seriam capazes de se gerir a si mesmas e suas sociedades adequadamente.
Assim que Nimrod teve sucesso em impedir os esforços de Abraão de circular seu conhecimento aos Babilônios, esse homem sábio juntou aqueles que o seguiam e saiu da Babilônia para espalhar sua mensagem no exterior. Certamente, o legado de Abraão para nós é que aqueles que compreenderam o que ele havia ensinado deviam partilhar o conhecimento com quem quer que estivesse disposto a escutar. Nas palavras de O Livro do Zohar, “Abraão cavou esse poço [Beer Sheba]. Ele descobriu-o porque ele havia ensinado a todas as pessoas no mundo a servir o Criador. E assim que ele o cavou, ele emite águas vivas que nunca cessam.”59
O povo de Israel de hoje são os descendentes dos estudantes de Abraão, pessoas com pontos nos seus corações, o ponto de Israel dentro delas. E embora esse ponto agora esteja enterrado por baixo de séculos de esquecimento, ele existe e aguarda ser reacendido. Nas palavras do Sagrado Shlah, “Israel são chamados a ‘Assembleia de Israel’, pois embora abaixo eles estejam separados uns dos outros, todavia, acima, na raiz de suas almas, eles são uma unidade, e estão congregados, pois são a parte do Senhor. Os ramos [o povo de Israel] que desejam regressar a suas raízes devem seguir o exemplo de suas raízes, ou seja se unirem abaixo também. Quando a separação está entre eles, aparentemente causam separação e divisão acima, vejam quão longe a questão se prolonga. Desta forma, o todo da casa de Israel deve perseguir a paz e ser um, em paz e completude, sem um defeito, para se assemelhar a seu Fazedor [estarem em equivalência de forma com Ele], pois assim é o nome do Senhor, ‘Paz’.”60
Assim que Israel se una e assim se corrigirá, a si mesmos, eles podem concretizar sua vocação e serem “Uma luz para as nações” (Isaías 42:6). Nas palavras de Rabi Naftali Tzvi Yehuda Berlin (O NATZIV de Volojin), “A principal razão pela qual maioria de nós vive em exílio é que o Senhor divulgou a Abraão Nosso Pai que seus filhos foram feitos para serem uma luz para as nações, que é impossível a menos que estejam dispersos no exílio. Assim foi Jacó, Nosso Pai, quando ele chegou ao Egito, onde a maioria do povo estava. Com isso, Seu nome se tornou grande, quando eles viram Sua providência sobre Jacó e seus descendentes.”61
Falando da evolução dos desejos, a raça humana constitui o quarto e mais alto nível de desejo, o único que permite o livre arbítrio. Mas para tomar as escolhas certas, as pessoas precisam saber como tudo funciona a partir da sua raiz. O povo Israelita re presenta o desejo de conhecer a raiz, e desta forma é sua responsabilidade estudar a raiz, e transmitir seus discernimentos e percepções ao resto da humanidade. Assim, todos saberão como fazer com que suas escolhas funcionem para seu benefício.
Para obter esse conhecimento, Abraão formou um método de estudo que os sábios durante as eras nutriram e desenvolveram. O próximo capítulo descreverá a evolução desse método, que desde que foi escrito O Livro do Zohar, tem sido referido como “Cabalá”.
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” A Evolução do Método de Correção No capítulo anterior, dissemos que os desejos crescem de inanimado, a vegetativo, a animal, a falante. Dissemos que esta progressão ocorre tanto externamente, na natureza geral, e internamente,…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
No capítulo anterior, dissemos que os desejos crescem de inanimado, a vegetativo, a animal, a falante. Dissemos que esta progressão ocorre tanto externamente, na natureza geral, e internamente, dentro de nós. Também dissemos que somente no nível falante dentro de nós temos nós uma escolha livre, mas que para tomar escolhas que nos são benéficas, temos primeiro de aprender como a Natureza opera na sua raiz.
Finalmente, dissemos que Israel representa o desejo de conhecer a raiz, o Criador, o Fazedor de tudo o que há, e que Abraão foi o primeiro a descobrir esta raiz. Ele tentou ensinar seus contemporâneos, e os Judeus de hoje, os descendentes desse desejo, devem levar a cabo a vocação de Abraão e completar a sua tarefa.
O que Abraão descobriu foi que o único problema com os seus conterrâneos foi seus egos crescentes. Eles estavam tornando-se demasiado egocêntricos para manter uma sociedade sustentável. Eles costumavam ser de “Uma língua e uma fala,” mas devido a seus egos crescentes se tornaram alienados e incomunicáveis. Eles tornaram-se tão indiferentes uns para os outros, tão descuidados e preocupados em se auto explorar que, como mencionado no capítulo anterior, “Se uma pessoa caia e morresse [enquanto construindo a torre de Babel] eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse no eles se sentariam e chorariam e diriam, ‘Quando virá outro que se encontre no seu lugar.’”62
Pior ainda, Abraão descobriu que o crescente ego não estava prestes a parar de crescer. Ele era um traço inerente na natureza humana, uma característica distinta do nível falante que o ego deve crescer constantemente porque ele é alimentado pela inveja dos outros. Na sua “Introdução ao Livro, Panim Meirot uMasbirot (Face Iluminada e Acolhedora) “, Baal HaSulam escreve, “O Criador instigou três inclinações nas massas [pessoas], chamadas, ‘inveja,’ ‘cobiça,’ e ‘honra.’ Devido a elas, as massas desenvolvem- se grau após grau para induzir uma face de um homem inteiro”. 63 Por outras palavras, inveja não é má em si mesma, e contudo temos de lidar com ela, corrigi -la, e apontá-la para uma direção construtiva.
A INCLINAÇÃO (NÃO NECESSARIAMENTE) AO MAL
Quando nossos sábios escrevem sobre Yetzer HaRá (inclinação ao mal), referem-se à maneira como usamos a inveja para prejudicar os outros ou beneficiar às suas custas. Mas se usarmos as já mencionadas inveja, cobiça e honra adequadamente, tornam-se o nosso próprio meio de correção. Foi isto que o Sagrado Shlah escreveu, “As piores qualidades são inveja, ódio, avareza, cobiça e assim por diante, que são as qualidades da inclinação ao mal – as próprias com as quais ele servirá o Criador”64
E todavia, inerentemente, usamos essas inclinações negativamente, como está escrito (Génesis, 8:21), “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude”. Similarmente, “Não há mal senão a inclinação ao mal,” escreveu Shimon Ashkenazi,65 e séculos antes, o Midrash Rabá estabeleceu que “As pessoas estão inundadas em inclinação do mal, como se diz, ‘Pois a inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude’”.66
Abraão descobriu que de todas as criações, somente as pessoas possuem uma inclinação ao mal. Foi por isso que o grande Ramchal escreveu, “Não há outra criação que possa fazer mal como o homem. Ele pode pecar e se revoltar e a inclinação do coração do homem é má desde sua juventude, que não é assim com qualquer outra criatura.”67
Baal HaSulam escreve que a inclinação do mal é a vontade de receber.68 Todavia, em anteriores capítulos dissemos que a vontade de receber é o todo da Criação, e o homem constitui o quarto e mais desenvolvido nível da vontade de receber. Por que então é a nossa vontade de receber a origem de todo o mal?
O problema é que a vontade de receber no nível falante não é estática. Ela está constantemente crescendo e constantemente buscando mais. Nas palavras de nossos sábios, “Não se abandona o mundo com metade dos seus desejos na sua mão, pois aquele que tem cem deseja duzentos; aquele que tem duzentos deseja quatrocentos”.69 Porque procuramos constantemente mais, estamos sempre carentes. Similarmente, o Sagrado Shlah diz, “Aquele que não está contente sempre carece,”70 e está desta forma constantemente infeliz e insatisfeito. Olhando para a nossa sociedade consumista, podemos ver que se sucumbirmos a esse elemento na nossa natureza, seremos jogados para uma “caça ao prazer” interminável que não pode terminar e que não nos faz felizes, também.
Assim, Abraão percebeu que a inclinação do mal, o ódio e alienação que aparecia m entre os Babilônios, causavam todos os problemas entre eles, e que não havia esperança que este fermentar abrandasse por si mesmo. Contudo, ele também percebeu que ter uma vontade de receber intensa era necessário para o propósito da Criação, para o homem alcançar Dvekút [adesão, equivalência de forma] com o Criador. Nas palavras de Ramchal, completando a citação acima, “Mas por outro lado, quando ele [homem] é corrigido e complementado, ele se eleva acima de todos, e ele merece aderir [apegar] a Ele, e todas as outras criações são dependentes dele”.71
Desta forma, em vez de tentar aniquilar a inclinação ao mal. Abraão desenvolveu um método pelo qual as pessoas se corrigiriam, ou “domariam” suas inclinações, ou seja seus egos, e assim beneficiariam do seu crescimento. Assim que ele concebeu o método, ele começou a partilhá-lo com todos, não abrindo exceções, como Maimônides testemunha, “Ele começou a clamar ao mundo inteiro”.72
Como mencionamos na Introdução, Maimônides escreveu que Abraão “plantou seu princípio [que há um Deus, uma força no mundo] nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho, Isaac”.
Contudo, o método de Abraão era adequado somente aos seus contemporâneos. Ele não podia ser, nem era suposto ser adequado a gerações posteriores. Porque a inclinação ao mal no nível falante – a vontade de recebermos para nós mesmos, também conhecida como “egoísmo” – está sempre crescendo e se desenvolvendo, na altura em que o povo de Israel havia se tornado uma nação e saiu do Egito, um novo método de correção era necessário.
Os três milhões ou assim que saíram do Egito eram diferentes das setenta almas que haviam entrado nele dois séculos mais cedo. No Egito, a vontade de receber de Israel aumentou tremendamente, e precisava de um conjunto muito explicito de instruções com o objetivo de a corrigir.
MOISÉS DIZ, “UNAM-SE!”
A solução veio na forma da Torá de Moisés, mas também uma nova condição prévia para a execução de qualquer correção desse tempo em diante. Para receber a Torá, escreve o grande comentador, RASHI, o povo de Israel se encontrou no sopé do Monte Sinai “como um homem com um coração”.73 Essa absoluta e completa unidade mais tarde evoluía numa das características mais proeminentes de Israel – garantia mútua- o nobre traço que distinguia Israel de todas as nações desse tempo.
Sob sua aceitação da condição de serem como um homem com um coração, Israel receberam a Torá, a instrução, o código de leis que os ajudaria a dominar o ego. Com ela, eles tornaram-se uma sociedade onde cada membro – homem, mulher e criança – alcançou o Criador e vivia pela lei de garantia mútua, em equivalência de forma com o Deus (ou força) una que Abraão havia descoberto. O Talmude Babilónio escreve, “Eles verificaram de Dan a Beer Sheva e nenhum ignorante [pessoa não corrigida] foi encontrado de Gevat a Antipris, e nenhum menino ou menina, homem ou mulher foi encontrado que não versasse cuidadosamente nas leis da pureza e impureza [correções de acordo com a lei de Moisés].”74
Com sua recentemente adquirida unidade, Israel conquistou Canaã – da palavra Kenia’a (render)75 – e tornou-a a “Terra de Israel” – um lugar onde o desejo pelo Criador governa. O Templo que Israel estabeleceu na terra representava seu alto nível de realização, onde eles continuaram a desenvolver e a implementar o método de Moisés.
E ainda assim, como nossos sábios escrevem, “A inclinação ao mal nasce com o homem, e cresce com ele sua vida inteira,”76 e “A inclinação no coração do homem é má desde sua juventude, e sempre cresce em todas as cobiças”.77 Ainda assim, o método de Moisés de correção, as leis a que chamamos “a Torá,” permaneceu intact o durante o primeiro e segundo Templos, e até durante o exílio em Babel.
Mas à medida que o declínio espiritual de Israel continuou, o povo achou cada vez mais difícil se segurar à sua unidade e conexão com o Criador. Como resultado, o Segundo Templo era num grau espiritual inferior (nível de conexão, ou equivalência de forma com o Criador) que o primeiro.
O Cabalista Rabi Behayei Ben Asher Even Halua explica, “Desde o dia em que a Divindade estava presente em Israel, sob a doação da Torá, ela não se moveu de Israel até à ruína do Primeiro Templo. Uma vez que desde a ruína do Primeiro Templo … ela não estava presente permanentemente, como durante o Primeiro Templo.”78
Eventualmente, o nível de egoísmo aumentou no povo de Israel a tamanha extensão que ele os separou por completo uns dos outros e do Criador. Certamente, foi a separação uns dos outros que causou sua separação do Criador, da percepção da força fundamental da vida. Isto, por sua vez, resultou na ruína do Segundo Templo, e o último e mais longo exílio.
No seu livro, Netzá Yisrael [O Poder de Israel], Rabi Yisrael Segal descreve a queda da graciosidade de Israel: “No Segundo Templo havia uma virtude especial, que Israel não estavam divididos em dois; havia somente união entre eles. Desta forma, o Primeiro Templo foi arruinado por transgressões que são Tum’á [impureza], e o Senhor não mora entre eles no meio de sua Tum’á. Mas o Segundo Templo foi arruinado por ódio gratuito, que revoga sua união, que era sua virtude no Segundo Templo”.79
Similarmente, o grande acadêmico e poeta, Rabi Avraham Ben Meir Ibn Ezra, escreveu, “‘E vós pisareis nos seus altos lugares,’ ‘E eu vos deixarei montar nos altos lugares da terra,’ e a razão é que o ódio gratuito que estava presente no Segundo Templo até que ele gerasse o exílio sobre Israel”.80
A GRANDE QUEDA, E AS SEMENTES DA REDENÇÃO
O exílio após a ruína do Segundo Templo derivou de ódio gratuito, mas ela também serviu um propósito duplo. O primeiro foi que o exílio foi um incentivo para desenvolver mais o método de correção. Uma vez que a Torá de Moisés não era mais suficiente para manter o nível espiritual da nação, era hora de adaptar o método à presente condição do povo – estando em exílio, e mais egoísta que durante o tempo de Moisés. O segundo propósito do exílio foi que Israel se misturasse com outras nações, para espalhar o “gene espiritual” pelo mundo, e assim permitir a correção da humanidade inteira, como Abraão pretendia inicialmente.
Na altura da ruína do Segundo Templo, dois corpos seminais foram compostos. Um foi o Mishná, e o outro foi O Livro do Zohar. O anterior, juntamente com a Bíblia, tornou-se a fundação de virtualmente toda a sabedoria Judaica desse dia em diante. O último, por outro lado, foi escondido pouco depois de ser escrito, e permaneceu escondido durante mais de mil anos, até ter aparecido nas mãos de Rabi Moshé de Leon.
Os autores do Mishná, a Gemará, e o resto dos escritos de nossos sábios forneceram ao povo exilado de Israel a orientação tanto nos níveis espirituais como físicos. Enquanto os escritos narram estados espirituais, eles podem também ser prontamente percepcionamos como mandamentos físicos.
Porque as leis que nossos sábios instruíram se originaram de leis espirituais, elas foram aplicáveis à vida física, tal como Israel as havia aplicado antes da ruína do Templo. Desta maneira, os Judeus mantiveram certo nível de conexão com o nível espiritual do passado sem o próprio alcance da fonte e origem das leis.
Rabi Menahem Nahum de Chernobyl escreveu em respeito da desconexão de Israel do nível espiritual e perda de alcance do Criador. “A razão do exílio é a ruína do Templo em geral e em particular. Israel se [tornaram] tão corrompidos que causaram a expulsão da Shechiná [Divindade] do Templo geral. Este Templo particular [pessoal] está dentro de seus corações … e através da partida do Templo [Divindade] particular … [eles] abandonaram o Templo geral e o exílio chegou”.81
No mesmo espírito, Jonathan Ben Natan Netah Eibshitz escreveu, “No Primeiro Templo, Divindade não se moveu do Templo porque o exílio foi durante um curto tempo. Mas na segunda ruína, que é durante um período prolongado de tempo, a Shechiná [Divindade] partiu por completo”.82
E enquanto a maioria dos Judeus se concentrou em manter uma ligação com a espiritualidade no nível instruído a eles pelos sábios do Mishná e Gemará, houveram sempre alguns poucos excepcionais que simplesmente não conseguiam permanecer com a observação cega de mandamentos. As questões que conduziram Abraão a descobrir o Criador ardiam dentro deles; seus pontos no coração não haviam sido saciados, e eles foram conduzidos ao mais profundo de todos os estudos, a sabedoria da Cabalá.
UMA NOVA ERA, UMA NOVA ABORDAGEM
Os Cabalistas mantiveram seus estudos secretos. Nos seus quartos secretos desenvolveram um método de correção que seria adequado a todos, quem quer que precisasse. Em pequenos grupos, por vezes sozinhos, eles estudavam e alcançavam, mas mantinham o que haviam aprendido e escreviam na maioria das vezes para si mesmos.
Mas um dia no século XVI, um jovem homem com o nome de Isaac Luria veio à cidade Cabalista de Tzfat no Norte de Israel. Sua chegada marcou o começo de uma nova era na evolução do método de correção. Através do seu principal estudante, Chaim Vital, Isaac Luria – hoje conhecido como o Sagrado ARI – detalhou uma abordagem completamente nova à sabedoria da Cabalá. Suas explicações aparentemente técnicas da estrutura do sistema espiritual e suas descrições sistemáticas precisas gradualmente se tornaram o método de estudo prevalecente entre os Cabalistas.
O principal discípulo do ARI, Rabi Chaim Vital, diligentemente escreveu o que seu professor havia ditado. Depois do falecimento de Rabi Vital, seu filho começou a publicar esses escritos, os mais notáveis dos quais são rvore da Vida e Oito Porões. Nesse tempo, essas composições tornaram-se a base do método predominante de estudo de Cabalá, a Cabalá Luriânica, nomeada segundo Isaac Luria, o ARI.
PERMISSÃO PARA SE ENVOLVER
Juntamente com a crescente predominância da Cabalá Luriânica, uma gradual emergência do sigilo começou assim que mais e mais Cabalistas sentiram que o tempo era certo para divulgar o método pelo qual o mundo alcançaria sua correção final.
No seu livro, Luz do Sol, o Cabalista Rabi Avraham Azulai escreveu, “A proibição do Alto a se refrear do estudo aberto da sabedoria da verdade [Cabalá] foi durante um período limitado de tempo, até ao fim de 1490. Desta forma, é considerada a última geração, na qual a proibição foi levantada e a permissão foi dada para se envolver em O Livro do Zohar. E desde o ano 1540, tem sido um grande Mitzvá (mandamento, boa ação, correção) para as massas estudarem, velhos e novos. E uma vez que o Messias está destinado a vir como resultado, e por nenhuma outra razão, é desapropriado ser negligente”.83
Embora o ARI não permitisse a ninguém senão Chaim Vital a estudar seus ensinamentos, o último escreveu profusamente sobre a importância de estudar a Cabalá. “Ai das pessoas que afrontam a Torá. Elas não se envolvem na sabedor ia da Cabalá, que honra a Torá, pois elas prolongam o exílio e todas as aflições que estão prestes a vir ao mundo,” escreveu ele na sua introdução à Árvore da Vida.84
Nos séculos que se seguiram, numerosos rabinos, Cabalistas, e acadêmicos afirmaram que o estudo da Cabalá era vital para nossa redenção, até para a sobrevivência da nação. No meio do século XVIII, o Gaon de Vilna (GRA), escreveu explicitamente, “Redenção depende do estudo da Cabalá”.85
No início do século XIX, os Cabalistas começaram a proclamar que até crianças deviam estudar a Cabalá, explicitamente revogando o estudo antes dos quarenta anos de idade. O Rabi de Kormano escreveu, “Tivesse meu povo me escutado nesta geração, em que a heresia prevalece, eles se mergulhariam no estudo de O Livro do Zohar e os Tikunim [Correções], contemplando-as com crianças de nove anos de idade”.86
No início de 1900, o Rav Isaac HaCohen Kook, que mais tarde se tornou o primeiro Rabino Chefe de Israel, abertamente chamou o estudo da Cabalá, bem como o regresso dos Judeus à terra de Israel. Em Orot (Luzes), ele escreveu, “Os segredos da Torá trazem a redenção, eles trazem Israel de volta a sua terra”.87
Em numerosas ocasiões, Rav Kook escreveu muito flagrantemente que cada Judeu tem que estudar a Cabalá, embora ele raramente usasse o termo explicito e frequentemente se refere a ela pelos seus conhecidos epítetos, “a sabedoria da verdade,” “a sabedoria do oculto,” “a interioridade da Torá,” ou “os segredos da Torá”. Nas suas palavras, “Perante nós está uma obrigação a expandir e estabelecer o envolvimento no lado interno da Torá, em todos os seus assuntos espirituais, que, no seu sentido mais amplo, incluem a ampla sabedoria de Israel, cujo ápice é o conhecido de Deus em verdade, de acordo com a profundidade dos segredos da Torá. Nestes dias, ela requer elucidação, escrutínio e explicação e torná-la mais clara que nunca e mais expansiva entre a nossa nação inteira.”88
AGORA, TODOS JUNTOS
A maior fase na evolução do método de correção começou no princípio de 1900 e está somente agora a apanhar ritmo. Porque somos parte dessa fase, é aquela que têm o maior significado para nós.
Como discutido na Introdução, quando Abraão primeiro descobriu que uma força governa e conduz o mundo, ele começou a espalhar seu conheci mento. Sua meta era circulá-la a todas as pessoas, nenhuma excluída. Contudo, Nimrod, rei da Babilônia, o preveniu de alcançar seu objetivo e Abraão teve de partir, finalmente chegando à terra de Canaã, que ele tornou Israel (segundo o desejo de alcançar Yashar El, diretamente pelo Criador).
Esse objetivo não mudou durante os séculos. “Noach foi criado para corrigir o mundo no estado em que ele estava nessa altura …e eles [seus contemporâneos] também receberam correção dele,” escreve o Ramchal.89 Também, no seu comentário sobre a Torá, o Ramchal escreve, “Moisés desejava completar a correção do mundo nessa altura. Foi por isso que ele tomou a multidão misturada, pois ele pensava que assim seria a correção do mundo que será feita no fim da correção … Contudo, ele não teve sucesso devido às corrupções que ocorreram no caminho”.90
Depois da ruína do Segundo Templo, os Cabalistas escolheram esconder a sabedoria de todos, Judeus e não- Judeus em semelhança, até o tempo do ARI, quando começaram a sentir que o tempo era maduro para a revelar a todos. Nesse ponto, eles começaram a ensinar e a circular a sabedoria numa maneira que se tornou mais direta e explicita a cada geração.
No início do século XX, todas as inibições haviam saído, e os Cabalistas abertament e clamavam pela disseminação da sabedoria e a ensiná-la a todas as nações. Rav Kook exprimiu esta mentalidade muito claramente numa das suas cartas: “Eu concordei divulgar todos os segredos do mundo, uma vez que é hora de fazer pelo Criador, como é necessário nesta altura. Maiores e melhores que eu, sofreram pela nação escárnio por tais questões, pois seus espíritos puros os pressionaram pelo bem de corrigir a geração para falar novas palavras e revelar o oculto, ao qual o intelecto das massas não estava acostumado.”91
Durante a Primeira Guerra Mundial, Rav Kook sentiu – se impelido a sublinhar a ligação que ele viu entre os problemas do mundo e o reacender da força espiritual de Israel através da união. No seu livro, Orot (Luzes), ele escreveu, “A construção do mundo, que é presentemente amassada pelas terríveis tempestades de uma espada sangrenta, que amassa em antecipação de uma força de unidade e sublimidade, e tudo o que está na alma da Assembleia de Israel.”92
Seu contemporâneo, Baal HaSulam, escreveu profusamente e com frequência flagrantemente, sobre a necessidade de divulgar a sabedoria da Cabalá a todos, especialmente hoje. No seu ensaio, “O Shofar do Messias,” ele escreveu, “Saiba que é isto o que significa que os filhos de Israel são redimidos somente após a sabedoria do oculto ser revelada a grande extensão, como está escrito em O Zohar, ‘Com esta composição, os filhos de Israel são redimidos do exílio.’
“…Na minha avaliação, estamos em uma geração que se encontra precisamente no limiar da redenção, se soubermos como espalhar a sabedoria do oculto às massas.
“…Há outra razão para isso: Aceitamos que há uma condição prévia para a redenção – que todas as nações do mundo reconheçam a lei de Israel [de doação], como está escrito, ‘E a terra estará cheia do conhecimento.’ É como no exemplo do êxodo do Egito, onde houve uma condição prévia que Faraó, também, reconheceria o verdadeiro Deus e Suas leis, e os permitiria partir.
“…Você deve compreender de onde as nações do mundo chegam a tamanha noção e desejo. Saiba que é através da verdadeira sabedoria, para que eles vejam evidentemente o verdadeiro Deus e a verdadeira lei [da doação]. E a disseminação da sabedoria nas massas é chamada ‘um Shofar [um clarim, ou um chifre de carneiro festivo].’ Como o Shofar, cuja voz viaja uma grande distância, o eco da sabedoria se espalhará pelo mundo”.93
Certamente, o legado desses titãs espirituais foi concretizado, e hoje qualquer pessoa que deseje pode estudar “a sabedoria do oculto” independentemente da religião, idade, ou género, pois ela não está mais escondida. Como Abraão visionou, nossa Babilônia global pode agora estudar a lei fundamental da vida que a cria e sustenta, e não há limitações que se pareçam.
Mas se tudo está certo, porque há tanto de errado com o mundo? Porque há tantas pessoas sofrendo, e porque o número de pessoas na miséria parece crescer? Se a lei é o Criador, e podemos deste modo concertar tudo, porque não estão todos correndo para aprender?
Para responder a estas perguntas precisamos de compreender as rotas pelas quais a sabedoria se espalha, e especificamente o papel do povo Judeu em espalhar a Cabalá, e o que significa ser uma luz para as nações. Correspondentemente no próximo capítulo discutiremos o papel do povo Judeu através dos olhos da Cabalá.
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” O Papel do Povo Judeu “Abraão foi recompensado com a bênção de ser como as estrelas dos céus, Isaac, a bênção da areia e Jacó, como a poeira da terra, pois os filhos de…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
“Abraão foi recompensado com a bênção de ser como as estrelas dos céus, Isaac, a bênção da areia e Jacó, como a poeira da terra, pois os filhos de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação”.
Yehuda Leib Arie Altar (ADMOR de Gur), Sefat Emet [Lábio Veraz], Bamidbar [Números].
No fim do capítulo anterior perguntamos, “Se tudo está certo, porque há tanto de errado com o mundo”? E “Se a lei fundamental da vida pode ser conhecida por todos, como tão poucos a conhecem, especialmente agora que estamos em uma perda no que tange lidar com as múltiplas crises que engolem a sociedade humana?” Dissemos que para responder a essas questões, precisamos compreender como o conhecimento da lei se espalha e como os Judeus estão relacionados com sua divulgação.
Você pode recordar-se que na Introdução, estabelecemos que uma vez que Abraão descobriu que uma única força conduzia o mundo, ele se apressou a contar a seus conterrâneos sobre sua descoberta. Ele não apresentou condições prévias; ele desejava partilhar seu conhecimento recentemente achado com todos. Acontece que, nem seu rei, Nimrod, nem o povo estavam prontos para aceitar a noção de que a força governante da vida era uma força de doação e que sua meta na vida, como dissemos no Capítulo 1, é de a revelar ao ser semelhante, ou até igual a ela. Os Babilônios do tempo de Abraão estavam demasiado preocupados em construir sua torre e tentar deificar as leis da Natureza.
Enquanto Abraão vagava pelo que agora é o Próximo e Médio Oriente no seu caminho a Canaã, ele reuniu na sua tenda, a princípio, todos aqueles que eram capazes de compreender suas noções, se comprometer à autotransformação do egoísmo à doação. Essas pessoas mais tarde se tornaram a nação de Israel, nomenclada segundo o desejo de alcançar diretamente o Criador.
E todavia, os quatro níveis da vida – inanimado, vegetativo, animal e falante – são uma constante. Eles devem ser atualizados na totalidade, e todos aqueles que fisicamente pertencem ao nível falante devem eventualmente alcançá -lo espiritualmente, também. O fato de que nem todos os Babilônios estavam prontos para se comprometer, a mudar a si mesmos no tempo de Abraão, não muda nada em termos do propósito final para o qual a raça humana existe. Assim, aqueles que estavam prontos e dispostos a se comprometer, se tornaram os “guardiões” do conhecimento, confiados em manter e nutri-lo para a posteridade.
No seu ensaio, “A Arvut (garantia mútua),” Baal HaSulam escreveu, “[O Criador disse] ‘Vós serei Meu Segulá [remédio/virtude] dentre todos os povos.’ Isto significa que vós sereis Meu remédio, e centelhas de purificação e limpeza do corpo passarão através de vós para todos os povos e nações do mundo. As nações do mundo ainda não estão prontas para isso, e preciso de pelo menos uma nação com que começar agora, pois ela será já como um remédio para todas as nações”. 94
Esta citação, acompanhada pelas palavras de Rabi Altar, citadas no princípio deste capítulo, “Os filhos de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação,” e juntas com as citações abaixo neste capítulo, deixam poucas dúvidas sobre a visão dos líderes espirituais Judeus durante as eras a respeito do papel pelo qual os Judeus existem no mundo.
Quando Moisés conduziu o povo de Israel para fora do Egito, ele pretendia primeiro e antes e acima de tudo lhes passar a lei que ele mesmo havia aprendido, a lei que Abraão havia aprendido antes dele. Sua meta era terminar, ou pelo menos avançar a missão que Abraão havia começado gerações antes. Rav Moshe Chaim Luzzatto, o grande Ramchal, escreveu sobre isso, “Moisés desejou completar a correção do mundo nessa altura. Foi por isso que ele juntou a multidão misturada [pessoas egocêntricas, sem desejos corrigidos], pois ele pensou que assim seria a correção do mundo que será feita no fim da correção … Contudo, ele não teve sucesso devido às corrupções que ocorreram no caminho.”95
Apesar das dificuldades, escreve Rabi Isaac Wildman, “Essa foi a oração e bênção de Moisés para a geração do deserto, que eles fossem o princípio da correção do mundo.”96
Todavia, o mundo não teve desejo de correção. As nações não estavam prontas para abdicar do amor-próprio e abraçar o altruísmo – dar – como sua principal qualidade. Então no entretanto, a nação Israelita continuou a “polir” sua própria correção esperando que o resto das nações estivessem prontas e dispostas. Nas palavras de Ramchal, “Vós deveis saber … que a Criação como um todo não será completada até que o todo da nação escolhida seja ordenada na ordem certa, completada em todas as suas decorações, com a Shechiná [Divindade] aderida a ela. Consequentemente, o mundo alcançará o estado completo. …Devemos chegar a um estado em onde a nação é totalmente complementada em todas as necessárias condições, e o todo da Criação recebe sua completude, e então o mundo será estabelecido permanentemente no estado corrigido.”97
Segue-se que a nação Israelita serve como um canal pelo qual a correção, nomeadamente a qualidade de doação, deve alcançar seus recipientes pretendidos: as nações do mundo. Em estilo eloquente, florido, o Rav Kook detalha como ele vê o papel dos Judeus a respeito do resto das nações. “Assim que a vocação de Israel, sendo a nação do Senhor, esteja presente, completa, aparente, duradoura e ativa no mundo, é um testemunho válido para o mundo para toda a posteridade complementar a forma da raça humana, a manter suas características, e a elevá-la pelos degraus da santidade adequados a ela … que o Senhor determinou. E uma vez que nossa própria vocação é permanecer sempre, acompanhando a vocação do todo da Natureza – cuja lei é completar todas as criações e as trazer ao ápice da perfeição – devemos guardá-la devotadamente pela vida de todos nós, que é mantida dentro dela, e pelo todo da humanidade e seu desenvolvimento moral, cujo destino depende do destino da nossa existência.”98
Como demonstrado na Introdução a este livro, o Rav Kook vai até tão longe ao dizer, “O movimento genuíno da alma Israelita na sua grandiosidade é expresso somente pela sua força sagrada e eterna, que flui dentro de seu espírito. É aquilo que a fez, e a faz, e a fará permanecer ainda uma nação que permanece como uma luz para as nações.”99
No seu livro, Ein Ayá [O Olho de Um Falcão], o Rav Kook acrescenta mais: “Dentro de Israel está uma santidade escondida de elevar o valor da própria vida através da Divindade que está presente em Israel. A alma nacional da Assembleia de Israel aspira pelo mais sublime e exaltado, agir na vida pelo valor mais exaltado e Divino, por esse mesmo valor que fará que nenhuma pessoa seja capaz de questionar, ‘Qual é o propósito desta tal vida’? Tendo visto a glória e a sublimidade da sua agradabilidade e magnificência. Em absoluta completude será ela completada dentro da casa de Israel, e a partir dela, ela brilhará para a terra e para o mundo inteiro, ‘para um convénio do povo, para uma luz das nações.’”100
Similarmente, Rabi Naftali Tzvi Yehuda Berlin (conhecido como “O TATZIV de Volojin”) escreveu, “Isaías o profeta disse, ‘Eu vos tomarei pela mão e vos manterei; Eu vos darei um convénio para o povo, uma luz para as nações,’ ou seja, para corrigir o convênio, que é a fé, para cada nação. Eles jogarão fora a fé em ídolos e acreditarão em um Deus. Certamente, o convênio com Abraão nosso Pai foi assinado sobre essa questão.”101
MISTURAR E MESCLAR
E ainda assim, como é que a correção fluirá para as nações? Se a nação de Israel se corrige a si mesma, como isso afetará a qualquer das outras nações?
Quando Abraão primeiro descobriu o Criador, ele descreveu-o a quem quer que escutasse, e aqueles que se juntavam a ele se tornavam as primeiras pessoas corrigidas. Essas pessoas então foram para o Egito e finalmente emergiram dele em números muito maiores, uma nação inteira, essa nação recebeu a Lei da Correção, nomeadamente a Torá, e se corrigiu a si mesma. No Primeiro Templo, a nação Judaica alcançou seu mais alto nível de conexão com o Criador, como demonstrado no capítulo anterior. A partir daqui, a nação começou a declinar até que seu povo foi exilado para Babel. Quando regressaram à Terra de Israel, a maioria da nação Judaica escolheu per manecer na Diáspora e se assimilar.
Certamente, é assim que a passagem da mensagem começou. Quando as pessoas que foram inicialmente corrigidas – que transcenderam o interesse pessoal e descobriram o Criador – se misturaram com aquelas que nunca tiveram tais pensamentos, aquelas ideias nobres começaram a se espalhar dentro da sociedade anfitriã e ajudaram a instigar pensamentos mais humanos nas mentes das pessoas. Enquanto esses pensamentos não corrigidos derivados das mentes que haviam transcendido o egoísmo, as noções de universalismo e humanismo independentemente se começaram a segurar às mentes das pessoas.
Certamente, durante o Renascimento, vários acadêmicos reconhecidos mantinham que os Gregos haviam adoptado pelo menos alguns dos seus conceitos do Judeus, neste caso especificamente da Cabalá. Johannes Reuchlin (1455-1522), por exemplo, o conselheiro político do Chanceler, escreveu em De Arte Cabalística (Sobre a Arte da Cabalá): “Independentemente, sua proeminência [de Pitágoras] não derivou dos Gregos, mas novamente dos Judeus. …Ele mesmo foi o primeiro a converter o nome Cabalá, desconhecido aos Gregos, no nome Grego filosofia.”102
Em 1918, um pastor Francês, Charles Wagner, foi citado como tendo escrito, “Nenhum dos nomes resplandecentes na história – Egito, Atenas, Roma – se consegue comparar à grandiosidade eterna de Jerusalém. Pois Israel deu à humanidade a categoria da santidade. Somente Israel conheceu a sede pela justiça social e essa santidade interior que é a fonte da justiça.”103
Mais recentemente, o historiador Cristão, Paul Johnson, escreveu em Uma História dos Judeus: “O impacto Judaico na humanidade foi proteico. Na antiguidade eles foram os grandes inovadores na religião e moral. Na Idade das Trevas e a inicial Europa medieval eles foram ainda um povo avançado transmitindo escasso conhecimento e tecnologia. Gradualmente eles foram empurrados da vanguarda e caíram para trás; no fim do século dezoito eles foram vistos como sujos e obscurantistas, retaguarda na marcha da humanidade civilizada. Mas então veio uma segunda explosão surpreendente de criatividade. Rompendo fora de seus guetos, eles uma vez mais transformaram o pensamento humano, desta vez na esfera secular. Muita mobília mental do mundo moderno é também de fabricação Judaica.”104
Similarmente, Em Os Presentes dos Judeus: Como uma Tribo de Nómadas do Deserto Mudou a Maneira Como Todos Pensam e Sentem, do autor Thomas Cahill, antigo diretor de publicações religiosas na Doubleday, descreve a contribuição dos Judeus para o mundo, que, na sua visão, começou durante o exílio na Babilônia. “Os Judeus originaram o tudo”, escreve ele, “e com ‘o’ pretendo dizer tantas muitas das coisas com que nos preocupamos, os valores subjacentes que perfazem todos nós, Judeu e Gentio, crente e ateu, funcionam. Sem os Judeus, veríamos o mundo através de olhos diferentes, escutaríamos com ouvidos diferentes, até sentiríamos sentimentos diferentes… Pensaríamos com uma mente diferente, interpretaríamos todas as nossas experiências diferentemente, tiraríamos diferentes conclusões das coisas que caem sobre nós. E definiríamos um percurso diferente para nossas vidas.”105
Curiosamente, alguns líderes Judeus reconhecidos também escreveram sobre o espalhar (e estragar) da sabedoria Judaica depois da ruína do Primeiro Templo. Rabi Shmuel Bernstein de Sochatchov, por exemplo, escreveu, “Os Gregos tiveram a sabedoria da filosofia, que se originou dos escritos de Rei Salomão que vieram à sua posse depois da ruína do Primeiro Templo. Contudo, eles foram estragados por eles com subtrações, adições, e substituições até que visões falsas se misturaram com eles. E ainda assim, a própria sabedoria é boa, mas as partes do mau se misturaram com ela.”106
Baal HaSulam escreveu similarmente em “A Sabedoria da Cabalá e a Filosofia”: “Sábios da Cabalá observam a teologia filosófica e queixam-se de que roubaram a casca superior de sua sabedoria, que Platão e seus predecessores haviam adquirido enquanto estudando com os discípulos dos profetas em Israel. Eles roubaram elementos básicos da sabedoria de Israel e usaram uma capa que não lhes pertence.”107
O LEGADO DOS JUDEUS
Os Judeus que permaneceram na Babilônia depois da ruína do Primeiro Templo desapareceram, não deixando rasto senão as noções que haviam transmitido aos seus anfitriões. Mais tarde, quando o Segundo Templo foi arruinado, o povo Judeu inteiro foi exilado e apresentou ao mundo os dois princípios que se tornariam a base de todas as três predominantes, apropriadamente denominadas religiões “Abrahamicas”: “Ama ao próximo como a ti mesmo”, e o “monoteísmo,” ou seja que há somente um Deus, uma força governadora no mundo. Estas noções são comparáveis ao sucesso da correção da humanidade porque quando entendidas corretamente, a anterior define o modo pelo qual alcançaremos a correção – através de amar os outros, e não parentescos, mas nossos próximos, ou seja estranhos. A última define a essência de nossa realização assim que estejamos corrigidos – a força singular da realidade.
Correspondentemente, o Professor T.R. Glover da Universidade de Cambridge escreveu em O Mundo Antigo, “É estranho que as religiões vivas do mundo sejam edificadas sobre ideias religiosas derivadas dos Judeus”.108 Similarmente, Herman Rauschning, Um Revolucionário Alemão Conservador que brevemente se juntou aos Nazis ant es de romper com eles, escreveu em A Besta do Abismo: “Judaísmo, independentemente … é um componente inalienável da nossa civilização Cristã Ocidental, o eterno ‘chamado a Sinai’ contra o qual a humanidade novamente se revolta”.109
O exílio do povo Judeu da Terra de Israel foi um longo processo pelo qual os Judeus, e desta forma os valores Judaicos, foram gradualmente absorvidos pelas suas nações anfitriãs. Yosef Ben Matityahu, melhor conhecido como Flavio Josefo, o historiador Judaico – Romano, descreve a expulsão dos Judeus pelos Romanos no princípio do exílio. Em As Guerras dos Judeus, Flavio escreve, “E como ele se recordou que a décima legião havia aberto caminho aos Judeus, sob Cestius seu general, ele os expulsou de toda a Síria, pois eles se haviam rendido anteriormente em Rafania, e os mandou embora para um lugar chamado Meletina, perto de Eufrates, que é nos limites da Arménia e Capadócia.”110
No Capítulo 3, Flavio elabora, “Pois enquanto a nação Judaica está amplamente dispersa por toda a terra habitada entre seus habitantes, também está ela muito misturada com a Síria, pela razão de sua vizinhança e tiveram as grandes multidões em Antioquia p ela razão da maior cidade, onde os reis, depois de Antíoco, os acolheram numa habitação com a maior tranquilidade sem incómodos.”111
Hoje, narra o autor Yaakov (Jacó) Leschzinsky em A Dispersão Judaica, que os Judeus espalharam pelo mundo todo e num ritmo surpreendente, “Quando esquadrinhamos a Diáspora da Judiaria pelo globo inteiro e pelo inteiro mundo civilizado,” escreve ele, “ficamos surpresos ao ver que esta nação, que é a mais antiga no mundo, é na verdade a mais jovem em termos da terra sob seus pés e o céu sobre sua cabeça. Devido às intermináveis perseguições e expulsões forçadas, maioria dos Judeus são nada mais que recentes novatos às suas respectivas terras de residência. Noventa por cento das pessoas Judias não viveram nos seus lares mais que cinquenta a sessenta anos! (Os Judeus) estão dispersos em mais de 100 terras de todos os cinco continentes.”112
Curiosamente, sua mistura com outras nações é precisamente o que foi necessário para completar as correções de Moisés. Embora seja verdade que, embora Israel sejam separados das outras nações, os princípios mencionados anteriormente no coração do Judaísmo não puderam ser tingidos, é também verdade que os Judeus tinham muito a ganhar do seu exílio entre as nações. É por isso que no Livro dos Salmos (106:35) nos conta que os Judeus foram exilados para “Se misturarem a si mesmos com as nações e aprenderem de suas ações”.
ADAM – O PRIMEIRO HOMEM, A ALMA COLETIVA
O ARI explica que na verdade, somos todos partes de uma única alma, conhecida aos Cabalistas como Adam HaRishon (o primeiro homem), e à maioria de todos os outros como Adam. O exílio, diz o ARI, ocorreu como uma continuação do processo de correção. Em Shaar HaPsukim [Portão aos Versículos], ele escreveu, “Adam HaRishon [Adam] incluiu todas as almas e incluiu todos os mundos. Quando ele pecou, todas essas almas caíram dele para as Klipót [cascas, formas de egoísmo], que se dividem em setenta nações. Israel deve se exilar lá, em toda e cada nação, e reunir os lírios das almas sagradas que haviam se espalhado entre esses espinhos, como nossos sábios escreveram no Midrash Rabá, ‘Porque foram Israel exilados entre as nações? Para acrescentar estranhos a si mesmos.’”113
Nesse respeito, O NATZIV de Volojin escreveu, “Seu princípio foi no Monte Ebal … mas eles completaram esta questão exaltada somente através do exílio e dispersão.”114
É por uma boa razão que o exílio é necessário para completar a correção dos Judeus, e daí em diante o mundo inteiro. Anteriormente dissemos que quando Abraão ofereceu o método de correção aos seus conterrâneos Babilônios, eles o rejeitaram porque estavam demasiado ocupados sendo egocêntricos e egoístas. E todavia, se todos somos partes de uma alma coletiva, como o ARI sublinhou, eventualmente todos nós teremos de alcançar correção, pela qual descobriremos o Criador e nos tornaremos como Ele. Este é o benefício, como descrito no Capítulo 2, que Ele pretendeu dar à humanidade.
Assim, a correção de Abraão foi somente o princípio do processo, certamente não o seu fim. Num ensaio longo e elaborado intitulado, “E Eles Construíram Cidades- Armazém”, Baal HaSulam escreve, “Devemos também compreender o que Abraão o Patriarca perguntou, ‘Onde saberei eu que o herdarei’’ (Génesis 15:8)? O que respondeu o Criador? Está escrito, ‘E Ele disse para Abraão: Sabei com uma certeza que tua semente será estranha numa terra que não lhe pertence’”.115 Baal HaSulam explica que com esta resposta, o Criador promete a Abraão que todas as pessoas alcançaram correção através da mistura da nação corrigida – Israel – com as nações não corrigidas – neste caso representadas pelo Egito.
Surpreendentemente, em resposta a esta questão, o Criador promete a Abraão exílio. E não somente isso, escreve Baal HaSulam, que Abraão “…o aceitou como uma garantia da herança da terra”.116 Certamente, Abraão sabia que a mistura dos desejos – representada pelas diferentes nações do mundo – era necessária em prol de completar a correção da humanidade. Considerando que cada uma das nações representa uma parte da alma a ser apresentada ao método da correção e que essa parte da alma eventualmente o adote. Foi por isso que Israel teve de ser exilada e se espalhar pelo mundo.
Como parte da expansão do processo de correção na humanidade, Abraão foi para o exílio no Egito, onde sua tribo havia se tornado uma nação. E quando a nação se exilou depois da ruína do Primeiro e Segundo Templos, ela apresentou o método de correção ao mundo inteiro.
Embora o método claramente não tivesse sido adotado pelo resto da humanidade, ele independentemente plantou os princípios já mencionados, princípios que formam uma base comum sobre a qual iniciar o processo de correção assim que as pessoas o comecem a procurar.
Em “A Arvut [Garantia Mútua], “Baal HaSulam detalha o processo pelo qual a nação Israelita corrige a si mesma primeiro, de modo a transmitirem a correção ao resto das nações. Por outras palavras, “Rabi Elazar, filho de Rashbi (Rabi Shimon Bar-Yochai), clarifica este conceito da Arvut ainda mais. Não é suficiente para ele que todos de Israel sejam responsáveis uns pelos outros, mas que o mundo inteiro está incluído nessa Arvut.
…Cada um admite que para começar, é suficiente começar com uma n ação com a observação da Torá [lei da doação} para o princípio da correção do mundo. Foi impossível começar com todas as nações de uma vez, como eles dizem que o Criador foi com a Torá a cada nação e língua, e eles não a quiseram receber. Por outras palavras, eles estavam imersos em … amor próprio … até que foi impossível conceber nesses dias sequer questionar se eles concordavam se retirar do amor próprio.
“…Mas o fim da correção do mundo será somente ao trazer todas as pessoas do mundo sob Sua obra, como está escrito, ‘E o Senhor será Rei sobre toda a terra; nesse dia será o Senhor Um, e Seu nome um’ (Zacarias, 14:9) … ‘E todas as nações fluirão para ele’ (Isaías, 2:2).
“Mas o papel de Israel para o resto do mundo se assemelha ao papel de nossos Sagrados Pais para a nação Israelita. Tal como a retidão de nossos pais nos ajudou a desenvolver e purificar para nos tornarmos dignos de receber a Torá [lei da doação] … cabe à nação Israelita se qualificar a si mesma e a todas as pessoas do mundo através de Torá e Mitzvot [correções do egoísmo], para se desenvolverem até que eles tomem sobre si mesmos esse trabalho sublime do amor aos outros, que é a escada para o propósito da Criação, sendo Dvekút [similaridade/ equivalência de forma] com Ele”.117
Similarmente, no seu ensaio, “Uma Criada que É Herdeira a Sua Senhora”, Baal HaSulam escreve, “O povo de Israel, que foi escolhido como um operador do propósito geral e correção … contém a preparação necessária para crescer e se desenvolver até que ele movimente as nações dos mundos, também, para alcançarem a meta comum.”118
Baal HaSulam e seu filho, o Rabash podem ter sido os últimos Cabalistas a afirmar que o papel de Israel no mundo é trazer o método de correção ao resto das nações, mas certamente não foram os primeiros. Incontáveis rabinos, Cabalistas e acadêmicos, desde praticamente a ruína do Segundo Templo, o afirmaram em semelhança.
Assim, o Midrash Rabá afirma que “Israel trazem a luz ao mundo”, 119 e o Talmude Babilônico acrescentou, “O Criador agiu em retidão para Israel, os tendo dispersado entre as nações”.120 Rabi Yehuda Altar, o ADMOR de Gur escreveu, “Qualquer exílio no qual os filhos de Israel entre é somente para suscitar centelhas sagradas dentro das nações [semelhante às palavras acima citadas de Baal HaSulam]. Os filhos de Israel são os garantidores de que receberam a Torá em prol de corrigir o mundo inteiro, as nações, também.”121
Similarmente, Rabi Hillel Tzaitlin escreve, “Se Israel é a verdadeira redentora do mundo inteiro, ela deve ser digna dessa redenção. Israel deve primeiro redimir sua própria alma, a santidade da sua alma, a santidade da sua Shechiná [Divindade].
…Para esse propósito, desejo estabelecer com este livro a ‘união de Israel’ … Se fundada, a unificação de indivíduos será pelo propósito de ascensão interior e uma invocação para correções de todos os males da nação e do mundo.”122 Gostaria de concluir este capítulo com mais algumas palavras de Baal HaSulam, que em alguns parágrafos detalha o propósito da Criação, o direito da humanidade a ele, e o papel de Israel para alcança-lo. Nas suas palavras: “Porque foi a Torá dada à nação Israelita sem a participação de todas as nações do mundo? Na verdade, o propósito da Criação aplica-se à raça humana inteira, nenhu m excluído. Contudo, devido À baixeza da natureza da Criação [sendo egoísta] e seu poder sobre as pessoas, foi impossível que as pessoas compreendessem, determinassem e concordassem se elevar acima dela. Eles não demonstraram o desejo de abdicar do amor próprio e chegar a equivalência de forma, que é adesão com Seus atributos, como nossos sábios disseram, ‘Como Ele é misericordioso, tu sê misericordioso também’.
“Assim, devido a seu mérito ancestral [os exemplos dados por Abraão, Isaac e Jacó], Israel tiveram sucesso … e se tornaram qualificados e se sentenciaram a si mesmos a uma escala de mérito [se corrigiram a si mesmos a se tornarem como o Criador]. Todo e cada membro da nação concordou amar seu semelhante [que é como eles alcançaram a correção].
“…Contudo, a nação Israelita era para ser uma ‘transição’ ou seja que à extensão que Israel purificam a si mesmos ao manter a Torá [leis da doação], eles passam seu poder ao resto das nações. E quando o resto das nações também se sentenciam a si mesmas a uma escala de mérito [se corrigirem a si mesmas ao abdicar do egoísmo], o Messias [correção final] será revelado. É por isso que o papel do Messias não é de qualificar somente Israel à meta derradeira de adesão com Ele, mas ensinar os caminhos de Deus [doação] a todas as nações, como está escrito, ‘E todas as nações fluirão para Ele.’”123
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” As Raízes do Antissemitismo No decorrer da história, nunca houve uma nação mais perseguida que os Judeus. No decorrer da história, nunca uma nação sobreviveu a toda e cada perseguição e emergiu cada vez…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
No decorrer da história, nunca houve uma nação mais perseguida que os Judeus. No decorrer da história, nunca uma nação sobreviveu a toda e cada perseguição e emergiu cada vez mais forte.
A aparente indestrutibilidade dos Judeus levantou muitas perguntas, claramente mais entre não-Judeus que entre Judeus, pois os Judeus estavam demasiado preocupados com a sobrevivência. O reconhecido escritor Alemão, Johann Wolfgang von Goethe, exprimiu seu espanto com a tenacidade dos Judeus no seu livro, Wilhelm Meisters Lehrjahre [A Aprendizagem de Wilhelm Meister]: “Cada Judeu, não importa quão insignificante, está envolvido em certa decisiva e imediata perseguição de uma meta… É o povo mais perpétuo na terra.”124
Semelhante a Goethe, o professor de Cambridge, T.R. Glover, sublinha o enigma da existência Judaica em O Mundo Antigo: “Nenhum povo da antiguidade teve uma história mais estranha que os Judeus… A história de nenhum povo antigo deve ser tão valiosa, se a pudéssemos ao menos recuperar e compreender. …Mais estranha ainda, a antiga religião dos Judeus quando todas as religiões de cada raça antiga do mundo pré-Cristão desapareceram … A questão não é ‘O que aconteceu’? Mas, ‘Porque aconteceu’? Porque vive o Judaísmo”?125
Similarmente, Ernest van den Haag, professor de Jurisprudência e Política Pública na Universidade de Fordham, escreveu, “Num mundo onde os Judeus são somente uma minúscula percentagem da população, qual é o segredo da importância desproporcional que os Judeus tiveram na história da cultura ocidental?”126
O matemático, físico, inventor e filósofo Francês Blaise Pascal, era fascinado com a antiguidade do povo Judaico. No seu livro, Pensees, ele escreveu, “Este povo não é eminente somente pela sua antiguidade, mas são também singulares pela sua duração, que sempre continuou da sua origem até agora. Pois, enquanto as nações da Grécia e da Itália, de Lacedemônia, de Atenas e de Roma, e outras que vieram muito depois, há muito pereceram, estes permanecem sempre, e apesar dos empreendimentos de muitos Reis poderosos que tentaram uma centena de vezes os destruir…eles foram independentemente preservados.”127
Certamente, como inumeráveis indivíduos reconhecidos durante as eras anotaram, os Judeus não conseguem ser aniquilados. Os Judeus têm uma missão para concretizar, e até que o façam, a Natureza, Deus, o Criador, Jeová, ou como quer que escolha O chamar, não o deixará acontecer. E todavia, enquanto os Judeus continuam evitando assumir sua tarefa pretendida, eles certamente podem, e foram, e serão torturados e mortos praticamente até à extinção. Para desenterrar as raízes da Via Dolorosa Judaica durante a história, precisamos de viajar para trás no tempo para o começo da Criação.
No Capítulo 2 tomamos nota que o Criador tem senão um desejo – fazer o bem às Suas criações, nomeadamente a nós humanos. Mas porque presentemente não temos percepção d’Ele, não conseguimos receber d’Ele.
Quando queremos dar um presente a um amigo, aproximamo -nos desse amigo e lhe damos. Tem que haver contato entre o dador e o receptor. De igual modo, para que Ele nos dê, o Criador e a Criação têm que se conectar. E na conexão, como citamos Baal HaSulam, “Sente-se o maravilhoso benefício contido no Pensamento da Criação, que é deleitar Suas criaturas com Sua completa, boa e generosa mão. Devido à abundância do benefício que um alcança, maravilhoso amor aparece entre uma pessoa e o Criador, incessantemente derramando sobre a pessoa pelas próprias rotas e canais através dos quais o amor natural aparece. Contudo, tudo isto vem a uma pessoa a partir do momento em que ela alcança e daí em diante.”128
Isto, dissemos no Capítulo 2, suscita a necessidade de “equivalência de forma,” ou seja, ser como o Criador, ter uma natureza de dar. Lamentavelmente, a vasta maioria de nós não tem desejo por isso; veementemente nos ressentimos de dar a menos que tenhamos lucro subjacente, um motivo anterior para o fazer. RASHI, o grande comentador sobre a Bíblia, escreveu que o versículo, “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude” (Génesis 8:21), significa que “Assim que se é agitado para fora do ventre de sua mãe, Ele [o Criador] planta nele a inclinação ao mal,” a qual, como dito no Capítulo 3, é egoísmo, o desejo de recebermos para nós mesmos.
Desta forma, considerar que o Criador é benevolente e que nós somos opostos, a colisão entre o homem e Deus parece inevitável. Como alguma vez O podemos alcançar se Ele nos fez naturalmente opostos a Ele? O remédio do egoísmo reside no que descrevemos anteriormente como “o ponto no coração”. Essa sede de compreender do que se trata a vida, e sobre o que faz o mundo girar (e não é dinheiro), é o anseio que permitiu a Adam, Abraão e seus descendentes, Moisés, e a nação inteira que surgiu dos exila dos da Babilônia, a desenvolver um método de correção que torna a inclinação do mal em bondade.
SÍMBOLOS DE UMA COLISÃO INTERNA
Uma pessoa pode argumentar se a Bíblia, o Antigo Testamento, é uma documentação histórica genuína de eventos. Mas os grandes sábios de Israel durante as eras não tinham preocupação pela relevância histórica da Bíblia. Em vez disso eles viam-na como uma alegoria que retrata os processos internos espirituais que se experimenta durante o caminho da correção. Para eles, Nimrod, rei da Babilônia, representa meridá [Hebraico: rebelião], desafio contra a qualidade de doação o Criador; Faraó significa a epítome da inclinação ao mal e também Hamã, embora numa fase tardia do nosso desenvolvimento espiritual.
É por isso que RASHI interpreta o Talmude Babilônico como se segue: “Seu nome era Nimrod pois ele himrid [incitava] o mundo inteiro contra o Senhor”.129
A respeito de Faraó, Maimônides explica afetuosamente, “Vós deveis saber, meu filho, que Faraó, o rei do Egito, é na realidade a inclinação ao mal”130 Similarmente, Elimelech de Lizhensk, do autor de Noam Elimelech (A Agradabilidade de Elimelech), escreveu simplesmente, “…Faraó, que é chamado ‘a inclinação ao mal.’”131
Rabi Jacob Joseph Katz acrescentou profundidade à distinção a respeito de Faraó. Ele acrescentou que as palavras, “Faraó havia deixado o povo ir” (Êxodo 13:17), designam a fase no nosso desenvolvimento espiritual em que uma pessoa se liberta dos pesados grilhões da inclinação ao mal. Nas suas palavras, “‘E quando Faraó havia deixado o povo ir’ – quando os nossos órgãos escapam à autoridade da inclinação ao mal, como durante o êxodo do Egito, eles saem dos quarenta e nove portões de Tum’á [impureza, egoísmo] para a santidade [doação]”.132
Dentro do mesmo livro, Rabi Katz acrescenta suas visões a respeito de Hamã: “A instrução de Hamã de fazer uma forca de cinquenta cúbitos de altura é o conselho da inclinação ao mal”.133 Similarmente, Rabi Jonathan Eibshitz escreve no seu livro Yaarot Devash [Colméias] sobre “Hamã, que é a inclinação ao mal…”134
Mais recentemente, Cabalistas e acadêmicos Judaicos começaram a sentir que o tempo era fugidio e que a Era da Correção se aproximava. Eles começaram a acrescentar chamados implícitos e por vezes explícitos para a ação nas suas palavras. Assim, Rav Yehuda Ashlag, sentindo que a aplicação do método de correção era urgentemente necessária, fez um elo direto entre superar a inclinação ao mal e o modo como deve ser alcançado hoje – através de união. Num ensaio intitulado, “Há Um Certo Povo”, Baal HaSulam conta-nos, “‘Há um certo povo espalhado no estrangeiro e disperso entre os povos.’ Hamã disse isso na sua visão, que nós [o povo de Hamã] teremos sucesso em destruir os Judeus porque eles estão separados uns dos outros, então nossa força contra eles certamente prevalecerá, porque isto [separação entre eles] causa separação entre o homem e Deus.”135 Isto é, o egoísmo dos Judeus os separa da qualidade de doação, o Criador, então a força do ego, a inclinação ao mal, “certamente prevalecerá”. “É por isso que,” continua Baal HaSulam, “Mordecai foi para corrigir esse defeito, como é explicado no versículo, ‘Os Judeus se reuniram…’ para se reunirem a si mesmos, e para defender suas vidas. Isto significa que eles se haviam salvo ao se unirem’.”136
Podemos desta forma concluir que quer Nimrod, Faraó, Balaque ou Hamã tivessem na realidade existido ou não é de importância menor. O que é importante é que os traços retratados por estes personagens existem dentro de nós e a Bíblia só narra alegoricam ente as fases pelas quais os podemos superar.
Quando prevalecemos sobre essas qualidades de egoísmo, somos recompensados com a redenção – a qualidade de doação, a equivalência de forma com o Criador. E porque o Criador nos deseja fazer bem, assim que tenhamos corrigido estes traços dentro de nós, eles não nos assombrarão mais, uma vez que fomos redimidos do egoísmo e adquirimos Sua qualidade de doação.
Se qualquer um destes exemplos de egoísmo vivesse hoje, certamente os categorizaríamos como anti- Semitas da pior espécie. Para esse efeito, o Rav Kook fez uma previsão ameaçadora (e verdadeira) enquanto traçando um elo direto entre os antissemitas modernos e os bíblicos. Numa afirmação algo pouco ortodoxa ele escreve, “Amaleque, Petlura [Líder ucraniano suspeito de ser antissemita], Hitler, e assim por diante, despertaram por redenção. Aquele que não escutou a voz do primeiro Shofar [um símbolo do chamado para a redenção], ou a voz da segunda … pois suas orelhas estavam bloqueadas, escutará a voz do Shofar impuro, o imundo [não kosher]. Ele escutará contra sua vontade.”137
DOIS CAMINHOS – UM DOCE, UM DOLOROSO
O estado da redenção completa – a realização do Criador por toda a humanidade – é mandatária. Baal HaSulam diz que há dois caminhos pelos quais a conseguimos alcançar: o caminho da Torá, quando voluntariamente adoptamos a lei da doação como nosso modo de vida, ou o caminho do sofrimento, onde a realidade nos impele a independentemente adotar a Lei da Doação como nosso modo de vida.138
Por muito compulsórias as palavras desses dois sábios contemporâneos possam soar, elas repousam sobre uma base sólida. O Talmude escreve, “Rabi Eliezer diz, ‘Se Israel se arrependem, eles são redimidos. Se não, eles não são redimidos.’ Rabi Yehoshua disse para eles, ‘Se eles não se arrependem, eles não são redimidos, mas o Senhor colocará sobre eles um rei cujos decretos são tão duros como os de Hamã, Israel se arrependerá, e Ele os reformará’.”139
Até nessa ocasião importante no sopé do Monte Sinai, quando coletivamente recebemos a Torá com um espetáculo espetacular audiovisual, aparentemente não foi tão alegre ou tão festivo como foi descrito. O Talmude conta-nos que as circunstâncias foram tais que não houve muito mais que pudéssemos fazer senão a receber. Na terminologia de hoje, diríamos que o Criador nos deu uma oferta que não podíamos recusar: “Está escrito, ‘E eles estiveram no fundo da montanha’. Rav Dimi Bar Hamã disse que isso significa que o Senhor forçou a montanha sobre Israel como um cofre, e disse para el es: ‘Se vós aceitais a Torá [Lei da Doação], muito bem, mas se não, lá será vossa sepultura’.”140
Certamente, ninguém disse que é fácil ter a primogenitura. Mas os Judeus, os descendentes do clã de Abraão, são precisamente isso. Eles foram os primeiros a alcançar o propósito da Criação; assim, cabe-lhes naturalmente a eles conduzir o caminho para o resto da humanidade. Enquanto evitarmos essa tarefa, encontraremos rejeição por todas as nações.
OS MÉDICOS DO MUNDO
Imagine que descobriu uma série de exercícios que podem curar o câncer e o prevenir de alguma vez regressar. Imagine que havia contado ao mundo sobre isso, como Abraão o fez na Babilônia, mas foi rejeitado porque os exercícios eram monótonos e cansativos e ninguém realmente se sentia indisposto.
Agora imagine que anos mais tarde, biliões de pessoas pelo mundo têm câncer. Elas vagamente se recordam que você disse que tinha uma cura, e que no seu desespero elas voltam-se para você, rogando que lhes salve as vidas. Mas você se esqueceu completamente disso. Você sabe que a cura existe, você sabe que muitas pessoas disseram que era um remédio poderoso (Segulá), mas uma vez que se sente forte e saudável, não vê razão porque deve reaprender esses exercícios, muito menos os ensinar a biliões de pessoas. Pode imaginar como o mundo se sentiria acerca de você, o que as pessoas pensariam, e o que fariam elas?
É precisamente aqui que os Judeus se encontram em relação ao mundo. O mundo está começando a se sentir indisposto e as pessoas estão começa ndo a procurar uma saída da sua miséria. Elas sabem que somos o povo escolhido, e que somos aqueles que se supõe trazer a redenção. As pessoas podem não saber que a redenção envolve mudar sua natureza para a doação, mas elas sabem que a redenção é desejável.
Tais versículos do Novo Testamento como “Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação é dos Judeus”,141 e “Que vantagem tem o Judeu? …Grande de todas as maneiras. Primeiro de tudo, a eles foram confiados com os oráculos de Deus”,142 são somente duas das incontáveis menções da posição e papel únicos do papel, como descrito pelos escritos Cristãos. Quando não levamos a cabo nossa missão, inadvertidamente nos aproximamos do perigo e ódio, que se traduzem no que agora conhecemos como antissemitismo.
Que somos diferentes e únicos está documentado na história, nas páginas das nossas escrituras, naquelas do Cristianismo e do Islão, e nos escritos de uma miríade de acadêmicos e estadistas. Abaixo estão alguns dos inumeráveis excertos de indivíduos bem conhecidos exprimindo suas visões sobre a singularidade dos Judeus:
Winston Churchill, Primeiro Ministro do Reino Unido durante a 2ª Guerra Mundial: “Algumas pessoas gostam dos Judeus, e algumas não. Mas nenhum homem preocupado consegue negar o fato de que eles são, além de qualquer questão, a raça mais formidável e mais marcante que apareceu no mundo.”143
Lyman Abbott, um Congressista Americano, teólogo, editor e escritor “Quando por vezes nossos preconceitos não cristãos se inflamam contra o povo Judeu, recordemo- nos que todos nós temos e tudo o que devemos, sob Deus, ao que o Judaísmo nos deu.”144
Huston Smith, um professor de estudos religiosos nos Estados Unidos, autor de As Religiões do Mundo, que vendeu mais de duas milhões de cópias: “Há um ponto chocante que corre pela história Judaica como um todo. A civilização ocidental nasceu no Médio Oriente, e os Judeus estavam na sua encruzilhada. No apogeu de Roma, os Judeus eram próximos do centro do Império. Quando o poder derivou para o leste, o centro Judaico era na Babilônia; quando ele saltou para Espanha, lá novamente estavam os Judeus. Quando na Idade Média o centro da civilização se moveu para a Europa Central, os Judeus esperavam por isso na Alemanha e Polônia. O levantar dos Estados Unidos para conduzir o poder mundial encontrou o Judaísmo lá concentrado. E agora, hoje, quando o pêndulo parece balançar de volta ao Mundo Antigo e o Oriente se levanta para importância renovada, lá novamente estão os Judeus em Israel…”145
Liev Tolstói, o romancista Russo, autor de Anna Karenina: “O que é um Judeu? Que espécie de criatura única é que todos os governantes de todas as nações do mundo desgraçaram e esmagaram e expeliram e destruíram, perseguiram, queimaram e afogaram, e que, apesar de sua cólera e sua fúria, continua a viver e florescer. O que é este Judeu que eles nunca tiveram sucesso em atiçar com todos os atiçamentos no mundo, cujos opressores e perseguidores só sugeriram que ele negue (e renegue) sua religião e lance para o lado a lealdade aos seus antepassados?!
“O Judeu é o símbolo da eternidade. …Ele é aquele que há muito guardou a mensagem profética e a transmitiu a toda a humanidade. Um povo tal como este nunca pode desaparecer. O Judeu é eterno. Ele é a incorporação da eternidade.”146
Certamente somos o símbolo da eternidade, como Tolstói disse porque a qualidade de benevolência do Criador está nos nossos “genes espirituais”. E todavia, não seremos deixados em paz até que, como no exemplo com o câncer e o exercício curativo, conscientemente nos elevemos a nós mesmos ao nível espiritual e elevemos o todo da humanidade imediatamente posteriormente.
Como foi afirmado e acima citado, agora é a hora da correção geral. Em tal tempo, os eventos tornam-se inclusivos, globais. Tal como foi o caso com a 1ª Guerra Mundial, e tanto quanto o mais com a 2ª Guerra Mundial, as atrocidades da qual estão embutidas na nossa memória coletiva para nos recordar quem nós somos, e o que é suposto que concretizemos.
Para evitar tais cataclismos no futuro, precisamos de ter uma observação cuidada em algumas sugestões e afirmações dadas anteriores, e posteriores ao Holocausto. O próximo capítulo sublinhará essas afirmações e sua pertinência a nossas vidas hoje. Assim que saibamos o que foi dito, seremos capazes de valorizar o que precisamos de fazer para nos ajudarmos a nós mesmos e ajudar o mundo.
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” Antissemitismo Contemporâneo No Capítulo 1, dissemos que Abraão descobriu que a natureza humana de egoísmo inerente é uma tendência constante de expressão. O método que ele concebeu não se dirigia a refrear esse egoísmo…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
No Capítulo 1, dissemos que Abraão descobriu que a natureza humana de egoísmo inerente é uma tendência constante de expressão. O método que ele concebeu não se dirigia a refrear esse egoísmo porque ele sabia que isto era impossível, pois o homem foi criado para receber ilimitadamente. Sua questão, desta forma, era de como receber esse tesouro pretendido. Abraão descobriu um método onde, ao estudar e almejarem se unir, as pessoas subiam a um novo nível de percepção. Assim, elas adquiriam a natureza do Criador–benevolência–e podiam deste modo receber esse prazer ilimitado sem se tornarem demasiado indulgentes e perigosas para si mesmas ou para o meio ambiente.
O êxodo do Egito e a formação da nação de Israel marcou uma fase de uma formação de cinco séculos. Durante esse tempo, Israel foram de ser um grupo feito de família e estudantes a uma nação inteira cuja meta era alcançar o Criador.
Enquanto tentando subir ao mais alto nível espiritual, os Hebreus nunca recuaram de sua intenção original, oferecer suas percepções ao todo da humanidade. Esta seria sua contribuição para as nações, a “luz” que supostamente eles deveriam dar. Através das gerações, esse presente da “luz” é o que as nações têm tentado receber dos Judeus, e a carência da qual tem sido a causa de nossas aflições pela s nações.
No prólogo a este livro, Uma História dos Judeus, o romancista e historiador Cristão, Paul Johnson, eloquentemente descreve as questões que conduziram Abraão a suas descobertas, as mesmas questões que conduzem a humanidade até este dia. Johnson retrata sua reverência pela habilidade dos Judeus de descobrirem as respostas a essas perguntas, viverem por suas leis consequentes e seus esforços de as ensinarem aos outros. Nas suas palavras, “O livro deu -me a chance de reconsiderar objetivamente, na luz de um estudo cobrindo praticamente 4000 anos, a mais intratável de todas as perguntas humanas: para que estamos nesta terra? É a história meramente uma série de eventos cuja soma é a insignificância? Não há diferença fundamental moral entre a história da raça humana e a história de, digamos, as formigas? Ou há um plano providencial de porque somos, embora humildemente, os agentes? Nenhum povo alguma vez insistiu mais firmemente que os Judeus que a história tem um propósito e que a humanidade tem um desti no. Numa fase muito inicial da sua existência coletiva eles acreditavam que haviam detectado um esquema divino para a raça humana, do qual sua própria sociedade seria um piloto. Eles representaram seu papel em imenso detalhe. Eles seguraram-se a ele com persistência heroica em face de sofrimento selvagem. Muitos deles ainda acreditam nele. Outros o transmutaram para empreendimentos de Prometeu de elevar nossa condição por meios puramente humanos. A visão Judaica tornou – se o protótipo para muitos semelhantes grandes desígnios para a humanidade, tanto divinos como fabricados pelo homem. Os Judeus, desta forma, encontram-se precisamente no centro da tentativa perene de dar à vida humana a dignidade de um propósito.”147
OS ESCRITOS NO MURO
E todavia, no começo do século XX, os Judeus haviam crescido tão longe da sua pretendida vocação que eles ou se tornaram absolutamente preocupados com meticulosa observação dos mandamentos práticos, se esquecendo ou rejeitando seu significado interno, ou totalmente absortos em desejos mundanos e materiais, se esquecendo ou rejeitando sua vocação irrevogável. Num tempo em que o egoísmo atingiu níveis que ameaçaram a paz mundial, nenhuma das avenidas era desejável, e alguns dos grandes líderes espirituais da nação começaram a alertar que o tempo era fugidio, que tínhamos de despertar para nossa missão e a levar a cabo antes que a calamidade se revelasse.
O grande acadêmico humanista, e Cabalista, Rav Avraham Yitzhak HaCohen Kook, desesperadamente tentou alertar os Judeus do crescente antissemitismo. Ele alertou-os que nenhum país no mundo seria seguro para eles, e que Israel era a única opção segura. Em retrospectiva, o conteúdo de sua premonição é alarmante, nos dando um vislumbre nas profundezas da clareza de visão de tais pessoas. O tratado no qual ele suplicou aos Judeus que viessem para Israel foi chamado, “O Grande Chamamento pela Terra de Israel”. Tome nota não só de seu pedido, mas também do seu aviso a respeito do futuro possível dos Judeus nas suas pátrias: “Venham para a terra de Israel, doces irmãos, venham para a terra de Israel. Salvem nossas almas, as almas das nossas gerações, e a alma de nossa nação inteira. Salvem-na da desolação e do esquecimento; salvem-na da decadência e degradação; salvem-na da sujidade e maldade, de cada problema e peste que possa cair em todos os países das nações sem exceção.
“‘Venham à terra de Israel’! Clamaremos com uma alta e terrível voz, com o som do trovão e uma grande voz, uma voz que agita tempestade e abala os céus e a terra, uma vez que rasga toda a parede no coração. Corram por vossas vidas e venham para a terra de Israel. A voz do Senhor nos chama, Sua mão está esticada para nós, Seu espírito está nos nossos corações, e Ele reúne-nos, encoraja-nos e impele- nos a clamar alto com uma terrível e poderosa voz: ‘Nossos irmãos, filhos de Israel, queridos e amados irmãos, venham para a terra de Israel. Reúnam-se um a um, não esperem palavras e ordens formais; não esperem permissões dos reconhecidos. Façam o que puderem, fujam e reúnam-se, venham para a terra de Israel. Pavimentem o caminho para nossa amada e oprimida nação. Mostrem-lhe que seu caminho já está pavimentado, esticado perante ela. Ela não deve repousar, ela não nada que exigir; ela não tem muitos caminhos e rotas. Há um caminho perante ela, e é este aquele em que ela marchará; é aquele que ela deve marchar, especificamente para a terra de Israel”.”148
O Rav Kook não estava só na sua preocupação. Na Polônia, um brilhante e jovem dayan (juiz ortodoxo) em Varsóvia – no tempo da maior e mais proeminente comunidade Judaica na Europa – Rav Yehuda Ashlag, que mais tarde se tornou um comentador reconhecido sobre O Livro do Zohar, não se contentou apenas em anunciar publicamente que todos os Judeus devem fugir da Europa. Ele organizou a compra de 300 cabanas de madeira da Suécia e um lugar para eles serem erguidos na Terra de Israel (que era então chamada “Palestina”).
Mas eis que, seu plano foi impedido pela oposição dos líderes da congregaçã o Judia na Polônia. A consequência trágica do fracasso de Ashlag de trazer seus companheiros Judeus com ele foi de todos os Judeus que contemplaram vir com Ashlag, somente Ashlag e sua família eventualmente emigraram. O resto das famílias permaneceu na Polônia e pereceu no Holocausto.149
Tanto o Rav Kook e Rav Ashlag (Baal HaSulam) exprimiram como eles perce biam a subida do Nazismo ao poder, e especificamente Hitler. Mantendo em mente que Rav Kook morreu em 1935, quatro anos antes que 2ª Guerra Mundial irr ompesse. Abaixo estão as palavras editadas de Rav Kook (para as tornar mais amigáveis ao leitor, devido ao tamanho do texto e seu estilo anacrônico), seguidas das palavras de Baal HaSulam.
O profeta previu um grande Shofar da redenção. [Um Shofar é um chifre de carneiro usado para o sopro festivo, mas também um clarim]. Oramos especificamente pelo sopro do grande Shofar. Há vários graus num Shofar da redenção – um grande Shofar, um Shofar médio e um pequeno Shofar. O Shofar do Messias é considerado o Shofar de Rosh Hashaná [A Noite de Fim de Ano Judia]. A Halachá [Lei Judaica] distingue entre três graus no Shofar de Rosh Hashaná: 1) Um Shofar de Rosh Hashaná que é feito de um chifre de carneiro; 2) Em retrospectiva, todos os Shofarot são kosher, 3) Um Shofar de uma besta impura, bem como um Shofar de bestas de idolatria de um gentio não-kosher. Contudo, se um homem soprou tal Shofar, fez o seu dever.
É permitido soprar qualquer Shofar, kosher ou não, desde que um não abençoe sobre ele, e os graus explicados na lei do Shofar de Rosh Hashaná coincidem com os graus do Shofar da redenção.
Todavia, o que é um Shofar da redenção? Pelo termo, “Shofar do Messias,” referimo-nos ao despertar e confiança que causam a reanimação e redenção do povo de Israel. É este despertar que reúne os perdidos e os rejeitados, e os trás para a montanha da santidade em Jerusalém.
Durante as gerações, houveram aqueles em Israel que sentiram o despertar que deriva do desejo de fazer a vontade de Deus, que é a redenção completa de Israel [trazer todos de Israel à qualidade de doação]. Este é o delicado e grande Shofar, o desejo do povo ser redimido.
Por vezes o desejo esmorece e o zelo pelas noções sublimes da santidade não é tão fervente. Contudo, a natureza humana saudável permanece, e desencadeia um simples desejo na nação para estabelecer seu governo na sua terra. Esse desejo natural é o Shofar médio, comum, que está presente em todo o lugar. Esse, também, é ainda um Shofar kosher.
Porém, há um terceiro grau ao Shofar do Messias, que independentemente é comparável ao Shofar de Rosh Hashaná: ele é o Shofar pequeno, não-kosher, que é soprado somente se um Shofar kosher não puder ser encontrado.
Assim, se o zelo pela santidade e anseio pela redenção que derivam dele desapareceram por completo, e se o desejo natural nacional por uma vida nacional diminuiu, também, e nenhum Shofar kosher se encontre pelo qual soprar, os inimigos de Israel vêm e sopram nos nossos ouvidos pela nossa redenção. Eles forçam-nos a escutar a voz do Shofar; eles alertam e chocalham nos nossos ouvidos, e não nos dão repouso no exílio.
[Esta parte está citada em completo]. “Assim, o Shofar da besta imunda torna-se o Shofar do Messias. Amaleque, Petlura [Líder Ucraniano suspeito de ser antissemita], Hitler, e assim por diante, despertam pela redenção. Aquele que não escutou a voz do primeiro Shofar, ou a voz do segundo … pois seus ouvidos estavam bloqueados, escutará a voz do Shofar impuro, o imundo [não- kosher]. Ele escutará contra sua vontade. …Embora haja redenção nesse chicote, também, nos apuros dos Judeus, um não deve abençoar sobre tal Shofar.150
Baal HaSulam, também, fez várias referências ao Nazismo, incluindo como ele acreditava que ele podia ser derrubado. Nas suas palavras, “É impossível derrubar o Nazismo senão através de uma religião de altruísmo.”151
Tome nota que quando Baal HaSulam fala de “religião de altruísmo,” ele não pretende dizer que devemos realizar certos rituais ou observar condutas particulares.
Em vez disso, com “religião de altruísmo” ele pretende dizer uma que mudou a nossa natureza para aquela do altruísmo. Ao mesmo tempo, as pessoas escolherão se ficam ou não nas suas denominações formais, independentemente desta transformação.
Baal HaSulam também disputa a noção de que a Alemanha Nazi fora um evento único na história. Ele pode ter sido o primeiro, mas ele acreditava que a menos que façamos o que devemos, ele não será o último. Nas suas palavras, “Acontece que as pessoas pensam erradamente que o Nazismo é apenas um rebento da Alemanha … todas as nações são iguais nisso, e é absolutamente fútil esperar que os Nazis pereçam com a vitória dos Aliados, pois amanhã os Anglo-Saxões abraçarão o Nazismo”.152
À luz do pico no antissemitismo a nível mundial, seria sábio considerar seriamente as palavras destes homens sábios. Afinal, podemos ver evidentemente que o antissemitismo não desapareceu, nem o Nazismo ou o chamamento para se livrarem dos Judeus.
O QUE ELES PRECISAM E O QUE DAMOS
À face dele, parece que o mundo é ingrato pelas contribuições feitas pelos Judeus para o benefício da humanidade na ciência, educação, economia, sociologia, psicologia e virtualmente todo o reino da vida. Contudo, essa ingratidão ostensível deve servir como indicação que o que estamos a dar não é necessariamente o que eles precisam de nós. Na realidade, as pessoas realmente reconhecem a singularidade do povo Judeu, mas somos nós que usamos mal essa singularidade ao dar o que queremos dar, em vez do que eles querem receber.
Para entender melhor o que o mundo precisa de nós, devemos olhar para alguns dos documentos mais agudos escritos sobre Judeus. Um grande exemplo de tais documentos é o infame livro de Henry Ford (fundador da Ford Motor Company), O Judeu Internacional – O Principal Problema Do Mundo. Enquanto fazendo grosseiras generalizações, o livro frequentemente estabelece pontos que são van tajosos tomar em consideração. Para isso, contudo, devemos colocar de parte nossa afronta, e olhar verdadeiramente para os argumentos de Ford (ênfase em itálico é do editor): “Cada Judeu devia também saber que em cada igreja Cristã onde as antigas profecia s são recebidas e estudadas, há um grande renascimento do interesse no futuro dos Povos Antigos. Não está esquecido que certas promessas foram feitas a eles a respeito de sua posição no mundo, e é mantido que estas profecias serão concretizadas.
O futuro do Judeu … está intimamente ligado ao futuro deste planeta, e a igreja Cristã em ampla parte … vê um Restauro do Povo Escolhido ainda por vir. Se a massa de Judeus soubesse quão compreensiva e simpaticamente todas as profecias que lhes dizem respeito estão a ser estudadas na Igreja, e a fé que existe que estas profecias encontrarão preenchimento e que elas resultarão em grande serviço Judaico à sociedade como um todo, eles provavelmente considerariam a Igreja com outra mente.”153
Inicialmente no livro, Ford escreve, “O inteiro propósito profético em referência a Israel parece ter a iluminação moral do mundo através de sua agência”. 154 E noutro lugar, ele acrescenta, “A sociedade tem uma grande reivindicação contra [o Judeu] que ele … comece a concretizar [o que], em um sentido, sua exclusividade nunca ainda o permitiu concretizar – a antiga profecia que através dele todas as nações da terra sejam abençoadas”.155 John Adams, o segundo Presidente dos Estados Unidos, também comentou sobre o que ele acreditava que os Judeus haviam dado ao mundo. Nas suas palavras, “Os Hebreus fizeram mais para civilizar os homens que qualquer outra nação. Se eu fosse um ateu, e acreditasse em destino cego eterno, deveria ainda assim acreditar que esse destino havia ordenado os Judeus a serem o instrumento mais essencial para civilizar as nações. Se eu fosse um ateu de outra seita, que creio, ou finjo acreditar que tudo é ordenado por acaso, devo acreditar que a chance havia ordenado os Judeus preservassem e propagassem a toda a humanidade a doutrina de um supremo, inteligente, sábio, todo -poderoso soberano do universo, que creio ser o grande e essencial princípio de toda a moralidade, e consequentemente de toda a civilização.”156
Samuel Langhorne Clemens, melhor conhecido pelo seu pseudónimo, Mark Twain, reconhece a distinção Judia em todos os reinos de envolvimento humano, mas ele, também, acaba por ponderar a origem dessa proeminência: “…Se as estatísticas estão certas, os Judeus constituem apenas um por cento da raça humana. Isso sugere um fosco e nebuloso sopro de poeira das estrelas perdido na labareda da Via Láctea. Adequadamente, o Judeu pouco se devia ouvir falar dele, mas ele é escutado, foi escutado. Ele é tão proeminente no planeta como qualquer outro povo, e sua importância comercial é extravagantemente fora de proporção com a pequenez de sua massa. Suas contribuições à lista mundial dos grandes nomes na literatura, ciência, arte, música, finanças, medicina e aprendizagem confusa são também de longe fora de proporção com a fraqueza de seus números. Ele combateu maravilhosamente neste mundo, em todas as eras; e o fez com suas mãos atadas atrás dele. Ele podia ser vaidoso de si mesmo, e ser desculpado disso.
“O Egípcio, o Babilónio e o Persa, preencheram o planeta com som e esplendor, então esvaeceram em coisas sonhadoras e faleceram; os Gregos e os Romanos se seguiram, e fizeram amplo alarido, e foram-se. Outros povos nasceram e mantiveram sua tocha alta por um tempo, mas ela se apagou, e eles já estão sentados no crepúsculo agora, ou desapareceram. O Judeu os viu a todos, os venceu a todos, e é agora o que sempre foi, não exibindo decadência, nem enfermidades da idade, enfraquecimento de suas partes, nem abrandamento de suas energias, ou enfadar de seu alerta e mente agressiva. Todas as coisas são mortais menos o Judeu; todas as outras forças passam, mas ele permanece. Qual é o segredo de sua imortalidade”?157
E finalmente, há aqueles que não reconhecem que os Judeus são especiais no sentido espiritual, mais que no corpóreo, mas até detalham a essência dessa espiritualidade: união. Tal foi o caso do Primeiro Ministro do Reino Unido durante a 2ª Guerra Mundial, Sir Winston Churchill.
Em Churchill e os Judeus, o autor Martin Gilbert cita Churchill: “Os Judeus foram uma comunidade sortuda porque eles tinham esse espírito empresário, o espírito de sua raça e fé. [Churchill] não … lhes pediria para usar esse espírito em qualquer sentido estreito ou de clãs, a se isolarem a si mesmos dos outros … longe de seu humor e intenção, longe dos conselhos que lhes foram dados por aqueles mais intitulados a aconselhar. Esse poder pessoal e especial que eles possuíam lhes permitiu trazer vitalidade para suas instituições, que nada mais traria. [Churchill acreditava sinceramente que] Um Judeu não pode ser um bom Inglês a menos que ele seja um bom Judeu”.158
Podemos desta forma ver que o que as nações querem dos Judeus não é excelência em ciência, finanças, ou qualquer dos outros reinos mencionados nas acima citações. O que o mundo precisa de nós é espiritualidade, nomeadamente a habilidade de se conectar ao Criador. Esta é a única coisa que possuímos, e que nenhuma outra nação tem, teve, pode, ou está destinada a possuir a menos que o reacendamos dentro de nós e o passemos como uma luz para as nações. Enquanto nos abstivermos de levar a cabo essa missão, as nações irão amplamente nos considerar dispensáveis, se não diretamente injuriosamente, e certamente, como Ford afirmou, “O principal problema do mundo.
EM DESUSO
Para demonstrar quão dispensáveis o mundo pode pensar que somos, consideremos os seguintes fatos: Em 1938, Adolf Hitler estava disposto para enviar Judeus Alemães e Austríacos para quem quer que os quisesse. Ninguém quis.
Hitler declarou que ele “só podia ter esperança e esperar que o outro mundo, que tem tamanha profunda simpatia por estes criminosos [Judeus], seria pelo menos generoso o suficiente para converter esta simpatia em ajuda prática. Nós [Alemanha Nazi], da nossa parte, estamos prontos para colocar todos estes criminosos à disposição destes países, no que me importa, até em navios de luxo.”159
E todavia, as nações unanimemente recusaram receber os Judeus. Em Julho de 1938, representantes de maioria dos países do mundo livre se reuniram em Évian-les-Bains, uma cidade turística na costa Sul do antigo Lago Léman, na França. Sua meta foi discutir, e encontrar soluções para o “problema Judeu,” nomeadamente os Judeus que desejavam fugir da Alemanha e Áustria antes que fosse demasiado tarde. Os Judeus Alemães e Austríacos estavam muito esperançosos com a conferência. Eles acreditavam que os países participantes genuinamente procurariam ajudá -los e lhes ofereceriam um porto de abrigo. Eles foram amargamente desiludidos. Enquanto os delegados da conferência exprimiam empatia pelos apuros dos Judeus sob o regime Nazi, eles não fizeram compromissos e não ofereceram soluções. Em vez disso retrataram a conferência como um mero começo, que nunca foi continuado. Diplomaticamente, os delegados afirmaram que, “A emigração involuntária de pessoas em grandes números tornou-se tão grande que ela torna os problemas raciais e religiosos mais agudos, aumenta agitação internacional e pode prejudicar seriamente os processos do apaziguamento nas relações internacionais.”160
Contudo, desde a conferência, convocada pelo Presidente dos Estados Unidos Franklin D. Roosevelt, reuniu -se sob uma condição prévia que “nenhum país seria forçado a mudar suas quotas de emigração, mas em vez disso seria pedido a voluntariamente mudar,”161 para a surpresa de ninguém, as resoluções da conferência ofereceram aos Judeus desesperados da Alemanha e Áustria pouca esperança.
De acordo com a Yad Vashem, o Centro Mundial para a Pesquisa, Documentação, Educação e Comemoração sobre o Holocausto, “À medida que a conferência progredia, delegado após delegado desculpava seu país de aceitar refugiados adicionais. O delegado dos Estados Unidos, Myron C. Taylor, afirmou que a contribuição do seu país faria a quota de imigração Alemã e Austríaca, que até a esse tempo havia permanecido por preencher, totalmente disponível. O delegado Britânico declarou que seus territórios além mar eram amplamente desadequados para a habitação Europeia, exceto em partes da África do Leste, que podiam oferecer possibilidades para números limitados. A própria Bretanha, sendo totalmente habitada e sofrendo de desemprego, também indisponível para imigração; e ele excluiu a Palestina da discussão em Evian inteiramente.
O delegado francês afirmou que a França havia alcançado ‘o ponto extremo de saturação em respeito à admissão de refugiados.’ Os outros países Europeus ecoaram este sentimento, com variações menores. A Austrália não podia encorajar a imigração de refugiados porque, ‘uma vez que não temos um verdadeiro problema racial, não estamos desejosos de importar um.’ Os delegados da Nova Zelândia, Canadá e as nações Latino – Americanas citaram a Depressão como a razão pela qual não podiam aceitar refugiados. Somente a minúscula Republica Dominicana se voluntariou para contribuir amplas áreas embora não especificadas para a colonização agrícola.”162 Alguns meses depois da conferência, as portas se haviam fechado e o destino da Judiaria Europeia estava selado.
ANTISSEMITISMO DISFARÇADO
Enquanto as atrocidades do Holocausto ajudaram o estabelecimento Judaico em Israel a ganhar reconhecimento e compaixão, e o Estado Judeu de Israel tivesse sido fundado em 1948, ele fez muito pouco para desenraizar o antissemitismo. Em vez disso, o antissemitismo adquiriu uma nova forma: “antisionismo”.
Há aqueles que argumentam que o antisionismo difere do antissemitismo. Baal HaSulam, pelo contrário, afirma que o ódio aos Judeus é precisamente isso, independentemente da forma que assuma. No seu estilo sucinto e direto, ele escreve, “É um fato de que Israel é odiada por todas as nações, seja por razões religiosas, razões raciais, razões capitalistas, razões comunistas, ou razões cosmopolitas. É assim porque o ódio precede todas as razões, mas cada [pessoa] resolve meramente sua repugnância de acordo com a sua própria psicologia.”163
Mas como é frequentemente o caso com os Judeus, nossos melhores advogados vêm de entre as nações. Cerca de um ano antes da Guerra dos Seis Dias de 1967, o escritor social americano, Eric Hoffer, a quem foi atribuída a Medalha Presidencial da Liberdade, e em cuja honra o Prémio Eric Hoffer foi estabelecido, publicou uma carta aberta no Los Angeles Times. Talvez fosse o fato de Sr. Hoffer não ser Judeu que o permitiu escrever tão candidamente sobre o estado dos Judeus no mundo.
“Os Judeus são um povo peculiar”, começa ele. “Coisas permitidas a outras nações são proibidas aos Judeus. Outras nações expulsam milhares, até milhões de pessoas, e não há problema de refugiados. A Rússia o fez-, a Polônia e a Checoslováquia fizeram-no. A Turquia expulsou um milhão de Gregos e a Algéria um milhão de Franceses. A Indonésia expulsou sabe Deus quantos Chineses e ninguém diz uma palavra sobre refugiados. Mas no caso de Israel, os Árabes deslocados tornaram-se refugiados eternos. Todos insistem que Israel deve receber todo e cada Árabe.
“[O historiador Britânico] Arnold Toynbee chama à deslocalização dos Árabes uma atrocidade maior que qualquer uma cometida pelos Nazis.
“Outras nações, quando vitoriosas no campo de batalha, ditam os termos de paz. Mas quando Israel é vitoriosa, ela deve pedir pela paz. Todos esperam que os Judeus sejam os únicos Cristãos verdadeiros neste mundo. “Outras nações – quando são derrotadas – sobrevivem e recuperam, mas caso Israel fosse derrotada, ela seria destruída. Tivesse Nasser [Presidente do Egito durante a Guerra dos Seis Dias de 1967] triunfado em Junho passado ele teria apagado Israel do mapa e ninguém levantaria um dedo para salvar os Judeus. Nenhum compromisso aos Judeus por qualquer governo, incluindo o nosso [Governo Americano], vale o papel em que está escrito.
“Há um grito de revolta por todo o mundo quando morrem pessoas no Vietnam ou quando dois Negros são executados na Rodésia. Mas quando Hitler assassinou Judeus ninguém protestou com ele. Os Suecos, que estão prontos para romper relações diplomáticas por causa do que fizemos no Vietnam, não soltaram um pio quando Hitler matava Judeus. Eles enviaram à escolha de Hitler minério de ferro e rolamentos de esferas, e serviram às suas tropas comboios para a Noruega.
“Os Judeus estão sozinhos no mundo. Se Israel sobrevive é somente devido aos esforços Judaicos, e recursos Judaicos. Todavia neste momento Israel é o nosso único aliado confiável e incondicional. Podemos contar mais em Israel que Israel pode contar conosco. E um só tem de imaginar o que aconteceria no verão passado tivessem os Árabes e seus apoiantes Russos vencido a guerra para perceber quão vital é a sobrevivência de Israel para a América e para o Ocidente em geral.
“Tenho uma premonição que não me deixará; como for com Israel assim será com todos nós. Caso Israel pereça o holocausto será sobre nós”.164
Outro exemplo marcante de simpatia relata desta vez o debate sobre aquele que se opõe ao Sionismo também se opõe aos Judeus. Abaixo estão as extraordinárias palavras do Reverendo Martin Luther King Jr., que, numa carta a um amigo, defende os Judeus em geral, e o estado Judeu em particular, em tamanha eloquência constrangedora que os Ministros dos Negócios Estrangeiros de Israel só podem invejar.
Aqui está a “Carta a um Amigo Antissionistas” de Martin Luther King: “…Tu declaras, meu amigo; que não odeias os Judeus, que és meramente ‘antissionista.’ E eu digo, deixa que a verdade soe em diante dos altos cumes das montanhas, deixa que ela ecoe através dos vales da terra verde de D-us: Quando as pessoas criticam o Sionismo, elas querem dizer Judeus – esta é a verdade própria de D-us.
“Antissemitismo, o ódio do povo Judeu, foi e permanece uma mancha na alma da humanidade. Nisto estamos completamente de acordo. Então sabe também isto: anti s- sionismo é inerentemente antissemita, e sempre o será.
“Porque isso? Tu sabes que o sionismo é nada menos que o sonho e ideal do povo Judeu regressar para viver na sua própria terra. O povo Judeu, as Escrituras contam-nos, em tempos desfrutavam de uma riqueza comum florescente na Terra Santa. Disto foram expulsos pelo tirano Romano, os mesmos Romanos que cruelmente assassinaram nosso Senhor. Empurrados de sua pátria, sua nação em cinzas, forçados a vaguear pelo globo, o povo Judeu nova e novamente sofreu o chicote de qualquer que fosse o tirano que governasse sobre eles.
“…Quão fácil seria, que qualquer um que tenha como caro este direito inalienável de toda a humanidade, de compreender e apoiar o direito do Povo Judeu a viver na sua antiga Terra de Israel. Todos os homens de boa vontade exultarão a concretização da promessa de D-us que Seu povo deve regressar em alegria para reconstruir sua saqueada terra. Isto é sionismo, nada mais, nada menos.
“E o que é antissionismo? É a negação ao povo Judeu um direito fundamental que justamente reivindicamos para o povo de África e concordamos livr emente para todas as outras nações do mundo. É discriminação contra Judeus, meu amigo, porque eles são Judeus. Abreviadamente, é antissemitismo.
“O antissemita rejubila em qualquer oportunidade de desafogar esta malícia. Os tempos tornaram-no impopular, no Ocidente, proclamar abertamente ódio aos Judeus. Sendo este o caso, o antissemita deve constantemente procurar novas maneiras e fóruns para seu veneno. Como deve se deve ele deleitar no novo baile de máscaras! Ele não odeia os Judeus, ele é apenas ‘antissionista!’
“Meu amigo, eu não te acuso de antissemitismo intencional. Sei que sentes, tanto quanto eu, um profundo amor à verdade e justiça e repulsa pelo racismo, preconceito e discriminação. Mas sei que foste enganado – como outros foram – a pensar que podes ser ‘antissionista’ e ainda permanecer verdadeiro a aqueles princípios sentidos que tu e eu partilhamos. Deixa que minhas palavras ecoem nas profundezas de tua alma: Quando as pessoas criticam o sionismo, elas querem dizer judeus – não te enganes nisso”.165
Aproximadamente desde a viragem do século, temos testemunhado um aumento no antissemitismo por todo o mundo. Um relatório executivo emitido pelo Departamento Estatal dos EUA confirma que “A frequência crescente e severidade de incidentes antissemitas desde o começo do século XXI … obrigou a comunidade internacional a se concentrar no antissemitismo com vigor renovado. …Em recentes anos, incidentes foram mais direcionados em natureza com os infratores parecerem ter intenção especifica de atacar os Judeus e o Judaísmo”.166
Em alguns casos, há antissemitismo onde não há Judeus de todo! Um relatório intitulado, “Antissemitismo sem Judeus”, pela escritora, editora e fotografa Ruth Ellen Gruber, detalha a prevalência do antissemitismo na Europa, até onde não há Judeus que se pareça. De acordo com Gruber, “Foi-me pedido para discutir o fenômeno do ‘antissemitismo sem Judeus’ em termos históricos, mas também dentro do contexto do que foi chamado o ‘novo antissemitismo’ que se manifestou a si mesmo na Europa – e, certamente, noutro lugar … Eu tenho de dizer que não estou realmente confortável com o termo ‘novo antissemitismo.’ Como o London Jewish Chronicle o colocou num editorial no ano passado, o antissemitismo tem o ‘sono leve’, fácil de despertar. É também frequentemente referido como um vírus, um vírus proteico que, como as viroses causadoras de doenças no corpo humano, é capaz de se mutar de uma maneira oportunista para derrotar quaisquer defesas ou anticorpos que possam ser edificados contra ele. Isso foi feito tantas vezes, até em países Pós-Holocausto cuja população Judaica é praticamente invisível. E o está a fazer agora”.167
Talvez menos surpreendente, mas ainda assim inquietante, é o fenômeno do antissemitismo formal da Malásia. Em 6 de Outubro de 2012, Robert Fulford do Canadian National Post, publicou uma história sobre o antissemitismo na Malásia, afirmando que na Malásia, “Políticos e funcionários públicos devotam uma quantidade de tempo surpreendente para pensar sobre Israel, a 7,612 km [4730 milhas] de distância. Por vezes parecem ser obcecados com isso. A Malásia nunca teve uma disputa com Israel, mas o governo encoraja os cidadãos a odiarem Israel e também a odiarem Judeus se eles são Israelitas ou não”.168
“Poucos Malaios puseram olhos num Judeu; a minúscula comunidade Judaica emigrou há décadas atrás”, escreve Fulford. “Independentemente, a Malásia tornou -se um exemplo de um fenômeno chamado ‘Antissemitismo sem Judeus.’ Em passado Março, por exemplo, o Departamento de Território Federal de Assuntos Islâmicos enviou um sermão oficial para ser lido em todas as mesquitas, afirmando que ‘Muçulmanos devem entender que os Judeus são o maior inimigo dos Muçulmanos como provado pelo seu comportamento egoísta e assassinatos realizados por eles’.
“Em Kuala Lumpur, é rotina culpar os Judeus por tudo desde fracassos econômicos à má imprensa que a Malásia recebe em jornais estrangeiros (‘Mantidos por Judeus’)”.169
Evidentemente, até o Holocausto não mudou as mentes das pessoas em relação aos Judeus. Como escrevi no Prefácio a este livro, “desde a virada do século, o antissemitismo tem aumentado uma vez mais, desta vez por todo o mundo. O espectro do ódio aos Judeus enraizou-se mundialmente”. A simpatia que tivemos após a 2ª Guerra Mundial foi evidentemente de pouca duração, e agora uma nova onda, ainda mais ampla que sempre de antissemitismo está aumentando.
No Capítulo 2 citamos as palavras de Rabi Nathan Shapiro: “Há quatro forças no homem – inanimado, vegetativo, animal e falante – e Israel têm ainda outra quinta parte, pois eles são o Divino falante”.170 Se mantivermos em mente que a meta da criação é que todos alcancem o último grau, que somente Israel tem, e que Abraão havia pretendido dar a todos os seus conterrâneos Babilônios, veremos que o que precisamos dar ao mundo é uma coisa muito simples – a qualidade de doação, incorporada na máxima, “Ama teu próximo como a ti mesmo”. Quando o egoísmo prospera pelo mundo, esta qualidade é o único remédio que consegue compensar uma colisão global de proporções sem precedentes.
Os Judeus, desta forma, devem reacender esse traço dentro deles enquanto indivíduos e enquanto nação e conduzir o caminho para o todo da humanidade. Certamente, adquirir a qualidade de doação é comparável à revelação do Criador através de equivalência de forma. Lamentavelmente, como o próximo capítulo irá demonstrar, frequentemente tentamos evitar essa missão, seja porque não estamos conscientes disso, ou porque não temos desejo por isso. Assim, em vez de abraçar nossa vocação e pavimentar o caminho para a luz para toda humanidade, tentamos nos assimilar a nós mesmos até à extinção e ser como todas as outras nações.
Do livro “Como Um Feixe de Juncos” Ser Judeu, ou Não Ser Judeu, Eis a Questão! Uma das mais importantes orações em Yom Kipur (Dia do Perdão) é conhecida como o Maftir Yoná (Jonas)171, durante a qual o livro inteiro de…
Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
Uma das mais importantes orações em Yom Kipur (Dia do Perdão) é conhecida como o Maftir Yoná (Jonas)171, durante a qual o livro inteiro de Jonas é lido. A história do profeta Jonas simboliza mais que alguma coisa a ambivalência que o nosso povo sente para com o seu papel no mundo.
Reconhecidamente, não é uma tarefa agradável ser uma coisa desanimadora eternamente. Até com nossa própria nação, os profetas raramente tinham uma vida fácil ou eram tratados com gratidão por nos salvarem da calamidade e aflição. Todavia, os profetas sempre levaram a cabo suas tarefas. Eles eram impelidos a fazer pelo pavor do tormento que inversamente cairia sob seus confiantes irmãos, então eles não podiam ficar quietos.
Jonas tentou ao seu máximo evitar sua missão. Ele escondeu sua identidade como Hebreu e entrou a bordo de um navio que velejou para Tarshish, longe de Ninevê, onde o Criador lhe havia dito profetizar. Mas como sabemos, o Criador o encontrou no navio e os marinheiros descobriram sua identidade e o jogaram pela borda fora, onde ele foi atormentado nas entranhas de um peixe. Finalmente, ele se arrependeu (orando das entranhas do peixe), ele foi para Ninevê e profetizou. Graças ao arrependimento de Jonas, os residentes de Ninevê aprenderam sobre a correção necessária deles, a executaram, a cidade foi poupada e seu povo foi perdoado.
Curiosamente, Ninevê não era uma cidade Hebraica. Ela era a cidade mais populosa no Império Assírio e um eixo de comércio próspero. Todavia, o Senhor ordenou Jonas a profetizar para eles para que melhorassem suas maneiras e evitassem a aflição. Isto, novamente, indica o caminho da correção e que a realização do Criador não era destinada somente aos Judeus, mas para toda a humanidade. Quão simbólico é que leiamos esta história no dia mais Judaico do ano – Yom Kipur, O Dia do Perdão. Assim, a história de Jonas resume o dilema do povo Judeu durante as gerações. Por um lado, somos o povo escolhido, destinado a demonstrar o caminho para a lu z à todas as nações. Por outro lado, insistente e infrutuosamente tentamos evitar o nosso destino porque a mensagem de responsabilidade mútua e união é desagradável ao ego do ouvinte, uma vez que todos nós nascemos egocêntricos e queremos permanecer dessa maneira.
Quando os Judeus regressaram do exílio em Babel para construir o Segundo Templo, aqueles que ficaram para trás se assimilaram tanto entre suas nações anfitriãs que desapareceram inteiramente. A Enciclopédia Judaica172 escreve que assim que libertos do cativeiro na Babilônia, os Judeus gradualmente se espalharam para a Síria, Egito e Grécia – principalmente como escravos, mas algo desadequados, então não tiveram problemas em serem resgatados e libertos.
“Além do mais”, informa A Enciclopédia Judaica, “devendo a solidariedade próxima, que é uns dos traços duradouros da raça Judia, eles não tiveram dificuldade em encontrar correligionários dispostos a pagar a quantia de seu resgate”.173 Contudo, continua a enciclopédia, “Os Judeus então libertos, em vez de regressarem à Palestina, frequentemente permaneceram na terra de sua anterior escravatura, e lá, em conjunto com seus irmãos de fé, estabeleceram comunidades. De acordo com o antigo testemunho de Filo (Legatio ad Caium, §23), a comunidade Judaica em Roma devia sua origem aos prisioneiros de guerra libertos”.174 A partir de Roma, os Judeus continuaram a se espalhar pelo resto da Europa.
Assim que liberada da Babilônia, contudo, a minoria dos Hebreus que não regressou à Terra de Israel se tornou o que hoje é conhecido como “o povo Judeu”. Depois da ruína do Segundo Templo, eles, também, se desejaram assimilar. Todavia, ao contrário de seus anteriores irmãos, os Judeus que foram exilados de Jerusalém e da Judeia nunca lhes foi permitido pelas nações se misturarem até ao ponto do desaparecimento. Tivesse isso acontecido, o propósito para o qual os Judeus existem, nomeadamente a revelação do Criador ao resto das nações, teria sido derrotado.
Talvez seja por isso que notáveis historiadores e teólogos escreveram palavras semelhantes às do Professor Emérito de Judaísmo na Universidade de Gales, Dan Cohn-Sherbok: “O paradoxo da vida Judaica é que o ódio e a sobrevivência Judaica têm estado interrelacionados durante milhares de anos, e sem antissemitismo, podíamos estar condenados à extinção”.175
Certamente, apesar de frequentes tentativas de misturar e assimilar, somos sempre recordados de nossa herança e ou somos duramente conduzidos de volta ao Judaísmo, ou permanecemos como exilados nas nossas novas religiões. Hoje, muitos Judeus ainda tentam assimilar nas suas culturas anfitriãs, mas por todo o sucesso aparente em alguns países, a história demonstra que isso nunca teve sucesso, e a tarefa Judaica manda que nunca tenha.
Exemplos particularmente notáveis de assimilação e rejeição Judia tomaram lugar na Espanha dos séculos XIV e XV, e na Alemanha, antes e durante a 2ª Guerra Mundial e o Holocausto, resultando no extermínio de virtualmente a inteira Judiaria Europeia. Embora muito tenha sido dito e escrito sobre essas duas épocas da história Judaica, é vantajoso notar algumas similaridades que podem apontar para uma tendência repetitiva que podemos usar como augúrio. Corresponderemos a esses dois períodos um de cada vez, e concluiremos com reflexões sobre a Judiaria mais proeminente fora de Israel – a dos Estados Unidos.
ESPANHA, A TRÁGICA HISTÓRIA DE AMOR
Flávio Josefo escreveu do caloroso acolhimento com o qual os expatriados foram recebidos na Síria e Antíoco depois de sua expulsão pelos Romanos. Os Judeus foram “muito misturados,” ele escreveu, e viveram “com a tranquilidade mais imperturbável”.176 Ele também escreveu sobre como o Imperador Romano, Titus Flavius, “os expulsou de toda Síria”.177 Nas Antiguidades dos Judeus, ele citou o geógrafo Grego Strabo dizendo, “Este povo já fez seu caminho para toda a cidade, e não é fácil encontrar qualquer lugar no mundo habitável que não tenha recebido esta nação e que não tenha feito seu poder sentido”.178
A maneira vacilante na qual os Judeus foram inicialmente calorosamente acolhidos, então rejeitados, então repelidos uma vez mais, se não por completo destruídos, se repetiu numerosas vezes desde a ruína do Primeiro Templo.179 Contudo, muitos, se não a maioria dos Judeus que foram exilados depois da ruína do Segundo Templo são ainda reconhecidos como tais, pelo menos por herança se não por algum nível de prática.
Houveram muitas tentativas de converter os Judeus ao Islamismo ou Cristianismo, e eles frequentemente o desejaram fazer, e ativamente tentaram se converter. E todavia, na maioria, essas tentativas ou falharam ou foram somente marginalmente bem sucedidas.
O Professor e investigador de História Judaica na Universidade de Wisconsin, Norman Roth, detalha tanto as tentativas massivas dos Judeus se converterem, e as consequências trágicas que resultaram dessas tentativas. Em Judeus, Visigodos, e Muçulmanos na Espanha Medieval: cooperação e conflito, ele escreve, “Nos séculos catorze e quinze, milhares de Judeus se converteram, principalmente por sua própria livre vontade e não sob qualquer dureza, ao Cristianismo. O papel destes conversos [Judeus que se converteram ao Cristianismo] na sociedade conduziu a feroz hostilidade contra eles no século quinze, finalmente resultando em verdadeiro estado de guerra. O antissemitismo racial, emergiu pela primeira vez na história de uma larga escala e os estatutos de limpieza de sangre [pureza de sangue] foram erguidos [distinguindo os Velhos Cristãos puros daqueles com antepassados Muçulmanos ou Judeus]. Finalmente, a Inquisição foi reanimada entre falsas acusações da ‘insinceridade’ dos conversos, e muitos foram queimados. Nada disto, contudo, teve alguma coisa a ver com os Judeus, que na maioria continuaram suas vidas, e suas relações normais com os Cristãos, como anteriormente.”180
Certamente, não só os Judeus que mantiveram sua fé não foram prejudicados, mas eles até nutriam um laço único com os seus anfitriões Espanhóis. De acordo com Roth, “Tão invulgar, se pode dizer única, era a natureza desse relacionamento [entre Judeus e Cristãos] que um termo especial é usado que não tem tradução precisa noutras línguas, convivência [dificilmente significando, “viver juntos em afinidade”]. Na verdade, a verdadeira extensão de convivência na Espanha medieval Cristã não havia sido totalmente revelada”.181
O estudo de Roth salienta que enquanto os Judeus permaneciam leais a sua herança e não se tentavam assimilar em culturas estrangeiras, eles eram bem-vindos para permanecer, ou era pelo menos deixados em paz. E especificamente na Espanha, em tempos o calor e intensidade do relacionamento verdadeiramente se assemelhava a uma história de amor, completa com todas as provações e tribulações que as grandes histórias de amor exibem. Contudo, quando os Judeus se tentavam misturar com outras nações e se tornarem como elas, essas nações os rejeitariam e os forçariam de volta ao Judaísmo, ou os forçariam a converter, mas de uma maneira depreciativa e coagida.
Jane S. Gerber, uma especialista na história Sefardita na Universidade da Cidade de Nova Iorque, eloquentemente detalha a extensão à qual os Judeus conversos Espanhóis se imergiam a si mesmos na vida cultural e secular Espanhola (ênfases são do editor).
“Profundamente enraizados na península ibérica desde a aurora da sua dispersão”, escreve Gerber, “estes Judeus ferventemente nutriam um amor pela Espanha e sentiam uma profunda lealdade à sua língua, regiões e tradições (…) De fato, Espanha havia sido considerada uma segunda Jerusalém.
“Quando o decreto de expulsão de Rei Fernando e Rainha Isabel foi promulgado para 31 de Março, [1492] ordenando que os 300.000 Judeus de Espanha partissem dentro de quatro meses, os Sefarditas reagiram com choque e descrença. Seguramente, eles sentiram, a proeminência de seu povo de todos os caminhos da vida, a clara longevidade de suas comunidades (…) e a presença de tantos Judeus e Cristãos de linhagem Judia (conversos) nos círculos internos da corte, municipalidades e até a igreja Católica forneceria proteção e evitaria o decreto.
“…Judeus Espanhóis eram especialmente orgulhosos da sua longa linha de poetas, cujas … canções continuaram a ser recitadas. Seus filósofos foram influentes até entre os acadêmicos do Ocidente, seus gramáticos inovadores ganharam um lugar duradouro como pioneiros da língua Hebraica, e seus matemáticos, cientistas e inumeráveis físicos haviam ganho aclamação. A desenvoltura e serviço público dos diplomatas Sefarditas também preencheu os anais de muitos reinos Muçulmanos. Na realidade, eles não só residiam em Espanha; eles haviam coexistido lado a lado com Muçulmanos e Cristãos, levando a noção de viverem juntos (la convivencia) com absoluta seriedade.
“A experiência dos Sefarditas levanta o problema da aculturação e assimilação como nenhuma outra comunidade Judaica o fez. Durante muitos séculos, a civilização Judia pediu emprestado livremente da cultura Muçulmana. …Quando perseguições sobrecarregaram os Sefarditas em 1391 e lhes foi oferecida a escolha da conversão ou a morte, os números de convertidos excederam o número considerável de mártires. A própria novidade desta conversão em massa, única à experiência Judia, induziu acadêmicos a procurar causalidade no alto grau de aculturação alcançada pelos Sefarditas”.182
E todavia, não foi a aculturação que causou os Espanhóis a se voltarem contra os Judeus. Foi na realidade o abandono dos Judeus da coesão social e garantia mútua, traços que haviam (na maioria) lhes ganho a estima inconsciente das suas nações anfitriãs. “Comentadores medievais especialmente”, continua Gerber, “gostavam de colocar a culpa pelo rompimento da disciplina comunal sobre a aculturação Judia, e alguns dos maiores historiadores Judaicos modernos, tais como Itzhak Baer, citaram em acréscimo o impacto corrosivo da filosofia averroísta e o cinismo da classe Judia assimilada cortesã. Mas na onda das conversões massivas e os agudos conflitos comunais, não foram somente os filósofos que sucumbiram na face da perseguição”.183 Em vez disso, a comunidade inteira sofreu.
Assim, conscientes ou não, os Judeus foram afligidos, e foram eventualmente expulsos da Espanha porque se haviam tornado demasiado desunidos, esquecendo os poderes e o benefício que a união lhes pode trazer, e que nossos sábios ensinaram a nossos antepassados durante gerações. O Livro do Zohar escreve sobre a panaceia da união: “Porque eles são de um coração e uma mente … eles não falharão ao fazer o que lhes é intencionado fazer, e não há ninguém que os possa impedir”.184
Mas O Livro do Zohar, que ressurgiu em Espanha praticamente alguns séculos antes da expulsão, não podia salvar os Judeus. Eles eram estavam simplesmente demasiado espiritual e culturalmente assimilados para se unirem e levarem a cabo seu intencionado papel de serem uma luz para as nações. E uma vez que não ajustaram seu curso por sua própria vontade, a Lei da Doação da Natureza, o Criador, o fez através das suas imediações, os Cristãos Espanhóis, a quem os Judeus admiravam.
O classicista Inglês, escritor e professor na Universidade de Cambridge, Michael Grant, observou a incapacidade dos Judeus de se misturarem: “Os Judeus provaram-se não assimilados, mas inassimiláveis. …A demonstração que isto era assim provou um dos pontos de mudança mais significativos na história Grega, devendo a influência gigantesca exercida durante as eras subsequentes à sua religião, que não só sobreviveu intacta, mas subsequentemente deu à luz o Cristianismo”.185
Similarmente, o bispo do século XVIII, Thomas Newton, escreveu sobre os Judeus: “A preservação dos Judeus é realmente um dos atos mais sinalizadores e ilustres da Providência divina… e o quê senão um poder sobrenatural teria os preservando de tal maneira como nenhuma outra nação sobre a terra havia sido preservada. Nem é a providência de Deus menos marcante com a destruição de seus inimigos, que na sua preservação… Nós vemos que os grandes impérios, que por sua vez subjugaram e oprimiram o povo de Deus, todos chegaram à ruína… E se tal foi o fim fatal dos inimigos e opressores dos Judeus, que sirva de aviso a todos aqueles, que em qualquer tempo ou sobre qualquer ocasião sejam a favor de levantar um clamor e perseguição contra eles”.186
Porque, como mencionado no Capítulo 4, os Judeus representam no nosso mundo a parte da alma de Adam que alcançou união de corações e assim conexão com o Criador, e porque seu papel espiritual é o de espalhar essa união e conexão resultante ao resto das nações, as nações rejeitam as tentativas dos Judeus tentarem se parecer a elas. Não é um ato de escolha consciente, mas um impulso compulsivo que vem sobre elas do próprio pensamento da Criação. Isto só raramente chega à superfície da consciência dos perpetradores de aflição, mas eles executam-no infalivelmente.
Um incidente marcante do pensamento da Criação a surgir na consciência do perpetrador tomou lugar numa fadada e trágica noite em 1492. Em O Judeu no Mundo Medieval: Um Livro de Estudo: 315-1791, o acadêmico de história Judia, Rabi Jacob Rader Marcus detalha os eventos que ele descobriu que haviam tomado lugar. “O acordo os permitindo [Judeus] a permanecer no país [Espanha] sobre o pagamento de uma grande soma de dinheiro era praticamente completado quando era frustrado pela interferência de um prio r que era chamado o Prior de Santa Cruz. [Lenda relata que Torquemada, Prior do convento de Santa Cruz, trovoou, com crucifixo em cima, o Rei e a Rainha: ‘Judas Iscariotes vendeu seu mestre por trinta peças de prata. Sua Alteza o venderia novamente por tri nta mil. Aqui está ele, leve-o, e leiloe-o para longe’]”.187 O que aconteceu a seguir ilustra que o que quer que aconteça, os Judeus estão obrigados a serem o que são, e fazerem o que devem. “Então a Rainha deu uma resposta aos representantes dos Judeus, semelhante ao dizer do Rei Salomão [Provérbios 21:1]: ‘O coração do rei está na terra do Senhor, como os rios de água. Ele tornava -a no que quer que Ele quisesse’. Ela adiantou: ‘Acreditais que isto vem sobre vós de nós? O Senhor havia colocado esta coisa no coração do rei’”.188
Certamente, os Judeus foram expulsos não só por terem deixado de ter valor econômico aos Espanhóis. Os Judeus haviam sido reconhecidos como um bem econômico durante séculos. Na realidade, quando foram forçados para fora de Espanha, muitos deles fugiram para a Turquia, que os acolheu precisamente devido a sua contribuição para a economia de seu país anfitrião. Correspondentemente, o Sultão Otomano, Bayezid II, estava tão deleitado com a expulsão dos Judeus de Espanha e sua chegada à Turquia que é relatado que ele “sarcasticamente agradeceu a Fernando por lhe enviar alguns dos seus melhores súditos, assim empobrecendo suas próprias terras enquanto enriquecendo as suas (de Bayezid)”.189 Outra fonte relata que “quando o Rei Fernando que expeliu os Judeus de Espanha foi mencionado na sua presença [de Bayezid], ele disse: ‘Como podeis considerar o Rei Fernando um sábio governante quando ele empobreceu sua própria terra e enriqueceu a nossa?’”190
Nova e novamente, descobrimos que não é a nossa astúcia que nos concede o favor da nação. Em vez disso, é nossa união, pois a nossa união projeta sobre eles a luz, ou em vez disso o deleite que eles supostamente receberiam através de nós no pensamento da Criação. Nas palavras do escritor e pensador, Rabi Hillel Tzaitlin, “Se Israel é o verdadeiro redentor do mundo inteiro, deve primeiro redimir sua própria alma … Mas como redimirá sua alma? …Irá a nação, que está em ruínas tanto em matéria e em espírito, se tornar uma nação feita inteiramente de redentores? …Para esse propósito, desejo estabelecer com este livro a ‘união de Israel’ … Se fundada, a unificação de indivíduos será pelo propósito da ascensão interior e uma invocação para correções para todos os males da nação e do mundo”.191
Certamente, até se clamarmos todo o Prémio Nobel daqui até ao Juízo Final, por todos os benefícios que as concretizações cientificas trazem à humanidade, não ganharemos crédito mas aversão. Podemos produzir os melhores físicos, os mais ilustres economistas, os mais brilhantes cientistas, e os mais inovadores empresários, mas até que produzamos a luz, o poder que suscitamos através da união, as nações nunca nos aceitarão, e nós nunca justificaremos nossa existência neste planeta.
ALEMANHA NAZI: HORROR PARA ALÉM DAS PALAVRAS
Como salientado anteriormente no capítulo, outro exemplo notável da assimilação e rejeição Judia tomou lugar na Alemanha, precedendo e durante a 2ª Guerra Mundial. As consequências horrendas do desdobrar que tomou lugar na Alemanha foram cuidadosamente discutidas e analisadas, e não há muito a acrescentar sobre o que tomou lugar. O que devemos salientar, contudo, é a repetição dos culpados que afetaram a Inquisição Espanhola e derradeira expulsão da Espanha.
Historicamente, a Judiaria Alemã não desfrutou da liberdade e afinidade com que seus ducados anfitriões e alemães e cidades como fizeram os Judeus na Espanha. Em vez disso, durante séculos eles vagueariam de cidade em cidade, residindo onde permitido, sempre sob duras restrições e discriminação, e por vezes, tais como durante as Cruzadas, sofrendo perseguição, expulsão e até massacres.
E todavia, começando do século XVI, em tandem com o Renascimento, os Judeus na Alemanha desfrutaram de paz relativa. Enquanto não receberam estatuto igual ou cidadania de suas cidades anfitriãs ou ducados, foram deixados para conduzir suas próprias vidas relativamente ininterruptamente e separados do resto da sociedade Alemã.
“Por trás de suas paredes do gueto”, escreve Sol Scharfstein em Compreendendo a História Judaica: Do Renascimento ao Século XXI, “seguindo suas próprias tradições e seu próprio modo de vida, os Judeus enfrentavam as tempestades dos séculos que seguiram, as contendas entre Cristãos, entre igrejas e príncipes, e as guerras e revoluçõ es desencadeadas pelas novas condições e novas ideias.
“… [o Papa] João Paulo IV argumentou que era tolo que os Cristãos fossem amigos de um povo que não havia aceito Cristo como seu salvador. Numa bula papal ele decretou que Judeus que viviam em áreas controladas pela igreja fossem confinados aos guetos. Eles seriam permitidos abandonar o gueto durante o dia para ir trabalhar, mas proibidos de estar fora nos outros tempos. Os portões do gueto seriam fechados à noite e em feriados Cristãos”, e os portões foram “…guardados por vigilantes não-Judeus que controlavam a entrada e saída daqueles aprisionados lá dentro”.192
Mas contrária à crença popular, inicialmente os guetos Judeus não eram obrigatórios. Isso veio mais tarde, assim que os Judeus já estavam concentrados nas suas áreas de residência. O reconhecido historiador, Salo Wittmayer Baron, escreveu que “Os Judeus tinham menos deveres e mais direitos que a grande massa da população. …Eles podiam mover-se livremente de lugar para lugar com algumas exceções, podiam casar com quem quer que quisessem, tinham seus próprios tribunais e eram julgados de acordo com suas próprias leis. Até em casos misturados com não-Judeus, não no tribunal local mas frequentemente um juiz especial nomeado pelo rei ou certo alto oficial tinha competência”193
Algumas páginas mais tarde, continua Prof. Wittmayer Baron, “…A comunidade Judaica desfrutava de completa autonomia interna. Complexa, isolada, num sentido estranha, foi deixada mais severamente sozinha pelo Estado que maioria das empresas. Assim, a comunidade Judia dos dias pré-Revolucionários tinha mais competência sobre seus membros que o Estado Federal moderno, e os governos Municipais combinados [relevante para 1928, ano da publicação]. Educação, administração da justiça entre Judeu e Judeu, taxação para propósitos comunitários, saúde, mercados, ordem pública, estavam todos dentro da jurisdição da comunidade-empresa, e em acréscimo, a comunidade Judia era o manancial do trabalho social de uma qualidade geralmente superior ao de fora da Judiaria.
“…Uma fase desta existência empresarial geralmente considerada pela Judiaria emancipada como um mal não mitigado era o Gueto. Mas não deve ser esquecido que o Gueto cresceu voluntariamente como resultado da autogovernação Judia, e que foi somente num desenvolvimento tardio que a lei pública interferiu e tornou-o uma obrigação legal que todos os Judeus vivessem num distrito isolado”.194
Assim, dependendo uns dos outros para sua subsistência, os Judeus se aproximaram, cultivaram sua própria literatura e viviam modesta e piamente.
Novamente, vemos que quando os Judeus se unem, eles estão desarmados. E novamente, vemos que quando coesão e união não são as escolhas dos Judeus na vida, circunstâncias o impõem sobre eles do exterior. Embora coagida, é sempre união que os mantém seguros.
E todavia, apesar da segurança fornecida pela união, e o fato de que os Judeus, como Prof. Grant anotou, são “inassimiláveis,” assim que a porta abre e os Judeus recebem permissão ao exterior, eles começam a se misturar da mesma maneira que trouxe sobre eles a calamidade na Espanha – assimilação cultural, e, pior ainda, assimilação religiosa. De algum modo, sempre parecemos esquecer as palavras de nossos sábios, que repetidamente afirmam, “Quando eles [Israel] são como um homem com um coração, eles são como um muro fortificado contra as forças do mal”.195 Certamente, como demonstramos através deste livro, a negligência da união foi o que causou a ruína do Templo e a dispersão do povo da sua terra, e certamente toda a calamidade que atingiu os Judeus desde então.
À medida que a emancipação Judia progrediu e os Judeus Alemães foram permitidos na sociedade Alemã Cristã, eles gradualmente se tornaram distantes de suas raízes espirituais. Perto do final do século XVIII, eles estavam tão dispostos a ser admitidos na sociedade Cristã que virtualmente fariam tudo para ser aceitos. Assim, de acordo com os professores em cultura e história Judaica, Steven J. Zipperstein da Universidade de Stanford e Jonathan Frankel da Universidade Hebraica de Jerusalém, em 1799, só alguns anos depois do começo da emancipação Judaica, David Friedlander, um dos líderes mais proeminentes da comunidade Judaica, foi tão longe ao sugerir que os Judeus de Berlim se converteriam ao Cristianismo em massa.196
Mas sequer sem converterem, os Judeus Alemães estavam dispostos a abdicar de tudo o que os seus antepassados tinham como sagrado. “Em prol de provar a lealdade absoluta dos Judeus ao estado e país,” escreve Zipperstein e Frankel mais tarde no seu livro, “[os Judeus] estavam prontos para remover do livro de orações qualquer referência à antiga esperança de um regresso à antiga pátria na Palestina e interpretar a dispersão dos Judeus pelo mundo não como Exílio mas como um valor positivo, como um modo para os Judeus transportarem a mensagem da ética monoteísta a toda a humanidade, como uma missão divinamente ordenada. Assim, o movimento Reformista tornou possível afirmar que os Judeus constituíam uma comunidade rigidamente religiosa despojada de todos os atributos nacionais, que eram Alemães (ou Polacos ou Franceses, como pode ser o caso) do ‘Mosaico da persuasão.’ Deste modo, o Judaísmo reformista tornou-se o símbolo, como ele foi, de uma prontidã o para comerciar crenças da antiguidade em troca de igualdade civil e aceitação social”.197
A abdicação da conexão dos Judeus a Sião, a terra de Israel e o desejo pelo Criador – a Lei da Doação, simboliza mais que qualquer outra coisa a extensão à qual os Judeus Alemães haviam se alienado da sua herança. Como vimos muitas vezes, e como aprendemos dos ensinamentos dos nossos sábios durante a história, assim que os Judeus abandonam voluntariamente o seu papel, eles são forçados de volta a ele pelas próprias nações dentro das quais eles almejam se misturar.
Acontece que, os Judeus Alemães não sabiam deste fato. Eles estavam em exílio, banidos da qualidade de doação e esquecidos da sua tarefa. Eles foram ignorantes no seu erro que no minuto em que trocaram coesão pela aceitação da sociedade geral, colocavam seu futuro e o futuro de seus filhos no caminho danoso. Embora ninguém pudesse prever a magnitude do horror que cairia sobre eles, o caminho para ele havia sido pavimentado, e sua conduta continuou a sustentá-lo.
Desde aproximadamente 1780 até 1869, apesar de vários atrasos, o avanço gradual da emancipação Judaica tomou lugar. Eventualmente, “A lei da igualdade foi passada pelo Parlamento na Confederação da Alemanha do Norte em 3 de Julho, 1869. Com a extensã o desta lei aos estados unidos dentro do Império Alemão, a luta dos Judeus Alemães pela emancipação alcançou o sucesso”.198
Mas o preço do sucesso foi o completo abandono de tudo o que havia mantido os Judeus juntos. De acordo com Werner Eugen Mosse, Professor Emérito de História Europeia na Universidade de Anglia do Leste, “Em 1843, a primeira sociedade de Reformismo radical – rejeitando circuncisão e evocando a mudança do Shabat Judaico para o Domingo – veio à existência em Frankfurt. …Nas duas ou três décadas seguintes, o movimento religioso de Reformismo reestruturaria o serviço religioso na maioria das grandes comunidades e desenvolveria o movimento religioso Liberal que dominou a Judiaria Alemã do século vinte.
“…A pressão de integração social na sociedade geral conduziu muitos a abandonar práticas que eles sentiam que levantavam uma barreira contra as relações sociais (por exemplo as leis dietéticas), enquanto a necessidade de ser economicamente competitivo forçou muitos a fazer negócios no sábado, o Shabat Judaico. Em acréscimo, muitos Judeus aculturados se encontraram a si mesmos repelidos pelo serviço tradicional Judaico por razões estéticas”.199
“Outro aspecto do Reformismo proximamente ligada à educação”, continua o Prof. Eugen Mosse, “foi a nova cerimónia da confirmação. Esta cerimónia, baseada em modelos Cristãos, destinava-se a suplementar (ou mais raramente, substituir) o tradicional Bar Mitzvá. Tantas meninas como meninos, ao se formarem na escola religiosa, lhes era dada uma prova oral pública sobre as bases da religião Judaica e eram então abençoados pelo rabino e formalmente introduzidos ao Judaísmo”.200
Assim, tal como aconteceu na Espanha alguns quatro séculos antes, os Judeus Reformistas estavam com efeito se tornando “conversos Ashkenazi”. De acordo com Donald L. Niewyk, Professor Emérito de História na SMU, “A vasta maioria dos Judeus era apaixonadamente comprometido ao bem-estar da sua única Pátria, a Alemanha”.201
E tal como aconteceu na Espanha, quando a maré começou a se virar contra os Judeus, e o antissemitismo começa a aumentar na República de Weimar da Alemanha, os Judeus foram alegremente esquecidos aos alarmes soantes. “Nem uns poucos viram o antissemitismo como um benefício positivo que podia impedir os Judeus da gradual amalgamação com a sociedade maior e derradeiro desaparecimento como um grupo religioso distinto,” narra o Prof. Niewyk.202 Sem reparar que deixar as nações nos mantem juntos em vez de o fazermos nós mesmos traz inimagináveis consequências, Dr. Kurt Fleischer, o líder dos Liberais na Assembleia da Comunidade Judaica de Berlim, argumentou em 1929 que “Antissemitismo é o flagelo que Deus nos enviou em prol de nos conduzir juntos e nos manter juntos”.203 Isto, novamente, prova certas as anteriormente citadas palavras do Prof. Cohn-Sherbok: “O paradoxo da vida Judaica é que … sem antissemitismo, podemos estar condenados à extinção”.204 Certamente, quão tragicamente todas elas são.
Como acabou por ser, Hitler, também, pensou que o Criador usava os Nazis para fazer a Sua obra. Em Mein Kampf, ele escreveu palavras semelhantes à afirmação mencionada acima de Isabel, rainha da Espanha, sobre o Senhor punir os Judeus através do rei: “A Natureza Eterna inexoravelmente vinga a infracção dos seus mandamentos. Assim hoje acredito que estou a gindo de acordo com a vontade do Todo-Poderoso Criador: ao defender a mim mesmo contra o Judeu, estou lutando pela obra do Senhor”.205
Uma vez que o Criador é a qualidade do amor e doação, o surgimento dos Judeus dos guetos expôs seu exílio dessa qualidade. Consequentemente, em vez de trazer solidariedade e responsabilidade mútua a suas sociedades anfitriãs, eles espalhavam egoísmo, que é ruinoso a qualquer sociedade, e desta forma foram encontrados com intolerância e repulsa pouco depois da sua aceitação. O filósofo e antropólogo Alemão, Ludwig Feuerbach, liga os Judeus ao egoísmo da seguinte maneira: “Os Judeus foram mantidos na sua peculiaridade até este dia. Seu pri ncípio, seu Deus, é o princípio mais prático no mundo – nomeadamente egoísmo. E além do mais, egoísmo na forma de religião. Egoísmo é o Deus que não deixa seus servos chegarem à vergonha. Egoísmo é essencialmente monoteísta, pois ele só tem um, único eu, como o seu fim”.206
Certamente, quem acolheria tamanha ameaça para a sociedade? É precisamente esse egoísmo que causa que toda e cada nação dentro da qual vivemos a repensar, e eventualmente se arrepender e repelir sua abertura.
A única coisa que tornou os judeus únicos e poderosos nos tempos antigos foi sua união, seu altruísmo, e como demonstramos, essa foi a única coisa que Abraão e Moisés desejavam dar ao mundo. Inicialmente as nações acolhem-nos no seu meio, subconscientemente esperando que partilhemos com elas essa qualidade. Mas ao descobrir que lhes estamos a dar o oposto, sua alegria torna -se desilusão e cólera. Enquanto continuarmos a desiludir as nações, continuaremos a receber o mesmo tratamento, e a tendência demonstra que os meios pelos quais elas mostrarão sua desilusão se tornarão cada vez mais duros.
A TERRA DAS POSSIBILIDADES ILIMITADAS
Assim que impregnado como uma força principal na Alemanha, o Judaísmo Reformista espalhou-se para os Estados Unidos, Hungria e u m número de países na Europa Ocidental. Este foi um resultado da emancipação da Judiaria Alemã.207 Um processo semelhante de dispersão ocorreu com o Judaísmo Conservador,208 e as duas denominações se tornaram as forças religiosas predominantes na Judiaria dos Estados Unidos a meio dos anos 1800.
Em Resposta à Modernidade: Uma História do Movimento do Reformismo no Judaísmo, o Professor Michael A. Meyer da HUC escreve que o Judaísmo Reformista na Alemanha constantemente teve de se defender a si mesmo de tanto o estabelecimento Ortodoxo impregnado e da intervenção governamental, estes impedimentos não existiam nos EUA. “Verdadeiramente, individual e coletivamente, os Americanos não eram inteiramente livres do preconceito”, Meyer acrescenta, “mas nos Estados Unidos não havia controle governamental sobre a religião, nenhuma igreja conservadora estabelecida para definir o padrão da vida religiosa”.209
Em Resposta à Modernidade: Uma História do Movimento do Reformismo no Judaísmo, o Professor Michael A. Meyer da HUC escreve que o Judaísmo Reformista na Alemanha constantemente teve de se defender a si mesmo de tanto o estabelecimento Ortodoxo impregnado e da intervenção governamental, estes impedimentos não existiam nos EUA. “Verdadeiramente, individual e coletivamente, os Americanos não eram inteiramente livres do preconceito”, Meyer acrescenta, “mas nos Estados Unidos não havia controle governamental sobre a religião, nenhuma igreja conservadora estabelecida para definir o padrão da vida religiosa”.209
Assim, o Judaísmo Reformista e Conservador encontra na América uma terra de possibilidades ilimitadas. A mentalidade da amalgamação com a sociedade anfitriã, predominantemente Cristã, finalmente encontrou solo fértil no qual crescer. De acordo com o Prof. Meyer, “Judeus Alemães nunca conseguiram sentir que eram realmente parceiros em moldar o destino da nação com a qual eles tanto se identificaram. Os Estados Unidos eram diferentes neste respeito também. Como todas as principais nações Europeias tinha achado seu próprio sentido profundo de missão, mas essa missão repousava sobre um destino não só não concretizado mas nem sequer totalmente determinado. Na América, os Judeus Reformistas podiam sentir que seu próprio conceito de missão podia ser cozido num sentido de propósito nacional rudimentar ainda maior”.210
Certamente, com a óbvia exceção de Israel, a contribuição dos Judeus para a formação de uma nação nunca foi mais substancial do que foi, e ainda é nos Estados Unidos. Seja na economia, entretenimento, educação, política ou qualquer outro aspecto da vida Americana, os Judeus desempenham um papel principal, se não condutor. Nunca em toda a história estiveram os Judeus numa posição melhor para concretizar o papel para o qual foram escolhidos. Eles estão embutidos em cada canto da vida pública Americana e impregnados nos meios que determinam o discurso público e a opinião pública. Considerando a predominância da cultura Americana mundialmente, os Judeus conseguem agora afetar mudanças que impactarão o mundo inteiro.
Colocando-o diferentemente, apesar do antagonismo para os Estados Unidos vindo de outras nações poderosas, a cultura global – e desta forma os padrões sociais – são ainda predominantemente Americanos. Os filmes dominantes vêm da América, a música pop vem principalmente da América, os principais canais de notícias vêm da América, e a Internet é dominada por empresas Americanas tais como a Google, Facebook, Microsoft, e Apple. Neste sentido, a América é para o mundo o que Nova Iorque é para a América – se você conseguir lá, conseguirá em qualquer lugar.
Os Judeus Americanos, desta forma, transportam uma responsabilidade maior por oferecer o que devem que qualquer outra Judiaria, talvez excluindo a do estado de Israel. Se a Judiaria Americana se une e projeta os valores da garantia mútua, o resto da sociedade Americana seguirá. Hoje, muitos Americanos não compreendem que os princípios sobre os quais o Sonho Americano foi formado já não são verdadeiros. O egoísmo feroz e um sentido excessivo de benefício pessoal consumiram tudo o que era bom sobre a liberdade de dizer o que se pensa, iniciar, trabalhar duro e ter sucesso e viver pela sua fé.
Há tanta violência, desconfiança, competição e exploração na sociedade americana que a menos que uma grande mudança ocorra muito em breve, a sociedade vai implodir. E se isso acontecer, os Judeus, como sempre, serão tidos como culpados. Argumentos sobre a contribuição Judaica para a ciência, cultura e economia serão refutados, e os Judeus serão os óbvios malfeitores aos olhos de todos. Antissemitismo que sempre esteve latente durante várias gerações rugirá para a superfície, e a repetição dos horrores da Alemanha Nazi não podem ser descartados.
Como vimos no decorrer deste livro, Judeus e não- Judeus em semelhança são profundamente conscientes de que os Judeus são essencialmente uma força de ação, uma unidade construída para uma missão muito específica. Em 1976 na Conferência Central de Rabinos Americanos (CCAR) adoptou uma plataforma que era intitulada, “Judaísmo Reformista: Uma Perspectiva Centenária”. Nessa plataforma a conferência anunciava, “Aprendemos que a sobrevivência do povo Judeu é a mais alta prioridade e que ao levar a cabo nossas responsabilidades Judaicas, ajudamos a mover a humanidade para sua concretização messiânica”.211
Certamente, atualmente, o povo Judeu são a única nação dentro da qual coesão e subsequente revelação, realização e aquisição da qualidade do Criador, a qualidade da doação, são possíveis. Nossa “concretização messiânica,” quer as delegações da conferência estivessem conscientes disso ou não, é para que todas as nações obtenham as qualidades supra mencionadas e desfrutarem de seus benefícios. Até que concretizemos nosso papel o mundo continuará a culpar-nos de cada adversidade e apuro que cai sobre ele. E quanto mais evitamos nossa missão, mais duramente eles nos forçarão de volta a ele.
O profeta Jonas deve ser um lembrete para cada Judeu que nossa vocação está pré- ordenada e não é negociável. Podemos segui-la voluntariamente e colher seus benefícios, ou segui-la involuntariamente e colher as punições do mundo, como a história provou tantas vezes.
Num espírito muito disposto, a seção final da plataforma é adequadamente intitulada, “Esperança: Nossa Obrigação Judaica”, Nessa secção, a CCAR assume um compromisso soberano (ênfases são do editor): “…nosso povo sempre recusou desesperar. Os sobreviventes do Holocausto, sendo concedidos com a vida, seguravam-na, nutriam-na, e, se elevando acima da catástrofe, demonstraram à humanidade que o espírito humano é indominável. O Estado de Israel … demonstra o que um povo unido consegue concretizar na história. A existência do Judeu é um argumento contra o desespero; a sobrevivência Judaica é uma garantia para a esperança humana.
“Nós permanecemos testemunhas de Deus de que a história não é sem sentido. Nós afirmamos que com a ajuda de Deus as pessoas não são impotentes para afetar seu destino. Nós nos dedicamos a nós mesmos, como fizeram as gerações de Judeus que vieram antes de nós, de trabalhar e esperar esse dia em que ‘Eles não magoarão ou destruirão de todo Minha montanha sagrada pois a terra estará cheia do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar”.212
Certamente, a história, especialmente a história Judaica, não é sem sentido. Ela tem um propósito educativo: nos ensinar nosso papel na vida e nos mostrar o caminho certo a partir do caminho errado, o caminho doce do doloroso. Todavia, é nossa escolha por que caminho queremos avançar.
Na sua “Introdução ao Livro do Zohar”, o Cabalista do século XX, Baal HaSulam, relaciona-se especificamente ao papel do povo Judeu deste tempo: “Tenha em mente que em tudo há interioridade e exterioridade. No mundo em geral, Israel, os descendentes de Abraão, Isaac e Jacob, são considerados a interioridade do mundo [mais próximos ao Criador], e as setenta nações [o resto das nações] são consideradas a exterioridade do mundo. …Também, há interioridade em cada pessoa de Israel – a Israel no interior – que é o ponto no coração [desejo pelo Criador, pela doação] e há exterioridade – as Nações interiores do Mundo [todos os outros desejos]…
“Quando uma pessoa de Israel aumenta e dignifica a sua interioridade, que é a Israel nessa pessoa, sobre a exterioridade, que são as Nações do Mundo nela … ao assim fazer, um faz os filhos de Israel pairar acima em interioridade, e exterioridade do mundo também. Então as nações do mundo … reconhecem e admitem o valor dos filhos de Israel.
“E se, Deus proíba, for ao contrário, e um indivíduo de Israel aumenta e valoriza a sua exterioridade, que são as nações do mundo nele, mais que a Israel interior nele, como está escrito (Deuteronômio 28), ‘O estranho que está no meio de vós’. Ou seja a exterioridade nessa pessoa sobe e paira, e você mesmo, a interioridade, o Israel em si, se afunda? Com estas ações, se causa a exterioridade do mundo em geral – as nações do mundo – a pairarem cada vez mais alto e superarem Israel, os degradando até ao chão, e os filhos de Israel, a interioridade do mundo, a mergulhar no fundo.
“Não fique surpreso que as ações de uma pessoa tragam elevação ou declínio ao mundo inteiro, pois é uma lei inquebrável que o geral e o particular são tão idênticos como duas ervilhas numa vagem. E tudo o que se aplica ao geral, se aplica ao particular, também. Além do mais, as partes perfazem o qu e se encontra no todo, pois o geral pode aparecer somente após a aparição das partes nele, correspondendo à quantidade e qualidade das partes. Evidentemente, o valor de uma ação de uma parte eleva ou declina o todo inteiro”.213
Além do mais, continua Baal HaSulam, “Quando se aumenta o trabalho na interioridade da Torá e seus segredos [esforço para alcançar o Criador], a essa extensão a pessoa faz a virtude da interioridade do mundo – que são Israel – pairar alto acima da exterioridade do mundo, que são as Nações do Mundo. E todas as nações reconhecerão e admitirão o mérito de Israel sobre elas, até à realização das palavras, ‘E o povo os tomará, e os trará ao seu lugar: e a casa de Israel os possuirá na terra do Senhor’ (Isaías 14, 2), e também ‘Assim disse o Senhor Deus, Eis, Eu levantarei minha mão para as nações, e definirei meus padrões aos povos: e elas vos trarão vossos filhos nos seus braços, e vossas filhas serão transportadas nos seus ombros’ (Isaías 49:22).
“Mas se, Deus proíba, é ao contrário, e uma pessoa de Israel degrada a virtude da interioridade da Torá e seus segredos, que lida com a conduta de nossas almas e seus graus [realização do Criador e a transmissão dessa realização] … [as nações] humilharão e desgraçarão os filhos de Israel, e considerarão Israel como supérflua, como se o mundo não tivesse necessidade deles”.214
Quando isso acontece, acrescenta ele, “a exterioridade do mundo inteiro, sendo as Nações do Mundo, se intensificam e revogam os Filhos de Israel – a interioridade do mundo. Em tal geração, todos os destruidores do Mundo levantam suas cabeças e desejam principalmente destruir e matar os Filhos de Israel, como está escrito (Yevamot 63), ‘Nenhuma calamidade vem ao mundo senão por Israel. ‘ Isto significa que, como está escrito acima nas correções, que eles causam pobreza, ruína, roubo, assassínio e destruição do mundo inteiro.”215
Em conclusão, se levarmos a cabo nosso papel e passarmos a luz da benevolência ao mundo, a qualidade do Criador, a interioridade de que Baal HaSulam fala, então “a interioridade das Nações do Mundo, os Justos das Nações do Mundo, dominarão e submeterão sua exterioridade, que são os destruidores. E a interioridade do mundo, também, que é Israel, subirá no seu mérito e virtude sobre a exteriorida de do mundo, que são as nações. Então todas as nações do mundo reconhecerão e admitirão o mérito de Israel sobre elas.
“E eles seguirão as palavras (Isaías 14:2), ‘E as pessoas os tomarão, e os trarão ao seu lugar: e a casa de Israel os possuirá na terra do Senhor”. E também (Isaías 49:22), “E eles trarão vossos filhos nos seus braços, e vossas filhas serão carregadas nos seus ombros”.216 (Repetição das citações está no texto original.)
Pode parecer uma tarefa robusta para um número tão pequeno de pessoa s fazerem diferença tão grande no mundo, mas na verdade, o sucesso enquanto uma nação e no sucesso de nossa missão, o próximo capítulo será dedicado às palavras de nossos sábios durante as eras como eles descrevem seus pensamentos sobre união. Subsequentem ente, examinaremos o meio pelo qual podemos alcançar essa união.