Dr. Michael Laitman Para mudar o Mundo – Mude o Homem

CAPÍTULO 10: Vivendo num Mundo Integrado

Do livro “Como Um Feixe de Juncos”

Um Mundo Integrado Requer a Educação Integral

No capítulo anterior, citamos as palavras de Baal HaSulam do seu ensaio, “A Liberdade”,  afirmando  que  estamos  “obrigados  a  pensar  e examinar como eles [o meio social] sugerem”, e que nós somos “negados de qualquer força para criticar ou mudar”.247 Baal HaSulam concluiu que para evitar um destino predeterminado, podemos mudar o ambiente, que por sua vez nos mudará e nossos destinos. Nas suas palavras, “Aquele que se esforça por continuamente escolher um bom ambiente é digno de  louvor  e  recompensa … não devido aos seus bons pensamentos e ações …mas devido aos seus esforços para  adquirir  um  bom ambiente, que traz… bons  pensamentos”.248

Para o colocar em termos mais contemporâneos, em prol de canalizarmos nossas vidas e as vidas dos nossos filhos numa direção mais positiva, precisamos de nutrir valores   sociais   que   promovam   a   direção   positiva  que desejamos instar. Precisamos nos educar a nós mesmos, nossos filhos, e a sociedade como um todo em direção à garantia mútua, responsabilidade mútua e eventualmente para a união e coesão. Como foi demonstrado pelo livro, essa é nossa vocação enquanto  Judeus.

Não precisamos de conceber qualquer novo meio de educação para alcançar esta meta. Tudo o que precisamos    é mudar o meio que já usamos—os meios de comunicação de massa, a Internet, o sistema de educação, nossos laços sociais e familiares—com o objetivo de promover a afinidade e mútua responsabilidade ao invés de prevalecer    a narrativa de separação e  alienação.

Embora mais frequente que o inverso, os traços de união e afinidade, e acima de tudo, de responsabilidade mútua, estão dormentes dentro de nós Judeus, é nosso dever, certamente nossa vocação os despertar e os oferecer como nossa dádiva ao mundo. Como foi demonstrado repetidamente neste livro, união é a dádiva dos Judeus, a qualidade que nos torna únicos, e a  qualidade  que  devemos doar ao resto do mundo. Ela é a qualidade que o mundo precisa hoje, e somos nós que estamos obrigados a nutri-la por dentro, e então a entregar ao mundo.

Há duas maneiras de transmitir responsabilidade mútua e a qualidade de doação. A primeira, dirigida a aqueles com “pontos no coração,” como mencionado anteriormente no livro, é o estudo direto da Cabalá. De acordo com o nosso nível de interesse, isso pode ser feito  em variados níveis de intensidade,  desde  assistir  programas de TV a estudar atentamente (e intensamente) com um grupo e um professor. A outra maneira é um método   de   educação   direcionada   à   união   dirigido   a induzir coesão e um sentido de responsabilidade mútua dentro da sociedade. Elaborarei  sobre  estas  maneiras  uma de cada vez.

 

O CAMINHO DO “PONTO NO CORAÇÃO”

Para alguns de nós, a maneira de chegar à união é relativamente simples. Já mencionamos o “ponto no coração,” essa sede de compreender do que se trata a vida,   o que faz o mundo girar, o anseio que permitiu a Adão, Abraão, Isaac, Jacob, Moisés e a nação inteira que surgiu dos exilados da Babilônia a desenvolver um método de correção que torna a inclinação ao mal em bondade.  Aqueles que têm esse ponto no coração podem começar a estudar os textos que os Cabalistas deixaram  para  nós  como um meio de alcançar o Criador, a qualidade de doação. No caminho eles aprenderão como se unirem em um nível profundo e estarão prontos para passar  essa  união  aos outros.

Na nossa geração, os textos mais instrumentais para alcançar esses propósitos são O Livro do Zohar com o comentário Sulam (Escada) de Baal HaSulam, os escritos   do ARI, preferencialmente com os comentários de Baal HaSulam, publicados em seu Talmude Esser Sefirot (O Estudo das Dez Sefirot), bem como os outros escritos de  Baal HaSulam, publicados em Os Escritos do  Baal  HaSulam, para tornar estes textos e outros mais acessíveis, estabelecemos uma biblioteca online gratuita de textos autênticos Cabalísticos, traduzidos em dezenas de línguas.

No Hebraico original, podem ser encontrados em www.kab.co.il, e traduções de muitos dos textos, incluindo até uma versão de O Livro do Zohar, intitulada, Zohar para Todos, que consolida o texto de Rabi Shimon Bar Yochai (Rashbi)  com  o  comentário  de  Baal  HaSulam  — existem em Inglês bem como em www.kabbalah.info, a custo zero e sem quaisquer condições  prévias.

Também disponíveis nos endereços  web  acima  citados, estão os escritos de meu professor, Rav Baruch Shalom Ashlag (o Rabash), o primogênito de  Baal  HaSulam, e sucessor. Embora poucos dos seus escritos tenham sido traduzidos para Inglês, todos os seus ensaios que ensinam aos estudantes como promover união em  grupo s de estudantes foram publicados em Inglês no livro, Os Escritos Sociais do Rabash. Para aqueles que preferem cópias originais dos textos, todas as mencionadas publicações existem impressas, e podem ser adquiridas em www.kabbalahbooks.info ou em amazon.com e outras lojas online.

Adicionalmente, estudantes veteranos  estabeleceram um Centro de Educação que ensina as bases da Cabalá e como a implementar para que ela se torne parte da nossa vida diária, complementando o nosso crescimento pessoal para obter as nossas metas na vida. Para estudantes mais avançados, lecciono uma aula de três horas diária transmitida ao vivo em www.kab.tv, com simultâneas interpretações para todas as principais línguas—Inglês, Espanhol, Francês, Russo, Alemão, Português e outras. Em três aulas, procuro avançar os estudantes tão rápido quanto o possível e facilmente enquanto aderindo aos modos de ensino que recebi do meu professor veterano, o Rabash.

Nos últimos anos, também temos transmitido programas em canais de televisão americanos tais como JLTV e a Shalom TV, principalmente aos fins-de-semana. Naturalmente, estes programas não são estudos “hardcore” de Cabalá, mas certamente são uma grande referência para qualquer pessoa que deseje “molhar os seus pés” e ver do  que se trata este  estudo.

 

EDUCAÇÃO INTEGRAL DIRECIONADA À UNIÃO

Estudar Cabalá é uma maravilhosa maneira de alcançar união. Ela é um método construído especificamente para esse propósito. Contudo, maioria das pessoas não têm um “ponto no coração” vigoroso que exija respostas. Portanto, é improvável que a maioria das pessoas queira se envolver nestes estudos. E todavia, a necessidade de estabelecer uma sociedade coesa é uma necessidade global, não uma necessidade pessoal, Judaica, ou até relacionada a um país.

Dave Sherman, um líder em estratégia de negócios e perito em sustentabilidade descreveu o presente predicamento global no filme, Crossroads: Dores de Parto   de uma Nova Visão Mundial: “O último Relatório  de  Riscos Globais, publicado pelo Fórum  Econômico  Mundial, apresenta um mapa de interligação de riscos surpreendente. Ele revela claramente como todos os riscos globais estão inter-relacionados e entrelaçados, de modo que riscos econômicos, ecológicos, geopolíticos, sociais e tecnológicos são interdependentes. Uma crise em determinada área rapidamente conduzirá a uma crise em outras áreas. A interligação e complexidade deste mapa comparou para nossa surpresa o impacto e velocidade das recentes crises financeiras ilustrando a discórdia que existe entre todos os sistemas que construímos, e demonstra precisamente quão desconexos nos tornamos. Nossas tentativas de gerir estes sistemas são fragmentadas e simplistas, e não estão à altura dos desafios que hoje enfrentamos”.249

Para responder precisamente a esse contraste entre nossa própria desconexão e a interligação dos sistemas que construímos,    precisamos    desenvolver    um  pensamento interligado, e percepção inclusiva do nosso mundo. A Educação Integral (EI), a anteriormente mencionada “educação direcionada à união,” responde precisamente a esses pontos.

O termo, “integral”, de acordo com Thomas J. Murray da Escola de Educação na Universidade de Massachusetts, “significa muitas coisas para muitas pessoas, e o mesmo é verdadeiro para Educação Integral”.250 A percepção mais comum da EI, é descrita na Wikipedia, é que ela é “a filosofia e a prática da educação para a criança inteira: corpo, emoções, mente, alma e espírito”.251

Relacionar-se à criança inteira no processo  de educação é certamente recomendado. Contudo, no mundo interligado de hoje, simplesmente não é suficiente. Como demonstramos no capítulo anterior, aprendemos principalmente, senão somente através do ambiente. Desta forma, o foco da educação deve estar em formar um ambiente que incite nossos valores  escolhidos  e  informação para crianças e adultos de maneira igual.

ESCOLA PARA ADULTOS: UM GUIA PARA OS  PERPLEXOS

Além do nível falante e humano da Natureza, todos os outros níveis, inanimado, vegetativo e animado,  operam  em garantia mútua. Homeostase, como definida no Dicionário Webster, corresponde perfeitamente  à  descrição de garantia mutua em todos os níveis abaixo do falante: “Um estado relativamente estável de equilíbrio ou uma tendência para tal estado entre os diferentes mas interdependentes elementos ou grupos de  elementos  de  um organismo, população ou  grupo”.252

Nossa presente sociedade, predominantemente capitalista, afasta -se do equilíbrio, zomba da  tendência  para ele, e tem pavor de interdependência. Na realidade, patrocinamos e lutamos pelo oposto. Louvamos concretizações individuais no  desporto,  neg  ócios,  políticas e no ensino, e idolatramos aqueles no topo. Negligenciamos aqueles que contribuem para o bem estar do coletivo e acarinhamos o individualismo e independência.

Mas uma sociedade que funcione desta maneira não consegue durar muito tempo. Pe nse em corpos humanos.  Se nossos corpos se conduzissem  a  si  mesmos  pelos valores que predominam nossa sociedade, não duraríamos além da diferenciação celular inicial na fase do embrião. Assim que as células começassem a formar diferentes órgãos, elas começariam a lutar umas com as outras pelos recursos e o embrião se desintegraria. A vida não seria possível se qualquer parte dela abraçasse os valores individualistas que acabamos de descrever. É por causa da vida, isto é a Natureza, adere às regras da homeostase que nós podemos desenvolver e sustentar a nós mesmos, e evoluímos até ao ponto em que podemos ponderar a natureza e propósito de nossa existência.

Certamente, não só os organismos, mas nosso ecossistema planetário inteiro, até o cosmos, estão num estado de homeostase. Quando o equilíbrio se desmorona, problemas em breve se seguem. Um relatório revelador submetido ao Departamento da Educação Americano em Outubro de 2003 por Irene Sanders e Judith McCabe claramente demonstra o que acontece quando desequilibramos um ecossistema do seu estado homeostático.  “Em  1991,  uma  orca,  baleia  assassina,  foi vista comendo uma lontra. As orcas e lontras normalmente coexistem pacificamente. Então, o que aconteceu? Os ecologistas descobriram que o sebastes e arenque também estavam declinando. As orcas não comem esses peixes, mas focas e leões marinhos sim. E focas e leões marinhos são o que as orcas normalmente comem, e sua população  também declinou. Então privadas de suas focas e leões marinhos, as orcas começaram a se voltar às brincalhonas lontras marinhas para seu jantar.

“Então as lontras desapareceram devido aos peixes, que elas nunca comeram em primeiro lugar, desapareceram. Agora, a ondulação espalha -se. As lontras já não estão lá para comer os ouriços do mar, então a população  de  ouriços do mar explodiu. Mas os ouriços do mar vivem de florestas de algas do fundo do mar, então eles estão  matando as algas. As algas foram o lar para os peixes que alimentam as gaivotas e águias. Como as orcas, as gaivotas podem encontrar outra comida, mas as águias não conseguem e estão em apuros.

“Tudo isto começou com o declínio do sebastes e arenque. Porquê? Bem, os caçadores de baleias japoneses têm matado a variedade de baleias que comem os mesmos organismos microscópicos que alimentam o pollock [um tipo de peixe carnívoro]. Com mais peixe para comer, o pollock floresce. Eles por sua vez atacam o sebastes e arenque que eram alimento para as focas e leões marinhos. Com o declínio na população de leões marinhos e focas, as orcas têm de se voltar para as lontras”.253

Pense na maneira que nos comportamos  em relação aos outros. Somos competitivos, alienados, isolados uns dos outros, e aspiramos sobressair sobre os outros. Mantenha em mente que esta não é a exceção, mas a regra, os valores que ensinamos aos nossos filhos como a maneira “certa” de ser. É por isso que uma escola adulta, um guia para o adulto perplexo, é necessária.

A maneira na qual esta escola vai operar deve variar    de lugar para lugar e de país para país. Cada nação e pais tem a sua própria mentalidade e cultura,  um  nível  diferente de avanço tecnológico e meios de comunicação, e tradições pelas quais as pessoas aprendem. Por esta razão, cada país, por vezes cada cidade terá de desenvolver seu próprio método de instrução. Contudo, o conteúdo fundamental, os princípios que todos estes sistemas de educação adulta vão leccionar devem ser os mesmos. Caso contrário o resultado será disparidade no compromisso populacional para a responsabilidade  mútua  e compreensão da sua importância nas nossas vidas.

Vamos examinar alguns dos princípios fundamentais que a educação para a responsabilidade  mútua  deve  conter.

 

MÍDIA PRÓ-SOCIAL

Nos Escritos de Baal HaSulam, Ashlag afirma,  “O maior de todos os imagináveis prazeres é ser favorecido pelas pessoas. É vantajoso desperdiçar toda a nossa energia  e prazeres corpóreos para obter uma certa quantia dessa doce coisa. Este é o íman que atraiu os maiores de todas as gerações, e pelo qual eles trivializaram a vida da carne”.254

Desta forma, para alterar  nosso  comportamento  social, nós devemos mudar o nosso meio social de um que promove individualidade para um que promova mutualidade. Praticamente falando, podemos usar  as  mídias para demonstrar como o trabalho em grupo rende melhores resultados que o trabalho individual, e como a competição é prejudicial à nossa felicidade e saúde. Assim que percebemos que há uma recompensa maior  na  conduta cooperativa que no individualismo, será fácil colaborar  e partilhar.

Em seu livro inspirador, A Sabedoria das Equipes:  Criar  a  Organização  de  Alta-Performance,  os  autores Jon Katzenbach e Douglas K. Smith descrevem uma história de sucesso que vale a pena mencionar no contexto das vantagens do trabalho de equipe. A Burlington Northern Railroad era uma empresa bem sucedida de transportes, e é atualmente parte de uma grande corporação detida pela Berkshire Hathaway, que é controlada pelo investidor Warren Buffett. Em 1981, a Burlington Northern Railroad sofreu uma revolução por sete homens — Bill Greenwood, Mark Cane, Emmett Brady, Ken Hoepner,  Dave  Burns,  Bill Dewitt, e Bill Berry — que usaram a desregulação Americana da indústria ferroviária para acelerar a entrega  de fretes e minimizar o custo da entrega. É assim que Katzenbach e Smith descrevem o espírito com o qual eles levaram a cabo essa revolução: “Todas as verdadeiras equipes partilham um compromisso com seu propósito comum. Mas somente membros de equipe excepcionais … também se tornam profundamente dedicados uns aos outros. Os sete homens desenvolveram uma preocupação     e compromisso um pelo outro tão profundas como sua dedicação à visão que estavam tentando concretizar. Eles procuraram o bem estar uns dos outros, apoiaram-se uns aos outros quando quer e como quer que fosse necessário     e trabalharam constantemente uns com os outros  para  fazer o que fosse necessário fazer”.255

Tal história podia ser um advogado poderosos para o caso da união sobre a competição. O único problema é que no nosso mundo muito competitivo, até a união é usada para ganhar alavanca pessoal para o grupo  que  a  pratica (ou devemos dizer, que a comete, devido ao seu mau uso). No mundo interligado e interdependente de hoje, este tipo de união é instável.

Na nossa sociedade egocêntrica, união durará somente enquanto for lucrativa para os indivíduos envolvidos. No capítulo anterior, na secção, “De Eu, a Nós, a Um”, descrevemos os efeitos doentes da competição. Ao mesmo tempo, reconhecemos que “com nosso presente conhecimento da natureza humana, não podemos evitar  esta atitude competitiva e alienante porque ela vem de dentro de nós, uma ditadura do quarto nível falante de desejo, e não podemos parar a evolução dos desejos”.

Contudo, já dissemos que não precisamos de impedir nossa evolução, só mudar para uma direção construtiva  para todos. O meio mais instrumental para concretizar isto  é através dos meios de comunicação de massa. Se desenvolvermos conteúdo de mídia pró-social e nos bombardearmos a nós mesmos com ele tanto quanto atualmente nos bombardeamos com anúncios e informativos que visam esgotar nossas contas bancárias,  nos encontraremos vivendo numa sociedade muito  diferente da atual.

Os meios domésticos contemporâneos das pessoas contêm uma grande dose de entretenimento das  mídias, seja através da TV ou via a Internet. Uma pu blicação pelo Departamento de Educação Americano intitulada, “Guia  das Mídias—Como Ajudar Seus Filhos No Começo da Adolescência”, afirmou, “É difícil compreender o mundo dos jovens adolescentes sem considerar o enorme impacto dos meios de comunicação de massa nas suas vidas. Eles competem com a família, amigos, escolas, e comunidades  na sua habilidade de moldar os interesses, atitudes e valores dos jovens”. 256 Lamentavelmente, a maioria dos interesses que a mídia molda são antissociais.

Por exemplo, uma publicação online pela Universidade do Sistema de Saúde de Michigan declara que  “Literalmente milhares de estudos desde os anos 50 questionaram se há  um elo entre a exposição à violência da mídia e o comportamento violento. Todos senão 18 responderam, ‘Sim’. …De acordo com a AAP (Academia Americana de Pediatras), ‘Extensiva evidência de pesquisas indica que a violência da mídia pode contribuir para o comportamento agressivo, dessensibilização à violência, pesadelos e medo  de  ser magoado’”.257

Para compreender quanto a  violência as  jovens mentes absorvem,          considere            esta        informação        da publicação acima mencionada: “Uma criança mediana Americana      verá       200.000 ações                    violentas             e                    16.000 assassinatos na TV pelos 18 anos de idade”.258 Se este número não parece alarmante, considere que há 6.570 dias em dezoito anos. Isto significa que em média,  pelos dezoito anos de idade uma criança terá sido exposta a ligeiramente mais de trinta ações de violência na TV, 2.4 dos quais são assassinatos, todos os dias da sua vida jovem. Na mesma nota, no seu livro,  Desenvolvimento Durante a Vida: Uma Abordagem Psicológica,  publicado em 2008, Barbara M. Newman, PhD, e Philip R. Newman descrevem como “Exposição a muitas  horas  de  violência na televisão aumenta o reportório de comportamento das jovens crianças e aumenta a prevalência de sentimentos de cólera, pensamentos e ações. Estas crianças são apanhadas na fantasia violenta, tomando parte na situação televisiva enquanto assistem”.259 Se nos recordarmos dos neurônios- espelho, e considerarmos quanto nós, e especialmente crianças, aprendem por imitação, podemos só imaginar que  dano  irreversível  que  a  violência  lhes  causa,  e  já estamos sentindo os efeitos desta educação enferma.

Desta forma, desenvolver mídias que sejam  pró-  sociais e de pró-responsabilidade mútua é imperativo para nossa sobrevivência enquanto sociedade habitável.  Isso  deve desempenhar um papel chave na mudança da atmosfera pública de alienação para camaradagem. As mídias fornecem-nos praticamente tudo o que sabemos sobre o nosso mundo. Até a informação que recebemos de amigos e da família frequentemente chega via mídias — a versão moderna da  parreira.

Mas as mídias não nos fornecem simplesmente informação. Também nos oferecem petiscos sobre pessoas que aprovamos ou desaprovamos, e formamos  nossas visões baseando-nos no que vemos, escutamos, ou lemos. Porque seu poder sobre o público não tem rival, se as  mídias mudam para a convergência e união, eles também mudarão a visão mundial de maioria das  pessoas  para  esses valores.

Presentemente, as mídias  focam-se  em  indivíduos bem sucedidos, magnatas da media, mega estrelas pop, e indivíduos ultra bem sucedidos que fizeram milhões às costas dos seus rivais. Em tempos de crise,  tais  como  depois do Furacão Sandy, ou durante inundações,  as pessoas unem-se em prol de se ajudarem umas às outras. Em tais tempos estas histórias, que as mídias transmitem abundantemente, ajudam a levantar a moral e dão-nos esperança de que o espírito humano não seja mau de todo. Mas, assim que o próximo item de notícias aparece, as mídias correm atrás dessa história e desaparece, levando com ela a fé no espírito humano. Em vez disso, sensações  de suspeita e alienação reavêm o horário nobre.

Para instalar uma mudança duradoura e fundamental na nossa visão mundial, para nos fazer desejar a qualidade de doação, as mídias devem apresentar a imagem completa da realidade, e nos informar da sua estrutura interligada e interdependente. Para este fim, devem produzir programas que demonstrem como essa qualidade afeta todos os níveis  da Natureza — inanimado, vegetativo, animado, e falante —   e encorajar as pessoas a emulá- la com o objetivo  de  equalizar nossa sociedade com os traços  da  Natureza  ou  seja, mutualidade e homeostase. Em vez de programas de entrevistas que idolatram pessoas que têm sucesso, estes programas devem louvar pessoas que ajudaram outras a ter sucesso.

Se as mídias mostram pessoas se preocupando umas  com as outras e as colocam num pedestal principalmente porque suas ações coincidem com a lei da Natureza, a Lei da Doação, isso gradualmente mudará o desejo do público de egocêntrico para a camaradagem. As pessoas começarão a sentir que há ganho pessoal em ser altruísta, possivelmente muito mais que o ganho onde há egoísmo, se há algum  ganho nele de todo.

Hoje, a mensagem predominante que as mídias devem retratar é, “União é divertida, e ela também é boa para você, junte-se”! Há várias e amplas maneiras pelas quais podemos demonstrar que a união é uma  dádiva.

Embora todo o cientista saiba que nenhum sistema na Natureza opera em isola mento, e que interdependência é o nome do jogo, a maioria de nós está inconsciente disso. Quando vemos como cada órgão físico funciona para beneficiar o corpo inteiro, como as abelhas colaboram em colmeias, como um cardume de peixes nada em uníssono  que pode ser confundido com um único peixe gigante, e como os chimpanzés ajudam outros chimpanzés, ou até humanos, sem qualquer recompensa em retorno, saberemos que a principal lei da Natureza é a da harmonia e coexistência.

As mídias devem mostrar-nos tais exemplos muito mais frequentemente que o fazem. Quando percebermos que é assim que a Natureza funciona, espontaneamente examinaremos nossas sociedades e nos esforçaremos para emular essa harmonia entre nós. Se nossos pensamentos começarem a mudar nesta direção, eles criarão uma atmosfera diferente e introduzirão um espírito  de  esperança e força nas nossas vidas, até antes deles implementarem esse espírito na realidade, uma vez que estaremos alinhados com a força da vida da Natureza — o Criador.

Porque, tal como acabamos de afirmar, nosso maior prazer é o de ganhar a aprovação das pessoas, se outros aprovarem nossas ações e visões nos sentiremos  bem  acerca de nós mesmos. Se eles desaprovarem  o  que  fazemos ou dizemos, sentimo-nos mal acerca de nós mesmos e tendemos a esconder ou modificar nossas ações para nos ajustarmos à norma social. Em outras palavras, porque é tão importante para nós nos sentirmos bem conosco mesmos, as mídias estão numa posição única para mudar as ações e visões das pessoas.

Não surpreendentemente, os políticos são as pessoas mais dependentes de votos na sociedade, pois  suas  carreiras e a própria vivacidade dependem da sua popularidade. Se lhes mostrarmos que mudamos nossos valores, eles mudarão os seus para seguir nossa conduta. E uma das maneiras mais fáceis e mais eficazes de lhes contarmos o que valorizamos é lhes mostrar o que queremos ver na TV! Se dermos elevadas classificações a programas que promovem união e camaradagem, os políticos irão se sintonizar nesse espírito e legislarão correspondentemente. Porque os políticos querem manter sua  posição,  precisamos  lhes  mostrar  isso,  para  reterem suas posições, eles têm que promover o que nós queremos que eles promovam —  união.

Quando formos capazes de criar uma mídia que promova união e colaboração em vez da glorificação de celebridades, criaremos um meio que nos persuada que união e responsabilidade mútua são boas.

 

AS CHAVES PARA A UNIÃO

Para desenhar uma sociedade mais coesa, cujos membros  são responsáveis uns pelos outros, as pessoas precisam cultivar algumas regras  básicas.

  1. Alimentação e outras necessidades: Primeiro e mais importante, as pessoas precisam ter segurança alimentar. Sem a confiança de que podem alimentar seus filhos e a si mesmas, as pessoas não sentirão que são partes integrais da sociedade porque constantemente estarão lutando por alimentos (se não física, então mentalmente).

Adicionalmente, é imperativo que as pessoas tenham segurança suficiente a respeito de serviços médicos, habitação, vestuário e educação. Todos os mencionados variarão dependendo da média do padrão de vida em cada localidade, mas sustento básico deve ser provido a todos num nível que preserve sua dignidade enquanto seres humanos e como membros integrais da sociedade.

Em retorno por garantir sustento básico, todos os membros da sociedade passarão por certa forma de treinamento, que os ajudará a compreender a natureza interligada e interdependente do nosso mundo — que é o porquê de eles estarem a receber estes serviços. Eles aprenderão que estar em uma sociedade que garante seu bem-estar também envolve alguns deveres. Estes se relacionarão às atitudes das pessoas umas para as outras, bem como sua contribuição de tempo ou serviços pelo bem comum.

Por exemplo, se certificarem que todas as crianças recebem educação básica não tem que custar ao estado um tostão. Isso pode ser feito através de professores desempregados que trabalham voluntariamente  em  troca de seu sustento básico. Esta medida contribuirá significativamente para a coesão social da comunidade, e juntamente com o treinamento  notarão  que  estão  tomando parte na formação de um mundo melhor, assim dando às pessoas outro incentivo positivo para se esforçarem  pela comunidade.

2. O treinamento: Já mencionamos o treinamento que ajudará as pessoas a compreender a natureza interligada e interdependente do nosso mundo. O paradigma social da Educação Integral sugere que cada cidadão, até mesmo cada residente do país tome parte neste treinamento.

O treinamento tem um propósito duplo — um social    e um econômico. O propósito econômico, que é mais um benefício suplementar que uma meta real em si mesma, é  de equipar as pessoas com o conhecimento necessário para se apoiarem mutuamente em tempos de  magro  vencimento. Essa parte do treinamento incluirá educação para o consumidor (finanças pessoais), para que as pessoas possam gerir seus gastos de  uma  maneira  economicamente viável usando recursos limitados.

A outra, parte mais extensiva do curso incluirá tópicos que dizem respeito à percepção de uma pessoa como parte de um todo maior que compartilha uma  meta  comum.  Esta percepção é imperativa para a coesão da  sociedade. Sem ela, será cada homem por si mesmo, uma sociedade muito competitiva.

A crescente dissonância entre este tipo de sociedade e    a direção agregadora da realidade de hoje sem dúvida aumentam  a  já  excessiva  pressão  sobre  o funcionamento social das pessoas, e o resultado será o desmoronar da sociedade. Se isso acontecer, como a história comprova e descreveu em anteriores capítulos, os Judeus serão  culpados, as consequências de tal são como quiser  adivinhar.

Desta forma, abaixo estão tópicos que acredito que devem ser incluídos no treinamento de EI com o objetivo  de impulsionar as pessoas para uma visão do mundo mais coesa e desta forma  sustentável:

  •  Interligação na economia, cultura e sociedade e o que isso significa para cada um de nós. Este tópico detalhará a evolução dos desejos e como no quarto nível, desejamos desfrutar de riqueza, poder e fama, ou seja prazeres egocêntricos e que estes desejos nos conduzem a conectar, embora negativamente, em prol de nos usarmos uns aos outros.
  •  Interdependência — porque nos tornamos interdependentes e como isso deve afetar nossas relações nos níveis pessoal, social e político. Este tópico deve continuar a explicação da evolução dos desejos e demonstrar porque nossos desejos de nos explorarmos uns aos outros nos tornam mais dependentes uns dos outros. Porque estes desejos nos fazem envolver em relações cada vez mais apertadas, enquanto albergando intenções naturalmente enfermas uns para os outros, estamos nos tornando cada vez mais interligados porque queremos usar uns aos outros. Todavia, somos igualmente interdependentes porque somos dependentes dos outros para a satisfação das nossas vontades.
  •  Melhorar as capacidades sociais, emocionais e mentais:
    • o Aprender como lidar com o desemprego e a resultante insuficiência financeira, stress e depressão.
    • o As aptidões de comunicação tais como aprender a escutar, como exprimir nossas emoções e necessidades claramente, respeitar -nos uns aos outros e como ler a linguagem corporal. A meta aqui é desarmar a agressão e estabelecer melhor entendimento mútuo.
    • o Resolver conflitos domésticos de uma maneira não-violenta.
    • o Socializar como um meio de aprendizagem, auto enriquecimento, mitigar tensões e restaurar a autoestima.
  •  Consumo das mídias: Como afirmado acima, os meios de comunicação de massa são a ferramenta mais poderosa para formar nossas visões e valores. Por esta razão, o consumo sábio das mídias consegue reduzir tendências agressivas, encorajar comportamento pró-social e fornecer informação essencial e entendimento do mundo e nosso lugar dentro dele. Para nos certificarmos, o termo, “mídia,” não se relaciona somente à TV e rádio, mas também à Internet, jornais e algumas formas da cultura pop, tais como filmes e música popular.
  •  Aptidões de gestão de tempo: Aprender a usar o nosso tempo para enriquecimento pessoal, expansão dos círculos sociais, adquirir novas aptidões ou melhorar aptidões profissionais e nutrir laços familiares mais sólidos.
  •  Qualificar estagiários como instrutores para futuros cursos e treinamentos.

Também, a frequência  física  é  possível,  o  treinamento será dado através de atividades sociais, simulações, trabalho em grupo, jogos e apresentações multimídia. A aprendizagem não  será  num  formato  frontal tradicional professor/aula. Em vez  disso,  o professor e os estudantes se sentarão num círculo e conversarão como iguais, assim aprendendo através de enriquecimento e partilha mútuos. Onde a participação física não é possível, a estrutura  educativa  será  amplamente interativa, com exemplos e atividades desenhadas  principalmente  para  a e-educação.

Os resultados de tal treinamento devem ser: 1) compreender como gerir a nossa vida pessoal no meio  social volátil e instabilidade econômica de hoje; 2) compreender que há uma lei natural que galvaniza esta revelação, que essa lei é tão severa e inexorável como a gravidade, e que devemos desta  forma  dominar  estes novos meios de lidar para o nosso próprio bem.

Embora todos tenhamos que saber como nos gerir a nós mesmos sob a Lei da Interdependência imposta pela   Lei da Doação, o Criador, isso não significa que todos tenham de estudar Cabalá. Aqueles que desejam estudar podem fazê-lo, mas aqueles que não têm  desejo  de  alcançar o Criador contribuirão precisamente o mesmo  para o “superorganismo da humanidade,” para usar as palavras  de  Christakis  e  Fowler,  ao  viver  simplesmente a

Da mesma forma você não precisa de  ser  um  eletricista qualificado para ligar a luz com sucesso e seguramente, nem todos têm que ser Cabalistas, ou um “perito no funcionamento da Lei da Doação,” para usar fraseado mais contemporâneo, sucessiva e seguramente aplicar a Lei da Doação às suas vidas. Afinal, esta lei existe com a meta de fazer o bem às Suas criações, como aprendemos no Capítulo 2. Desta forma, tudo o que precisamos de aprender é como usá -la adequadamente, tal como aprendemos a usar a eletricidade, gravidade, magnetismo e qualquer outra lei natural ou força para  nosso benefício.

Dito isso, tal como os eletricistas constroem  os  sistemas que todos usam seguramente sem qualquer conhecimento profissional, os Cabalistas  têm  que  construir os sistemas sociais e de ensino que inculcam a qualidade de doação na sociedade, para que todos possam usar estes sistemas beneficamente, até sem qualquer conhecimento  da Cabalá.

3. A mesa redonda: Um meio que é de principal importância, e assim merece um item em por si mesma, é o formato de discussão da mesa redonda. Neste tipo de discussão, t odos os participantes são de estatuto igual e representam visões diferentes, frequentemente opostas sobre assuntos que são críticos para o  bem-estar  e  sanidade da comunidade, cidade, estado, ou país.

A meta da deliberação não é de reconciliar diferenças ou induzir compromisso. Em vez disso, a meta é encontrar um denominador comum que se encontre acima dos conflitos e disputas. O resultado de encontrar tal elemento   é que os tópicos em disputa subitamente parecem menos importantes que anteriormente, e pálidos em comparação    à união e calor que os participantes agora sentem uns para os outros. Subsequentemente, soluções são facilmente encontradas para conflitos  anteriormente  persistentes  num espírito de boa-fé,  devido  ao  recentemente  descoberto  interesse comum.

Em Israel, várias organizações e movimentos implementaram o formato de discussão da mesa redonda.  O movimento Arvut (garantia mútua), por exemplo, implementou este meio de deliberação centenas de vezes e cada vez que este formato foi usado, foi relatado como um grande sucesso pelos próprios participantes.  Desta  maneira, problemas que não haviam sido resolvidos  durante anos foram resolvidos numa questão de horas.

Até agora em Israel, isto foi experimentado  em  grandes cidades, aldeias e kibbutzim, em aldeias Árabes e Druzas, reunindo os colonos da mais extrema direita da Judeia e Samária com Árabes da Cisjordânia, na Knesset (Parlamento Israelita),  e  dentro  de  populações  em conflito tais como emigrantes da Etiópia e antiga União Soviética. Estes eventos terminaram com uma profunda sensação de união e calor 100 por cento das vezes. Para testemunhos registados em vídeo e mais detalhes sobre as discussões da mesa redonda visite http://www.arvut.org/ en/round-table.

Discussões de mesa redonda foram conduzidas pelo mundo, também. Nova Iorque e São Francisco (EUA), Toronto (Canadá), Frankfurt e Nuremberga (Alemanha), Roma (Itália), Barcelona (Espanha), São Petersburgo e  Perm (Rússia), são só alguns dos muitos lugares onde esta forma de discussão foi implementada,  todos  desfrutando do mesmo sucesso que em Israel.

No espírito da igualdade, as atuais deliberações  também envolvem o público e seguem este procedimento: Um     painel     de     indivíduos     de     diversas     áreas   do conhecimento e agendas frequentemente conflituosas sentam-se à volta da mesa principal. Os palestrantes exprimem suas visões sobre um tópico declarado pelo anfitrião do evento. Seguidamente, o público faz perguntas aos palestrantes, às quais um ou mais deles  responde.  É uma regra inquebrável que os palestrantes não devem reprovar outros palestrantes ou interferir com suas  palavras. Crítica pessoal é também estritamente proibida. Deste modo, o público escuta uma variedade de visões que não se opõem uma à outra, mas em vez disso se complementam uma à outra.

Subsequentemente, o público divide-se em múltiplas mesas redondas e discute perguntas apresentadas pelo anfitrião da mesma maneira e espírito demonstrados pelo painel. Finalmente, as mesas reúnem-se novamente numa assembleia geral e cada mesa apresenta suas conclusões,  bem como partilha suas impressões do evento como um todo.

Recentemente, até algumas discussões de mesa redonda online foram experimentadas, e elas, também, foram muito bem sucedidas. Naturalmente, cada lugar tem sua mentalidade única, e cada veículo, um evento ao vivo, um encontro online, ou uma transmissão de TV , tem suas vantagens e desvantagens. Desta forma, não há dois eventos iguais. Todavia, o espírito da camaradagem e o  compromisso à responsabilidade mútua que se encontram na base de toda tal discussão garantem o sucesso destas deliberações únicas. Embora a ampla maioria  das  sociedades esteja ainda muito longe de viver a partir dos conceitos da garantia mútua, estas discussões, como os registos de vídeo demonstram, conseguem introduzir um sentido genuíno do que é viver em garantia mútua.

 

CRIANÇAS INTEGRALMENTE EDUCADAS

Enquanto adultos devem assumir responsabilidade por mudar seus meios sociais  positivamente,  a  situação  é muito mais complicada no que diz respeito a crianças e jovens. Aqui é a responsabilidade dos adultos, professores    e educadores, seja a través de iniciativas privadas ou com o apoio do governo, construir este meio de indução  de  coesão.

O presente sistema de educação promove competição sem diminuição. Por si mesma, a competição é natural e  não é naturalmente negativa. Mas se considerarmos a cultura competitiva de hoje e o que ela nos está fazendo, e tanto quanto o mais aos nossos filhos, é claro que estamos empregando mal esse traço.

Em Sem Concurso: O Caso Contra a Competição, Alfie Kohn, um conhecido dissidente da competição, citou o psicólogo, Elliot Aronson: “Desde o jogador de futebol da Pequena Liga que irrompe em lágrimas depois de sua  equipa perder, aos estudantes de segundo grau no estado de futebol a cantar ‘Somos o número um!’; desde Lyndon Johnson, cujo juízo foi quase certamente distorcido pelo seu desejo frequentemente afirmado de não ser o primeiro Presidente Americano a perder uma guerra, a um aluno da terceira classe que despreza seu colega de turma por uma performance superior num teste de aritmética, manifestamos uma vacilante obsessão cultural pela vitória”.260

Certamente, bibliotecas e a Internet são abundantes de estudos que indicam que a competição e individualismo são maus e a colaboração e cooperação são bons, tanto no trabalho   como   na   escola.   Jeffrey   Norris   publicou uma história no Centro Noticioso da UCSF, intitulada, “O Prémio Nobel de Yamanaka Salienta o Valor do Treinamento e Colaboração”. Nessa história, argumentou Norris, “O solitário cientista trabalhando até tarde à noite para completar uma experiência inova dora que conduz a um momento Eureka de alegria solitária é uma cena  comum dos filmes de Hollywood, mas na ciência da realidade é um envolvimento altamente social”.261 Mais tarde, na secção, “Colaboração Sinérgica Impulsiona o Progresso”, ele acrescenta, “Nos moldes abertos dos  edifícios modernos de laboratório, cada investigador cientifico principal trabalha com vários colegas pós- doutorados, estudantes graduados e técnicos e um visitante não sabe dizer onde um laboratório termina e outro começa. Ideias cientificas e camaradagem são nutridas no meio interactivo”.262

E semelhante na escola. Numerosas experiências foram já conduzidas sobre os benefícios da colaboração no sistema de educação. Num ensaio chamado, “Uma História de Sucesso da Psicologia Educativa: Teoria da Interdependência Social e Aprendizagem Cooperativa”, os professores da Universidade do Minnesota, David W. Johnson e Roger T. Johnson apresentam o caso para a  teoria da “interdependência social”. Nas suas palavras, “Mais de 1200 estudos de investigação foram conduzidos nas passadas 11 décadas sobre esforços cooperativos, competitivos e individualistas. Achados destes estudos validaram, modificaram, refinaram e prolongaram a teoria”.263

Os autores avançaram para detalhar o qu e estes estudos haviam descoberto. Os pesquisadores compararam  a eficácia da aprendizagem cooperativa à frequentemente usada aprendizagem individual e competitiva. Os resultados foram    inequívocos.    Em    termos    de    responsabilidade individual e responsabilidade pessoal, eles concluíram, “A interdependência positiva que liga grupos de membro  juntos está postulada a resultar em sentimentos de responsabilidade por (a) completar nossa quota  do  trabalho e (b) facilitar o trabalho de outros membros do grupo. Além do mais, quando a performance de  uma  pessoa afeta o resultado dos colaboradores, a pessoa sente- se responsável pelo bem-estar  dos  colaboradores  bem como o seu próprio. Falhar por si só é ruim, mas falhar   para com os outros é pior”.264 Por outras palavras, interdependência positiva torna pessoas individualistas em preocupadas e colaboradoras, o completo oposto da presente tendência de crescente individualismo até  ao ponto  do narcisismo.265

Os Johnson e Johnson distingue entre  interdependência positiva e interdependência negativa.  A do tipo positivo envolve “…uma correlação positiva entre  as metas e realizações dos indivíduos; os indivíduos percebem que podem alcançar suas metas se e somente se  os outros indivíduos com os quais estão cooperativamente ligados alcançam suas metas”.266 A negativa significa que “indivíduos percebem que podem obter suas metas se e somente se os outros indivíduos com os quais estão competitivamente ligados falharem  de  obter  suas metas”.267

Para demonstrar os benefícios da colaboração, os investigadores mediram as concretizações de estudantes  que colaboraram em comparação com aqueles que competiram. Em seus achados, “A pessoa mediana cooperativa foi descoberta concretizar cerca de dois terços de um desvio padrão acima da pessoa mediana a atuar dentro de uma situação competitiva ou individualista”.268

Para compreender o sentido de tal desvio acima da média, considere que se uma criança é um aluno de nota    D, ao cooperar, as notas desse aluno vão saltar para uma deslumbrante nota A+. Também, os Johnsons escreveram, “Cooperação, quando comparada com esforços  competitivos e individualistas, tem tendência de promover maior retenção a longo-prazo, elevada  motivação  intrínseca e expectativas de sucesso, mais pensamento criativo… e mais atitudes positivas para a tarefa e a escola.”269 Em outras palavras, não só as crianças se beneficiam desta atitude pró-social, mas a sociedade como um todo ganha  impulso.

No princípio de 2012, escrevi em conjunto com o Professor de Psicologia e terapeuta Gestalt, Dr. Anatoly Ulianov, um livro intitulado, A Psicologia da Sociedade Integral. O livro detalha os essenciais da EI,  com  referências específicas à sociedade competitiva de hoje. Em essência, o livro sugere que uma vez que a competição é inerente à natureza humana, como detalhado  anteriormente neste livro em respeito à aspiração falante por riqueza, poder e fama, não a devemos inibir. Em vez disso, ao invés de competir para ser rei (ou rainha) do meu bairro, por assim dizer, podemos nutrir uma atmosfera social que promova a competição para a pessoa que contribui mais para as  outras.

Especificamente, aqueles que deviam ser declarados vencedores são indivíduos que  fizeram  mais  para  tornarem os outros melhores. Num sentido, é uma competição para ser aquele que ama  mais  os  outros.  Assim, o impulso natural das crianças de sobressair, e especificamente, sobressair às outras, não é inibido, permitindo que elas atualizem seu completo potencial enquanto  o  canalizando  para  beneficiar  a  sociedade  em vez de a si mesmas, uma vez que a única maneira   de vencer este tipo de competição é serem as melhores ao serem boas. Desta maneira, a competição torna -se uma ferramenta para alcançar a qualidade de doação nas crianças.

Para criar este tipo de atmosfera saudável, relações colega-a-colega e relações de professor-a-aluno devem refletir estes valores pró-sociais. Isto envolve algumas modificações no estilo tradicional de  ensino.  A  premissa na EI é que o desafio principal de hoje na educação não é a transmissão de informação, mas em vez disso inculcar capacidades com as quais  adquirir  informação rapidamente e de uma maneira que serve melhor as várias metas  dos estudantes.

Esta é uma mudança do paradigma tradicional, que resulta do fato de que a vida de hoje é muito diferente do tempo da Revolução Industrial, durante a qual o conceito  do leccionar frontal de informação foi concebido. Na Era  da Informação, dados acumulam – se tão rápido que as passadas experiências só podem servir como  uma  base  para posterior aprendizagem. Em preparação para  o  mundo de adulto de hoje, as crianças escolares precisam    de aprender como aprender mais do que precisam de absorver informação.

Adicionalmente, devido à natureza interligada e interdependente do mundo de hoje, desde cedo as crianças precisam compreender que o interesse  pessoal  sozinho  não conduzirá à felicidade. Em vez disso, como Johnson e Johnson demonstram, a consideração mútua  e  abertura  aos outros promoverão melhor suas chances de sucesso e felicidade.

Mas as crianças precisam de experimentar sua interligação do mundo na vida real, e não escutar somente ou falar sobre isso. Uma maneira prática de alcançar isto é ao transformar a sala de aula num microcosmo, um pequeno ambiente, uma pequena família onde todos se preocupam uns com os  outros.

Para esse fim, a EI propõe que estudantes  e  professores, ou “educadores,” como eles  são  referidos na EI, se sentem em círculos, e a aprendizagem tomará lugar através de discussões animadas, sobre o assunto estudado. Os círculos colocam o educador e estudantes no mesmo nível, para que o educador possa gentilmente guiar a discussão para a aprendizagem, e ainda mais importante, para o entendimento mútuo sem ser arrogante ou dominador.

Outro assunto importante é o currículo escolar. Isto deve refletir a natureza interligada do mundo. O currículo também deve apoiar a integração dos tópicos. Assim, o campo de estudo tal como a matemática, física e biologia não serão leccionados separadamente, mas dentro do contexto da Natureza como um todo, que é como as leis   das três disciplinas na realidade funcionam.

Integração deve ser inerente ao próprio estudo, e é muito provável ver estudantes aplicarem das leis da  biologia aos seus estudos nas humanidades. Afinal, a humanidade foi rotulada como “um  superorganismo,” então aplicar as leis da biologia à  sociedade  humana  parece uma evolução  natural.

Também notável é o ponto de que na EI,  os  educadores não são professores, mas estudantes  mais  velhos. Isto aumenta a coesão geral e camaradagem entre estudantes de diferentes grupos etários, a desenvolver aptidões verbais e pedagógicas dos jovens educadores e induz uma assimilação muito mais profunda  de  informação nos tutores porque eles a têm que ensinar.

Mas acima de tudo, quando os jovens tutores ensinam em vez de professores a dultos, problemas de disciplina se tornam virtualmente obsoletos. Porque crianças  mais  novas naturalmente aspiram a  crianças  que  são  mais velhas que elas em dois ou três anos, em vez de ressentir os educadores, como frequentemente sentem com os professores adultos, elas procuram favorecê-los  e concorrem para ser o melhor estudante aos olhos do tutor. Casar essa aspiração com o desejo de ser o melhor ao ser bom, e você tem nas suas mãos  uma  atmosfera  escolar  para as qual as crianças terão prazer de ir de manhã, e na qual elas crescerão para se tornarem adultos confiantes e pró-sociais.

Condizendo aos propósitos da EI, a própria aprendizagem tomará lugar em grupos, pois ela é a forma mais vantajosa de estudo para nutrir aptidões  sociais  e  para inculcar informação, de acordo com os mencionados estudos da Johnson e Johnson. Assim, a avaliação de um estudante não se relacionará à sua  habilidade  de  memorizar e recitar num teste padronizado. Em vez disso, avaliações serão dadas aos grupos, em vez de indivíduos.  Isto aumentará ainda mais a sensação de responsabilidade do grupo e responsabilidade mútua entre os estudantes.

Com isso dito, professores e educadores regularmente enviarão relatórios aos pais e administradores escolares a respeito do progresso social e educativo das crianças.  Porque os professores estarão muito mais próximos dos estudantes do que os métodos de ensino  de  hoje  permitem, eles verão que um problema surge com uma criança antes que ele se deteriore numa grande crise.

Uma vez por semana, os estudantes devem abandonar  o edifício escolar e saírem em excursões. Para conhecerem o mundo em que vivem, o sistema educativo deve fornecer- lhes em primeira mão o conhecimento das instituições que afetam suas vidas, as autoridades governamentais, a história e natureza dos lugares em que elas vivem. Tais excursões devem incluir museus, passeios em parques próximos, visitas a comunidades agrárias, visitas a fábricas, hospitais e excursões a instituições governamentais, estações de polícia e assim por diante.

Cada uma destas excursões irá necessitar de preparação que equipará os estudantes com conhecimento prévio do lugar que estão prestes a visitar, o papel desse lugar na sociedade, do que ele contribui, possíveis alternativas e as origens desse lugar ou instituição.

Por exemplo, antes de uma excursão à esquadra de polícia local, os estudantes pesquisarão o tópico da polícia na Internet, se possível com informação específica sobre a esquadra que estão prestes a visitar. Eles aprenderão como a polícia chegou ao seu presente modo de ação, como ela se encaixa dentro do tecido da vida na nossa sociedade e que alternativas para a polícia podemos imaginar.

Desta maneira, as crianças aprenderão sobre o mundo em que vivem, desenvolverão pensamento criativo para imaginar um futuro mais desejável, praticarão trabalho de equipe, e melhorarão suas aptidões de aprendizagem. Depois da excursão, maiores discussões permitirão aos estudantes partilhar o que aprenderam, tirar conclusões, fazer sugestões e comparar o que descobriram com as noções que tinham a respeito do tópico em discussão antes da excursão.

Há muito mais a dizer sobre as escolas de EI, tal como em respeito das relações de pais – escola-estudante, abordagem aos trabalhos-de-casa, horas escolares recomendadas,  feriados,  políticas  de  punição  ou  não, etc.

Desenvolver mais este tópico está além da amplitude deste livro, mas a ideia ao redor da EI deve ficar  clara:  as  crianças precisam aprender em ambiente interligado e experimentar em primeira mão os benefícios e diversão associados a viver em tal  ambiente.

 

NOSSO PRIVILÉGIO, NOSSO DEVER, NOSSO TEMPO

Uma última coisa precisa de ser mencionada a respeito da educação de adultos, jovens e crianças. Nenhuma forma de Educação Integrada terá sucesso se ela visar melhorar somente nossas vidas materiais. Embora esta  seja  uma  meta desejável, ela não será alcançada sem um profundo entendimento de que toda a humanidade está avançando para uma era de interligação e interdependência  porque esta é a Lei da Natureza.

As pessoas não precisam de lhe chamar “o Criador”. Não há necessidade de alguém aspirar para alcançar um nível superior, mais profundo, mais amplo de percepção a menos que esteja na sua vontade. Contudo, pessoas terão   de saber que equivalência de forma, ser como a Lei da Natureza, ou seja interligação, nos impulsiona para adaptarmos nosso modo de vida correspondentemente.

Aqueles que dispõem o currículo e desenham os programas de estudo terão de ser tal como descrito, ou seja Cabalistas. Com isso dito, estudos de Cabalá nunca serão mandatários porque somente aqueles que se desejam transformar a si mesmos, dedicar a si mesmos ao serviço  dos outros e genuinamente desejam  adquirir  a qualidade de doação se devotarão a esta vocação.

Certamente, tal transformação social é uma tarefa robusta. E todavia, nós Judeus já fomos anteriormente transformados,   e   quer   esteja   dormente   ou   desperta,  a reminiscência dessa transformação existe dentro de todos nós. A nenhuma outra nação foi dada a tarefa de redimir a humanidade, como aos Judeus, e a nenhuma outra nação foram dadas as ferramentas inerentes para fazer isso. É nosso chamado, é nosso privilégio, é nosso dever e é nossa hora. É a partir desse sentido de compromisso que o  método sugerido de educação foi concebido.

Pode soar como um método um pouco ortodoxo, mas suas fundações estão profundamente enraizadas dentro de nossa história e dentro de nossas almas, e seus “princípios” foram testados com sucesso por outras doutrinas. Ele terá sucesso se nos unirmos, e ele fracassará se não o fizermos. Como nossos sábios disseram, “Grande é a paz, pois até quando Israel idolatram mas há paz entre eles, o Criador diz, ‘É como se eu não os conseguisse governar porque há paz entre eles’”.270

Gostaria de terminar com uma referência às palavras  de Baal HaSulam no fim da sua “Introdução ao Livro do Zohar”. Ele conclui sua introdução com uma afirmação de que se Israel levem a cabo sua missão e tragam felicidade ao mundo através da união e aquisição da qualidade de  doação, as palavras do Profeta Isaías se realizarão, e as nações se juntarão a nós e nos ajudarão na nossa missão. Como Baal HaSulam cita, “Assim disse o Senhor Deus: ‘Eis, Eu levantarei minha mão para as nações, e definirei meus padrões aos povos, e eles trarão vossos filhos nos seus braços, e vossas filhas serão carregadas  sobre  seus  ombros’” (Isaías 49:22).

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