Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
A Evolução do Método de Correção
No capítulo anterior, dissemos que os desejos crescem de inanimado, a vegetativo, a animal, a falante. Dissemos que esta progressão ocorre tanto externamente, na natureza geral, e internamente, dentro de nós. Também dissemos que somente no nível falante dentro de nós temos nós uma escolha livre, mas que para tomar escolhas que nos são benéficas, temos primeiro de aprender como a Natureza opera na sua raiz.
Finalmente, dissemos que Israel representa o desejo de conhecer a raiz, o Criador, o Fazedor de tudo o que há, e que Abraão foi o primeiro a descobrir esta raiz. Ele tentou ensinar seus contemporâneos, e os Judeus de hoje, os descendentes desse desejo, devem levar a cabo a vocação de Abraão e completar a sua tarefa.
O que Abraão descobriu foi que o único problema com os seus conterrâneos foi seus egos crescentes. Eles estavam tornando-se demasiado egocêntricos para manter uma sociedade sustentável. Eles costumavam ser de “Uma língua e uma fala,” mas devido a seus egos crescentes se tornaram alienados e incomunicáveis. Eles tornaram-se tão indiferentes uns para os outros, tão descuidados e preocupados em se auto explorar que, como mencionado no capítulo anterior, “Se uma pessoa caia e morresse [enquanto construindo a torre de Babel] eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse no eles se sentariam e chorariam e diriam, ‘Quando virá outro que se encontre no seu lugar.’”62
Pior ainda, Abraão descobriu que o crescente ego não estava prestes a parar de crescer. Ele era um traço inerente na natureza humana, uma característica distinta do nível falante que o ego deve crescer constantemente porque ele é alimentado pela inveja dos outros. Na sua “Introdução ao Livro, Panim Meirot uMasbirot (Face Iluminada e Acolhedora) “, Baal HaSulam escreve, “O Criador instigou três inclinações nas massas [pessoas], chamadas, ‘inveja,’ ‘cobiça,’ e ‘honra.’ Devido a elas, as massas desenvolvem- se grau após grau para induzir uma face de um homem inteiro”. 63 Por outras palavras, inveja não é má em si mesma, e contudo temos de lidar com ela, corrigi -la, e apontá-la para uma direção construtiva.
A INCLINAÇÃO (NÃO NECESSARIAMENTE) AO MAL
Quando nossos sábios escrevem sobre Yetzer HaRá (inclinação ao mal), referem-se à maneira como usamos a inveja para prejudicar os outros ou beneficiar às suas custas. Mas se usarmos as já mencionadas inveja, cobiça e honra adequadamente, tornam-se o nosso próprio meio de correção. Foi isto que o Sagrado Shlah escreveu, “As piores qualidades são inveja, ódio, avareza, cobiça e assim por diante, que são as qualidades da inclinação ao mal – as próprias com as quais ele servirá o Criador”64
E todavia, inerentemente, usamos essas inclinações negativamente, como está escrito (Génesis, 8:21), “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude”. Similarmente, “Não há mal senão a inclinação ao mal,” escreveu Shimon Ashkenazi,65 e séculos antes, o Midrash Rabá estabeleceu que “As pessoas estão inundadas em inclinação do mal, como se diz, ‘Pois a inclinação do coração do homem é má desde a sua juventude’”.66
Abraão descobriu que de todas as criações, somente as pessoas possuem uma inclinação ao mal. Foi por isso que o grande Ramchal escreveu, “Não há outra criação que possa fazer mal como o homem. Ele pode pecar e se revoltar e a inclinação do coração do homem é má desde sua juventude, que não é assim com qualquer outra criatura.”67
Baal HaSulam escreve que a inclinação do mal é a vontade de receber.68 Todavia, em anteriores capítulos dissemos que a vontade de receber é o todo da Criação, e o homem constitui o quarto e mais desenvolvido nível da vontade de receber. Por que então é a nossa vontade de receber a origem de todo o mal?
O problema é que a vontade de receber no nível falante não é estática. Ela está constantemente crescendo e constantemente buscando mais. Nas palavras de nossos sábios, “Não se abandona o mundo com metade dos seus desejos na sua mão, pois aquele que tem cem deseja duzentos; aquele que tem duzentos deseja quatrocentos”.69 Porque procuramos constantemente mais, estamos sempre carentes. Similarmente, o Sagrado Shlah diz, “Aquele que não está contente sempre carece,”70 e está desta forma constantemente infeliz e insatisfeito. Olhando para a nossa sociedade consumista, podemos ver que se sucumbirmos a esse elemento na nossa natureza, seremos jogados para uma “caça ao prazer” interminável que não pode terminar e que não nos faz felizes, também.
Assim, Abraão percebeu que a inclinação do mal, o ódio e alienação que aparecia m entre os Babilônios, causavam todos os problemas entre eles, e que não havia esperança que este fermentar abrandasse por si mesmo. Contudo, ele também percebeu que ter uma vontade de receber intensa era necessário para o propósito da Criação, para o homem alcançar Dvekút [adesão, equivalência de forma] com o Criador. Nas palavras de Ramchal, completando a citação acima, “Mas por outro lado, quando ele [homem] é corrigido e complementado, ele se eleva acima de todos, e ele merece aderir [apegar] a Ele, e todas as outras criações são dependentes dele”.71
Desta forma, em vez de tentar aniquilar a inclinação ao mal. Abraão desenvolveu um método pelo qual as pessoas se corrigiriam, ou “domariam” suas inclinações, ou seja seus egos, e assim beneficiariam do seu crescimento. Assim que ele concebeu o método, ele começou a partilhá-lo com todos, não abrindo exceções, como Maimônides testemunha, “Ele começou a clamar ao mundo inteiro”.72
Como mencionamos na Introdução, Maimônides escreveu que Abraão “plantou seu princípio [que há um Deus, uma força no mundo] nos seus corações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho, Isaac”.
Contudo, o método de Abraão era adequado somente aos seus contemporâneos. Ele não podia ser, nem era suposto ser adequado a gerações posteriores. Porque a inclinação ao mal no nível falante – a vontade de recebermos para nós mesmos, também conhecida como “egoísmo” – está sempre crescendo e se desenvolvendo, na altura em que o povo de Israel havia se tornado uma nação e saiu do Egito, um novo método de correção era necessário.
Os três milhões ou assim que saíram do Egito eram diferentes das setenta almas que haviam entrado nele dois séculos mais cedo. No Egito, a vontade de receber de Israel aumentou tremendamente, e precisava de um conjunto muito explicito de instruções com o objetivo de a corrigir.
MOISÉS DIZ, “UNAM-SE!”
A solução veio na forma da Torá de Moisés, mas também uma nova condição prévia para a execução de qualquer correção desse tempo em diante. Para receber a Torá, escreve o grande comentador, RASHI, o povo de Israel se encontrou no sopé do Monte Sinai “como um homem com um coração”.73 Essa absoluta e completa unidade mais tarde evoluía numa das características mais proeminentes de Israel – garantia mútua- o nobre traço que distinguia Israel de todas as nações desse tempo.
Sob sua aceitação da condição de serem como um homem com um coração, Israel receberam a Torá, a instrução, o código de leis que os ajudaria a dominar o ego. Com ela, eles tornaram-se uma sociedade onde cada membro – homem, mulher e criança – alcançou o Criador e vivia pela lei de garantia mútua, em equivalência de forma com o Deus (ou força) una que Abraão havia descoberto. O Talmude Babilónio escreve, “Eles verificaram de Dan a Beer Sheva e nenhum ignorante [pessoa não corrigida] foi encontrado de Gevat a Antipris, e nenhum menino ou menina, homem ou mulher foi encontrado que não versasse cuidadosamente nas leis da pureza e impureza [correções de acordo com a lei de Moisés].”74
Com sua recentemente adquirida unidade, Israel conquistou Canaã – da palavra Kenia’a (render)75 – e tornou-a a “Terra de Israel” – um lugar onde o desejo pelo Criador governa. O Templo que Israel estabeleceu na terra representava seu alto nível de realização, onde eles continuaram a desenvolver e a implementar o método de Moisés.
E ainda assim, como nossos sábios escrevem, “A inclinação ao mal nasce com o homem, e cresce com ele sua vida inteira,”76 e “A inclinação no coração do homem é má desde sua juventude, e sempre cresce em todas as cobiças”.77 Ainda assim, o método de Moisés de correção, as leis a que chamamos “a Torá,” permaneceu intact o durante o primeiro e segundo Templos, e até durante o exílio em Babel.
Mas à medida que o declínio espiritual de Israel continuou, o povo achou cada vez mais difícil se segurar à sua unidade e conexão com o Criador. Como resultado, o Segundo Templo era num grau espiritual inferior (nível de conexão, ou equivalência de forma com o Criador) que o primeiro.
O Cabalista Rabi Behayei Ben Asher Even Halua explica, “Desde o dia em que a Divindade estava presente em Israel, sob a doação da Torá, ela não se moveu de Israel até à ruína do Primeiro Templo. Uma vez que desde a ruína do Primeiro Templo … ela não estava presente permanentemente, como durante o Primeiro Templo.”78
Eventualmente, o nível de egoísmo aumentou no povo de Israel a tamanha extensão que ele os separou por completo uns dos outros e do Criador. Certamente, foi a separação uns dos outros que causou sua separação do Criador, da percepção da força fundamental da vida. Isto, por sua vez, resultou na ruína do Segundo Templo, e o último e mais longo exílio.
No seu livro, Netzá Yisrael [O Poder de Israel], Rabi Yisrael Segal descreve a queda da graciosidade de Israel: “No Segundo Templo havia uma virtude especial, que Israel não estavam divididos em dois; havia somente união entre eles. Desta forma, o Primeiro Templo foi arruinado por transgressões que são Tum’á [impureza], e o Senhor não mora entre eles no meio de sua Tum’á. Mas o Segundo Templo foi arruinado por ódio gratuito, que revoga sua união, que era sua virtude no Segundo Templo”.79
Similarmente, o grande acadêmico e poeta, Rabi Avraham Ben Meir Ibn Ezra, escreveu, “‘E vós pisareis nos seus altos lugares,’ ‘E eu vos deixarei montar nos altos lugares da terra,’ e a razão é que o ódio gratuito que estava presente no Segundo Templo até que ele gerasse o exílio sobre Israel”.80
A GRANDE QUEDA, E AS SEMENTES DA REDENÇÃO
O exílio após a ruína do Segundo Templo derivou de ódio gratuito, mas ela também serviu um propósito duplo. O primeiro foi que o exílio foi um incentivo para desenvolver mais o método de correção. Uma vez que a Torá de Moisés não era mais suficiente para manter o nível espiritual da nação, era hora de adaptar o método à presente condição do povo – estando em exílio, e mais egoísta que durante o tempo de Moisés. O segundo propósito do exílio foi que Israel se misturasse com outras nações, para espalhar o “gene espiritual” pelo mundo, e assim permitir a correção da humanidade inteira, como Abraão pretendia inicialmente.
Na altura da ruína do Segundo Templo, dois corpos seminais foram compostos. Um foi o Mishná, e o outro foi O Livro do Zohar. O anterior, juntamente com a Bíblia, tornou-se a fundação de virtualmente toda a sabedoria Judaica desse dia em diante. O último, por outro lado, foi escondido pouco depois de ser escrito, e permaneceu escondido durante mais de mil anos, até ter aparecido nas mãos de Rabi Moshé de Leon.
Os autores do Mishná, a Gemará, e o resto dos escritos de nossos sábios forneceram ao povo exilado de Israel a orientação tanto nos níveis espirituais como físicos. Enquanto os escritos narram estados espirituais, eles podem também ser prontamente percepcionamos como mandamentos físicos.
Porque as leis que nossos sábios instruíram se originaram de leis espirituais, elas foram aplicáveis à vida física, tal como Israel as havia aplicado antes da ruína do Templo. Desta maneira, os Judeus mantiveram certo nível de conexão com o nível espiritual do passado sem o próprio alcance da fonte e origem das leis.
Rabi Menahem Nahum de Chernobyl escreveu em respeito da desconexão de Israel do nível espiritual e perda de alcance do Criador. “A razão do exílio é a ruína do Templo em geral e em particular. Israel se [tornaram] tão corrompidos que causaram a expulsão da Shechiná [Divindade] do Templo geral. Este Templo particular [pessoal] está dentro de seus corações … e através da partida do Templo [Divindade] particular … [eles] abandonaram o Templo geral e o exílio chegou”.81
No mesmo espírito, Jonathan Ben Natan Netah Eibshitz escreveu, “No Primeiro Templo, Divindade não se moveu do Templo porque o exílio foi durante um curto tempo. Mas na segunda ruína, que é durante um período prolongado de tempo, a Shechiná [Divindade] partiu por completo”.82
E enquanto a maioria dos Judeus se concentrou em manter uma ligação com a espiritualidade no nível instruído a eles pelos sábios do Mishná e Gemará, houveram sempre alguns poucos excepcionais que simplesmente não conseguiam permanecer com a observação cega de mandamentos. As questões que conduziram Abraão a descobrir o Criador ardiam dentro deles; seus pontos no coração não haviam sido saciados, e eles foram conduzidos ao mais profundo de todos os estudos, a sabedoria da Cabalá.
UMA NOVA ERA, UMA NOVA ABORDAGEM
Os Cabalistas mantiveram seus estudos secretos. Nos seus quartos secretos desenvolveram um método de correção que seria adequado a todos, quem quer que precisasse. Em pequenos grupos, por vezes sozinhos, eles estudavam e alcançavam, mas mantinham o que haviam aprendido e escreviam na maioria das vezes para si mesmos.
Mas um dia no século XVI, um jovem homem com o nome de Isaac Luria veio à cidade Cabalista de Tzfat no Norte de Israel. Sua chegada marcou o começo de uma nova era na evolução do método de correção. Através do seu principal estudante, Chaim Vital, Isaac Luria – hoje conhecido como o Sagrado ARI – detalhou uma abordagem completamente nova à sabedoria da Cabalá. Suas explicações aparentemente técnicas da estrutura do sistema espiritual e suas descrições sistemáticas precisas gradualmente se tornaram o método de estudo prevalecente entre os Cabalistas.
O principal discípulo do ARI, Rabi Chaim Vital, diligentemente escreveu o que seu professor havia ditado. Depois do falecimento de Rabi Vital, seu filho começou a publicar esses escritos, os mais notáveis dos quais são rvore da Vida e Oito Porões. Nesse tempo, essas composições tornaram-se a base do método predominante de estudo de Cabalá, a Cabalá Luriânica, nomeada segundo Isaac Luria, o ARI.
PERMISSÃO PARA SE ENVOLVER
Juntamente com a crescente predominância da Cabalá Luriânica, uma gradual emergência do sigilo começou assim que mais e mais Cabalistas sentiram que o tempo era certo para divulgar o método pelo qual o mundo alcançaria sua correção final.
No seu livro, Luz do Sol, o Cabalista Rabi Avraham Azulai escreveu, “A proibição do Alto a se refrear do estudo aberto da sabedoria da verdade [Cabalá] foi durante um período limitado de tempo, até ao fim de 1490. Desta forma, é considerada a última geração, na qual a proibição foi levantada e a permissão foi dada para se envolver em O Livro do Zohar. E desde o ano 1540, tem sido um grande Mitzvá (mandamento, boa ação, correção) para as massas estudarem, velhos e novos. E uma vez que o Messias está destinado a vir como resultado, e por nenhuma outra razão, é desapropriado ser negligente”.83
Embora o ARI não permitisse a ninguém senão Chaim Vital a estudar seus ensinamentos, o último escreveu profusamente sobre a importância de estudar a Cabalá. “Ai das pessoas que afrontam a Torá. Elas não se envolvem na sabedor ia da Cabalá, que honra a Torá, pois elas prolongam o exílio e todas as aflições que estão prestes a vir ao mundo,” escreveu ele na sua introdução à Árvore da Vida.84
Nos séculos que se seguiram, numerosos rabinos, Cabalistas, e acadêmicos afirmaram que o estudo da Cabalá era vital para nossa redenção, até para a sobrevivência da nação. No meio do século XVIII, o Gaon de Vilna (GRA), escreveu explicitamente, “Redenção depende do estudo da Cabalá”.85
No início do século XIX, os Cabalistas começaram a proclamar que até crianças deviam estudar a Cabalá, explicitamente revogando o estudo antes dos quarenta anos de idade. O Rabi de Kormano escreveu, “Tivesse meu povo me escutado nesta geração, em que a heresia prevalece, eles se mergulhariam no estudo de O Livro do Zohar e os Tikunim [Correções], contemplando-as com crianças de nove anos de idade”.86
No início de 1900, o Rav Isaac HaCohen Kook, que mais tarde se tornou o primeiro Rabino Chefe de Israel, abertamente chamou o estudo da Cabalá, bem como o regresso dos Judeus à terra de Israel. Em Orot (Luzes), ele escreveu, “Os segredos da Torá trazem a redenção, eles trazem Israel de volta a sua terra”.87
Em numerosas ocasiões, Rav Kook escreveu muito flagrantemente que cada Judeu tem que estudar a Cabalá, embora ele raramente usasse o termo explicito e frequentemente se refere a ela pelos seus conhecidos epítetos, “a sabedoria da verdade,” “a sabedoria do oculto,” “a interioridade da Torá,” ou “os segredos da Torá”. Nas suas palavras, “Perante nós está uma obrigação a expandir e estabelecer o envolvimento no lado interno da Torá, em todos os seus assuntos espirituais, que, no seu sentido mais amplo, incluem a ampla sabedoria de Israel, cujo ápice é o conhecido de Deus em verdade, de acordo com a profundidade dos segredos da Torá. Nestes dias, ela requer elucidação, escrutínio e explicação e torná-la mais clara que nunca e mais expansiva entre a nossa nação inteira.”88
AGORA, TODOS JUNTOS
A maior fase na evolução do método de correção começou no princípio de 1900 e está somente agora a apanhar ritmo. Porque somos parte dessa fase, é aquela que têm o maior significado para nós.
Como discutido na Introdução, quando Abraão primeiro descobriu que uma força governa e conduz o mundo, ele começou a espalhar seu conheci mento. Sua meta era circulá-la a todas as pessoas, nenhuma excluída. Contudo, Nimrod, rei da Babilônia, o preveniu de alcançar seu objetivo e Abraão teve de partir, finalmente chegando à terra de Canaã, que ele tornou Israel (segundo o desejo de alcançar Yashar El, diretamente pelo Criador).
Esse objetivo não mudou durante os séculos. “Noach foi criado para corrigir o mundo no estado em que ele estava nessa altura …e eles [seus contemporâneos] também receberam correção dele,” escreve o Ramchal.89 Também, no seu comentário sobre a Torá, o Ramchal escreve, “Moisés desejava completar a correção do mundo nessa altura. Foi por isso que ele tomou a multidão misturada, pois ele pensava que assim seria a correção do mundo que será feita no fim da correção … Contudo, ele não teve sucesso devido às corrupções que ocorreram no caminho”.90
Depois da ruína do Segundo Templo, os Cabalistas escolheram esconder a sabedoria de todos, Judeus e não- Judeus em semelhança, até o tempo do ARI, quando começaram a sentir que o tempo era maduro para a revelar a todos. Nesse ponto, eles começaram a ensinar e a circular a sabedoria numa maneira que se tornou mais direta e explicita a cada geração.
No início do século XX, todas as inibições haviam saído, e os Cabalistas abertament e clamavam pela disseminação da sabedoria e a ensiná-la a todas as nações. Rav Kook exprimiu esta mentalidade muito claramente numa das suas cartas: “Eu concordei divulgar todos os segredos do mundo, uma vez que é hora de fazer pelo Criador, como é necessário nesta altura. Maiores e melhores que eu, sofreram pela nação escárnio por tais questões, pois seus espíritos puros os pressionaram pelo bem de corrigir a geração para falar novas palavras e revelar o oculto, ao qual o intelecto das massas não estava acostumado.”91
Durante a Primeira Guerra Mundial, Rav Kook sentiu – se impelido a sublinhar a ligação que ele viu entre os problemas do mundo e o reacender da força espiritual de Israel através da união. No seu livro, Orot (Luzes), ele escreveu, “A construção do mundo, que é presentemente amassada pelas terríveis tempestades de uma espada sangrenta, que amassa em antecipação de uma força de unidade e sublimidade, e tudo o que está na alma da Assembleia de Israel.”92
Seu contemporâneo, Baal HaSulam, escreveu profusamente e com frequência flagrantemente, sobre a necessidade de divulgar a sabedoria da Cabalá a todos, especialmente hoje. No seu ensaio, “O Shofar do Messias,” ele escreveu, “Saiba que é isto o que significa que os filhos de Israel são redimidos somente após a sabedoria do oculto ser revelada a grande extensão, como está escrito em O Zohar, ‘Com esta composição, os filhos de Israel são redimidos do exílio.’
“…Na minha avaliação, estamos em uma geração que se encontra precisamente no limiar da redenção, se soubermos como espalhar a sabedoria do oculto às massas.
“…Há outra razão para isso: Aceitamos que há uma condição prévia para a redenção – que todas as nações do mundo reconheçam a lei de Israel [de doação], como está escrito, ‘E a terra estará cheia do conhecimento.’ É como no exemplo do êxodo do Egito, onde houve uma condição prévia que Faraó, também, reconheceria o verdadeiro Deus e Suas leis, e os permitiria partir.
“…Você deve compreender de onde as nações do mundo chegam a tamanha noção e desejo. Saiba que é através da verdadeira sabedoria, para que eles vejam evidentemente o verdadeiro Deus e a verdadeira lei [da doação]. E a disseminação da sabedoria nas massas é chamada ‘um Shofar [um clarim, ou um chifre de carneiro festivo].’ Como o Shofar, cuja voz viaja uma grande distância, o eco da sabedoria se espalhará pelo mundo”.93
Certamente, o legado desses titãs espirituais foi concretizado, e hoje qualquer pessoa que deseje pode estudar “a sabedoria do oculto” independentemente da religião, idade, ou género, pois ela não está mais escondida. Como Abraão visionou, nossa Babilônia global pode agora estudar a lei fundamental da vida que a cria e sustenta, e não há limitações que se pareçam.
Mas se tudo está certo, porque há tanto de errado com o mundo? Porque há tantas pessoas sofrendo, e porque o número de pessoas na miséria parece crescer? Se a lei é o Criador, e podemos deste modo concertar tudo, porque não estão todos correndo para aprender?
Para responder a estas perguntas precisamos de compreender as rotas pelas quais a sabedoria se espalha, e especificamente o papel do povo Judeu em espalhar a Cabalá, e o que significa ser uma luz para as nações. Correspondentemente no próximo capítulo discutiremos o papel do povo Judeu através dos olhos da Cabalá.