Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
O Papel do Povo Judeu
“Abraão foi recompensado com a bênção de ser como as estrelas dos céus, Isaac, a bênção da areia e Jacó, como a poeira da terra, pois os filhos de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação”.
Yehuda Leib Arie Altar (ADMOR de Gur), Sefat Emet [Lábio Veraz], Bamidbar [Números].
No fim do capítulo anterior perguntamos, “Se tudo está certo, porque há tanto de errado com o mundo”? E “Se a lei fundamental da vida pode ser conhecida por todos, como tão poucos a conhecem, especialmente agora que estamos em uma perda no que tange lidar com as múltiplas crises que engolem a sociedade humana?” Dissemos que para responder a essas questões, precisamos compreender como o conhecimento da lei se espalha e como os Judeus estão relacionados com sua divulgação.
Você pode recordar-se que na Introdução, estabelecemos que uma vez que Abraão descobriu que uma única força conduzia o mundo, ele se apressou a contar a seus conterrâneos sobre sua descoberta. Ele não apresentou condições prévias; ele desejava partilhar seu conhecimento recentemente achado com todos. Acontece que, nem seu rei, Nimrod, nem o povo estavam prontos para aceitar a noção de que a força governante da vida era uma força de doação e que sua meta na vida, como dissemos no Capítulo 1, é de a revelar ao ser semelhante, ou até igual a ela. Os Babilônios do tempo de Abraão estavam demasiado preocupados em construir sua torre e tentar deificar as leis da Natureza.
Enquanto Abraão vagava pelo que agora é o Próximo e Médio Oriente no seu caminho a Canaã, ele reuniu na sua tenda, a princípio, todos aqueles que eram capazes de compreender suas noções, se comprometer à autotransformação do egoísmo à doação. Essas pessoas mais tarde se tornaram a nação de Israel, nomenclada segundo o desejo de alcançar diretamente o Criador.
E todavia, os quatro níveis da vida – inanimado, vegetativo, animal e falante – são uma constante. Eles devem ser atualizados na totalidade, e todos aqueles que fisicamente pertencem ao nível falante devem eventualmente alcançá -lo espiritualmente, também. O fato de que nem todos os Babilônios estavam prontos para se comprometer, a mudar a si mesmos no tempo de Abraão, não muda nada em termos do propósito final para o qual a raça humana existe. Assim, aqueles que estavam prontos e dispostos a se comprometer, se tornaram os “guardiões” do conhecimento, confiados em manter e nutri-lo para a posteridade.
No seu ensaio, “A Arvut (garantia mútua),” Baal HaSulam escreveu, “[O Criador disse] ‘Vós serei Meu Segulá [remédio/virtude] dentre todos os povos.’ Isto significa que vós sereis Meu remédio, e centelhas de purificação e limpeza do corpo passarão através de vós para todos os povos e nações do mundo. As nações do mundo ainda não estão prontas para isso, e preciso de pelo menos uma nação com que começar agora, pois ela será já como um remédio para todas as nações”. 94
Esta citação, acompanhada pelas palavras de Rabi Altar, citadas no princípio deste capítulo, “Os filhos de Israel foram criados para corrigir o todo da Criação,” e juntas com as citações abaixo neste capítulo, deixam poucas dúvidas sobre a visão dos líderes espirituais Judeus durante as eras a respeito do papel pelo qual os Judeus existem no mundo.
Quando Moisés conduziu o povo de Israel para fora do Egito, ele pretendia primeiro e antes e acima de tudo lhes passar a lei que ele mesmo havia aprendido, a lei que Abraão havia aprendido antes dele. Sua meta era terminar, ou pelo menos avançar a missão que Abraão havia começado gerações antes. Rav Moshe Chaim Luzzatto, o grande Ramchal, escreveu sobre isso, “Moisés desejou completar a correção do mundo nessa altura. Foi por isso que ele juntou a multidão misturada [pessoas egocêntricas, sem desejos corrigidos], pois ele pensou que assim seria a correção do mundo que será feita no fim da correção … Contudo, ele não teve sucesso devido às corrupções que ocorreram no caminho.”95
Apesar das dificuldades, escreve Rabi Isaac Wildman, “Essa foi a oração e bênção de Moisés para a geração do deserto, que eles fossem o princípio da correção do mundo.”96
Todavia, o mundo não teve desejo de correção. As nações não estavam prontas para abdicar do amor-próprio e abraçar o altruísmo – dar – como sua principal qualidade. Então no entretanto, a nação Israelita continuou a “polir” sua própria correção esperando que o resto das nações estivessem prontas e dispostas. Nas palavras de Ramchal, “Vós deveis saber … que a Criação como um todo não será completada até que o todo da nação escolhida seja ordenada na ordem certa, completada em todas as suas decorações, com a Shechiná [Divindade] aderida a ela. Consequentemente, o mundo alcançará o estado completo. …Devemos chegar a um estado em onde a nação é totalmente complementada em todas as necessárias condições, e o todo da Criação recebe sua completude, e então o mundo será estabelecido permanentemente no estado corrigido.”97
Segue-se que a nação Israelita serve como um canal pelo qual a correção, nomeadamente a qualidade de doação, deve alcançar seus recipientes pretendidos: as nações do mundo. Em estilo eloquente, florido, o Rav Kook detalha como ele vê o papel dos Judeus a respeito do resto das nações. “Assim que a vocação de Israel, sendo a nação do Senhor, esteja presente, completa, aparente, duradoura e ativa no mundo, é um testemunho válido para o mundo para toda a posteridade complementar a forma da raça humana, a manter suas características, e a elevá-la pelos degraus da santidade adequados a ela … que o Senhor determinou. E uma vez que nossa própria vocação é permanecer sempre, acompanhando a vocação do todo da Natureza – cuja lei é completar todas as criações e as trazer ao ápice da perfeição – devemos guardá-la devotadamente pela vida de todos nós, que é mantida dentro dela, e pelo todo da humanidade e seu desenvolvimento moral, cujo destino depende do destino da nossa existência.”98
Como demonstrado na Introdução a este livro, o Rav Kook vai até tão longe ao dizer, “O movimento genuíno da alma Israelita na sua grandiosidade é expresso somente pela sua força sagrada e eterna, que flui dentro de seu espírito. É aquilo que a fez, e a faz, e a fará permanecer ainda uma nação que permanece como uma luz para as nações.”99
No seu livro, Ein Ayá [O Olho de Um Falcão], o Rav Kook acrescenta mais: “Dentro de Israel está uma santidade escondida de elevar o valor da própria vida através da Divindade que está presente em Israel. A alma nacional da Assembleia de Israel aspira pelo mais sublime e exaltado, agir na vida pelo valor mais exaltado e Divino, por esse mesmo valor que fará que nenhuma pessoa seja capaz de questionar, ‘Qual é o propósito desta tal vida’? Tendo visto a glória e a sublimidade da sua agradabilidade e magnificência. Em absoluta completude será ela completada dentro da casa de Israel, e a partir dela, ela brilhará para a terra e para o mundo inteiro, ‘para um convénio do povo, para uma luz das nações.’”100
Similarmente, Rabi Naftali Tzvi Yehuda Berlin (conhecido como “O TATZIV de Volojin”) escreveu, “Isaías o profeta disse, ‘Eu vos tomarei pela mão e vos manterei; Eu vos darei um convénio para o povo, uma luz para as nações,’ ou seja, para corrigir o convênio, que é a fé, para cada nação. Eles jogarão fora a fé em ídolos e acreditarão em um Deus. Certamente, o convênio com Abraão nosso Pai foi assinado sobre essa questão.”101
MISTURAR E MESCLAR
E ainda assim, como é que a correção fluirá para as nações? Se a nação de Israel se corrige a si mesma, como isso afetará a qualquer das outras nações?
Quando Abraão primeiro descobriu o Criador, ele descreveu-o a quem quer que escutasse, e aqueles que se juntavam a ele se tornavam as primeiras pessoas corrigidas. Essas pessoas então foram para o Egito e finalmente emergiram dele em números muito maiores, uma nação inteira, essa nação recebeu a Lei da Correção, nomeadamente a Torá, e se corrigiu a si mesma. No Primeiro Templo, a nação Judaica alcançou seu mais alto nível de conexão com o Criador, como demonstrado no capítulo anterior. A partir daqui, a nação começou a declinar até que seu povo foi exilado para Babel. Quando regressaram à Terra de Israel, a maioria da nação Judaica escolheu per manecer na Diáspora e se assimilar.
Certamente, é assim que a passagem da mensagem começou. Quando as pessoas que foram inicialmente corrigidas – que transcenderam o interesse pessoal e descobriram o Criador – se misturaram com aquelas que nunca tiveram tais pensamentos, aquelas ideias nobres começaram a se espalhar dentro da sociedade anfitriã e ajudaram a instigar pensamentos mais humanos nas mentes das pessoas. Enquanto esses pensamentos não corrigidos derivados das mentes que haviam transcendido o egoísmo, as noções de universalismo e humanismo independentemente se começaram a segurar às mentes das pessoas.
Certamente, durante o Renascimento, vários acadêmicos reconhecidos mantinham que os Gregos haviam adoptado pelo menos alguns dos seus conceitos do Judeus, neste caso especificamente da Cabalá. Johannes Reuchlin (1455-1522), por exemplo, o conselheiro político do Chanceler, escreveu em De Arte Cabalística (Sobre a Arte da Cabalá): “Independentemente, sua proeminência [de Pitágoras] não derivou dos Gregos, mas novamente dos Judeus. …Ele mesmo foi o primeiro a converter o nome Cabalá, desconhecido aos Gregos, no nome Grego filosofia.”102
Em 1918, um pastor Francês, Charles Wagner, foi citado como tendo escrito, “Nenhum dos nomes resplandecentes na história – Egito, Atenas, Roma – se consegue comparar à grandiosidade eterna de Jerusalém. Pois Israel deu à humanidade a categoria da santidade. Somente Israel conheceu a sede pela justiça social e essa santidade interior que é a fonte da justiça.”103
Mais recentemente, o historiador Cristão, Paul Johnson, escreveu em Uma História dos Judeus: “O impacto Judaico na humanidade foi proteico. Na antiguidade eles foram os grandes inovadores na religião e moral. Na Idade das Trevas e a inicial Europa medieval eles foram ainda um povo avançado transmitindo escasso conhecimento e tecnologia. Gradualmente eles foram empurrados da vanguarda e caíram para trás; no fim do século dezoito eles foram vistos como sujos e obscurantistas, retaguarda na marcha da humanidade civilizada. Mas então veio uma segunda explosão surpreendente de criatividade. Rompendo fora de seus guetos, eles uma vez mais transformaram o pensamento humano, desta vez na esfera secular. Muita mobília mental do mundo moderno é também de fabricação Judaica.”104
Similarmente, Em Os Presentes dos Judeus: Como uma Tribo de Nómadas do Deserto Mudou a Maneira Como Todos Pensam e Sentem, do autor Thomas Cahill, antigo diretor de publicações religiosas na Doubleday, descreve a contribuição dos Judeus para o mundo, que, na sua visão, começou durante o exílio na Babilônia. “Os Judeus originaram o tudo”, escreve ele, “e com ‘o’ pretendo dizer tantas muitas das coisas com que nos preocupamos, os valores subjacentes que perfazem todos nós, Judeu e Gentio, crente e ateu, funcionam. Sem os Judeus, veríamos o mundo através de olhos diferentes, escutaríamos com ouvidos diferentes, até sentiríamos sentimentos diferentes… Pensaríamos com uma mente diferente, interpretaríamos todas as nossas experiências diferentemente, tiraríamos diferentes conclusões das coisas que caem sobre nós. E definiríamos um percurso diferente para nossas vidas.”105
Curiosamente, alguns líderes Judeus reconhecidos também escreveram sobre o espalhar (e estragar) da sabedoria Judaica depois da ruína do Primeiro Templo. Rabi Shmuel Bernstein de Sochatchov, por exemplo, escreveu, “Os Gregos tiveram a sabedoria da filosofia, que se originou dos escritos de Rei Salomão que vieram à sua posse depois da ruína do Primeiro Templo. Contudo, eles foram estragados por eles com subtrações, adições, e substituições até que visões falsas se misturaram com eles. E ainda assim, a própria sabedoria é boa, mas as partes do mau se misturaram com ela.”106
Baal HaSulam escreveu similarmente em “A Sabedoria da Cabalá e a Filosofia”: “Sábios da Cabalá observam a teologia filosófica e queixam-se de que roubaram a casca superior de sua sabedoria, que Platão e seus predecessores haviam adquirido enquanto estudando com os discípulos dos profetas em Israel. Eles roubaram elementos básicos da sabedoria de Israel e usaram uma capa que não lhes pertence.”107
O LEGADO DOS JUDEUS
Os Judeus que permaneceram na Babilônia depois da ruína do Primeiro Templo desapareceram, não deixando rasto senão as noções que haviam transmitido aos seus anfitriões. Mais tarde, quando o Segundo Templo foi arruinado, o povo Judeu inteiro foi exilado e apresentou ao mundo os dois princípios que se tornariam a base de todas as três predominantes, apropriadamente denominadas religiões “Abrahamicas”: “Ama ao próximo como a ti mesmo”, e o “monoteísmo,” ou seja que há somente um Deus, uma força governadora no mundo. Estas noções são comparáveis ao sucesso da correção da humanidade porque quando entendidas corretamente, a anterior define o modo pelo qual alcançaremos a correção – através de amar os outros, e não parentescos, mas nossos próximos, ou seja estranhos. A última define a essência de nossa realização assim que estejamos corrigidos – a força singular da realidade.
Correspondentemente, o Professor T.R. Glover da Universidade de Cambridge escreveu em O Mundo Antigo, “É estranho que as religiões vivas do mundo sejam edificadas sobre ideias religiosas derivadas dos Judeus”.108 Similarmente, Herman Rauschning, Um Revolucionário Alemão Conservador que brevemente se juntou aos Nazis ant es de romper com eles, escreveu em A Besta do Abismo: “Judaísmo, independentemente … é um componente inalienável da nossa civilização Cristã Ocidental, o eterno ‘chamado a Sinai’ contra o qual a humanidade novamente se revolta”.109
O exílio do povo Judeu da Terra de Israel foi um longo processo pelo qual os Judeus, e desta forma os valores Judaicos, foram gradualmente absorvidos pelas suas nações anfitriãs. Yosef Ben Matityahu, melhor conhecido como Flavio Josefo, o historiador Judaico – Romano, descreve a expulsão dos Judeus pelos Romanos no princípio do exílio. Em As Guerras dos Judeus, Flavio escreve, “E como ele se recordou que a décima legião havia aberto caminho aos Judeus, sob Cestius seu general, ele os expulsou de toda a Síria, pois eles se haviam rendido anteriormente em Rafania, e os mandou embora para um lugar chamado Meletina, perto de Eufrates, que é nos limites da Arménia e Capadócia.”110
No Capítulo 3, Flavio elabora, “Pois enquanto a nação Judaica está amplamente dispersa por toda a terra habitada entre seus habitantes, também está ela muito misturada com a Síria, pela razão de sua vizinhança e tiveram as grandes multidões em Antioquia p ela razão da maior cidade, onde os reis, depois de Antíoco, os acolheram numa habitação com a maior tranquilidade sem incómodos.”111
Hoje, narra o autor Yaakov (Jacó) Leschzinsky em A Dispersão Judaica, que os Judeus espalharam pelo mundo todo e num ritmo surpreendente, “Quando esquadrinhamos a Diáspora da Judiaria pelo globo inteiro e pelo inteiro mundo civilizado,” escreve ele, “ficamos surpresos ao ver que esta nação, que é a mais antiga no mundo, é na verdade a mais jovem em termos da terra sob seus pés e o céu sobre sua cabeça. Devido às intermináveis perseguições e expulsões forçadas, maioria dos Judeus são nada mais que recentes novatos às suas respectivas terras de residência. Noventa por cento das pessoas Judias não viveram nos seus lares mais que cinquenta a sessenta anos! (Os Judeus) estão dispersos em mais de 100 terras de todos os cinco continentes.”112
Curiosamente, sua mistura com outras nações é precisamente o que foi necessário para completar as correções de Moisés. Embora seja verdade que, embora Israel sejam separados das outras nações, os princípios mencionados anteriormente no coração do Judaísmo não puderam ser tingidos, é também verdade que os Judeus tinham muito a ganhar do seu exílio entre as nações. É por isso que no Livro dos Salmos (106:35) nos conta que os Judeus foram exilados para “Se misturarem a si mesmos com as nações e aprenderem de suas ações”.
ADAM – O PRIMEIRO HOMEM, A ALMA COLETIVA
O ARI explica que na verdade, somos todos partes de uma única alma, conhecida aos Cabalistas como Adam HaRishon (o primeiro homem), e à maioria de todos os outros como Adam. O exílio, diz o ARI, ocorreu como uma continuação do processo de correção. Em Shaar HaPsukim [Portão aos Versículos], ele escreveu, “Adam HaRishon [Adam] incluiu todas as almas e incluiu todos os mundos. Quando ele pecou, todas essas almas caíram dele para as Klipót [cascas, formas de egoísmo], que se dividem em setenta nações. Israel deve se exilar lá, em toda e cada nação, e reunir os lírios das almas sagradas que haviam se espalhado entre esses espinhos, como nossos sábios escreveram no Midrash Rabá, ‘Porque foram Israel exilados entre as nações? Para acrescentar estranhos a si mesmos.’”113
Nesse respeito, O NATZIV de Volojin escreveu, “Seu princípio foi no Monte Ebal … mas eles completaram esta questão exaltada somente através do exílio e dispersão.”114
É por uma boa razão que o exílio é necessário para completar a correção dos Judeus, e daí em diante o mundo inteiro. Anteriormente dissemos que quando Abraão ofereceu o método de correção aos seus conterrâneos Babilônios, eles o rejeitaram porque estavam demasiado ocupados sendo egocêntricos e egoístas. E todavia, se todos somos partes de uma alma coletiva, como o ARI sublinhou, eventualmente todos nós teremos de alcançar correção, pela qual descobriremos o Criador e nos tornaremos como Ele. Este é o benefício, como descrito no Capítulo 2, que Ele pretendeu dar à humanidade.
Assim, a correção de Abraão foi somente o princípio do processo, certamente não o seu fim. Num ensaio longo e elaborado intitulado, “E Eles Construíram Cidades- Armazém”, Baal HaSulam escreve, “Devemos também compreender o que Abraão o Patriarca perguntou, ‘Onde saberei eu que o herdarei’’ (Génesis 15:8)? O que respondeu o Criador? Está escrito, ‘E Ele disse para Abraão: Sabei com uma certeza que tua semente será estranha numa terra que não lhe pertence’”.115 Baal HaSulam explica que com esta resposta, o Criador promete a Abraão que todas as pessoas alcançaram correção através da mistura da nação corrigida – Israel – com as nações não corrigidas – neste caso representadas pelo Egito.
Surpreendentemente, em resposta a esta questão, o Criador promete a Abraão exílio. E não somente isso, escreve Baal HaSulam, que Abraão “…o aceitou como uma garantia da herança da terra”.116 Certamente, Abraão sabia que a mistura dos desejos – representada pelas diferentes nações do mundo – era necessária em prol de completar a correção da humanidade. Considerando que cada uma das nações representa uma parte da alma a ser apresentada ao método da correção e que essa parte da alma eventualmente o adote. Foi por isso que Israel teve de ser exilada e se espalhar pelo mundo.
Como parte da expansão do processo de correção na humanidade, Abraão foi para o exílio no Egito, onde sua tribo havia se tornado uma nação. E quando a nação se exilou depois da ruína do Primeiro e Segundo Templos, ela apresentou o método de correção ao mundo inteiro.
Embora o método claramente não tivesse sido adotado pelo resto da humanidade, ele independentemente plantou os princípios já mencionados, princípios que formam uma base comum sobre a qual iniciar o processo de correção assim que as pessoas o comecem a procurar.
Em “A Arvut [Garantia Mútua], “Baal HaSulam detalha o processo pelo qual a nação Israelita corrige a si mesma primeiro, de modo a transmitirem a correção ao resto das nações. Por outras palavras, “Rabi Elazar, filho de Rashbi (Rabi Shimon Bar-Yochai), clarifica este conceito da Arvut ainda mais. Não é suficiente para ele que todos de Israel sejam responsáveis uns pelos outros, mas que o mundo inteiro está incluído nessa Arvut.
…Cada um admite que para começar, é suficiente começar com uma n ação com a observação da Torá [lei da doação} para o princípio da correção do mundo. Foi impossível começar com todas as nações de uma vez, como eles dizem que o Criador foi com a Torá a cada nação e língua, e eles não a quiseram receber. Por outras palavras, eles estavam imersos em … amor próprio … até que foi impossível conceber nesses dias sequer questionar se eles concordavam se retirar do amor próprio.
“…Mas o fim da correção do mundo será somente ao trazer todas as pessoas do mundo sob Sua obra, como está escrito, ‘E o Senhor será Rei sobre toda a terra; nesse dia será o Senhor Um, e Seu nome um’ (Zacarias, 14:9) … ‘E todas as nações fluirão para ele’ (Isaías, 2:2).
“Mas o papel de Israel para o resto do mundo se assemelha ao papel de nossos Sagrados Pais para a nação Israelita. Tal como a retidão de nossos pais nos ajudou a desenvolver e purificar para nos tornarmos dignos de receber a Torá [lei da doação] … cabe à nação Israelita se qualificar a si mesma e a todas as pessoas do mundo através de Torá e Mitzvot [correções do egoísmo], para se desenvolverem até que eles tomem sobre si mesmos esse trabalho sublime do amor aos outros, que é a escada para o propósito da Criação, sendo Dvekút [similaridade/ equivalência de forma] com Ele”.117
Similarmente, no seu ensaio, “Uma Criada que É Herdeira a Sua Senhora”, Baal HaSulam escreve, “O povo de Israel, que foi escolhido como um operador do propósito geral e correção … contém a preparação necessária para crescer e se desenvolver até que ele movimente as nações dos mundos, também, para alcançarem a meta comum.”118
Baal HaSulam e seu filho, o Rabash podem ter sido os últimos Cabalistas a afirmar que o papel de Israel no mundo é trazer o método de correção ao resto das nações, mas certamente não foram os primeiros. Incontáveis rabinos, Cabalistas e acadêmicos, desde praticamente a ruína do Segundo Templo, o afirmaram em semelhança.
Assim, o Midrash Rabá afirma que “Israel trazem a luz ao mundo”, 119 e o Talmude Babilônico acrescentou, “O Criador agiu em retidão para Israel, os tendo dispersado entre as nações”.120 Rabi Yehuda Altar, o ADMOR de Gur escreveu, “Qualquer exílio no qual os filhos de Israel entre é somente para suscitar centelhas sagradas dentro das nações [semelhante às palavras acima citadas de Baal HaSulam]. Os filhos de Israel são os garantidores de que receberam a Torá em prol de corrigir o mundo inteiro, as nações, também.”121
Similarmente, Rabi Hillel Tzaitlin escreve, “Se Israel é a verdadeira redentora do mundo inteiro, ela deve ser digna dessa redenção. Israel deve primeiro redimir sua própria alma, a santidade da sua alma, a santidade da sua Shechiná [Divindade].
…Para esse propósito, desejo estabelecer com este livro a ‘união de Israel’ … Se fundada, a unificação de indivíduos será pelo propósito de ascensão interior e uma invocação para correções de todos os males da nação e do mundo.”122 Gostaria de concluir este capítulo com mais algumas palavras de Baal HaSulam, que em alguns parágrafos detalha o propósito da Criação, o direito da humanidade a ele, e o papel de Israel para alcança-lo. Nas suas palavras: “Porque foi a Torá dada à nação Israelita sem a participação de todas as nações do mundo? Na verdade, o propósito da Criação aplica-se à raça humana inteira, nenhu m excluído. Contudo, devido À baixeza da natureza da Criação [sendo egoísta] e seu poder sobre as pessoas, foi impossível que as pessoas compreendessem, determinassem e concordassem se elevar acima dela. Eles não demonstraram o desejo de abdicar do amor próprio e chegar a equivalência de forma, que é adesão com Seus atributos, como nossos sábios disseram, ‘Como Ele é misericordioso, tu sê misericordioso também’.
“Assim, devido a seu mérito ancestral [os exemplos dados por Abraão, Isaac e Jacó], Israel tiveram sucesso … e se tornaram qualificados e se sentenciaram a si mesmos a uma escala de mérito [se corrigiram a si mesmos a se tornarem como o Criador]. Todo e cada membro da nação concordou amar seu semelhante [que é como eles alcançaram a correção].
“…Contudo, a nação Israelita era para ser uma ‘transição’ ou seja que à extensão que Israel purificam a si mesmos ao manter a Torá [leis da doação], eles passam seu poder ao resto das nações. E quando o resto das nações também se sentenciam a si mesmas a uma escala de mérito [se corrigirem a si mesmas ao abdicar do egoísmo], o Messias [correção final] será revelado. É por isso que o papel do Messias não é de qualificar somente Israel à meta derradeira de adesão com Ele, mas ensinar os caminhos de Deus [doação] a todas as nações, como está escrito, ‘E todas as nações fluirão para Ele.’”123