Do livro “Como Um Feixe de Juncos”
Como eu vim a escrever este livro
Nasci em Agosto de 1946 na cidade de Vitebsk, Bielorrússia. Era o segundo verão depois do fim da Segunda Guerra Mundial, minha vida era preguiçosa, lentamente mancando para trás em direção à afável monotonia da normalidade. Sendo o filho primogénito de um pai dentista e uma mãe ginecologista, tive uma infância despreocupada, convenientemente crescendo num bairro suburbano, não tendo preocupações materiais que a maioria dos meus amigos de infância tinha.
E todavia, uma sombra me perseguia pela minha infância e até durante a minha adolescência: o espectro do Holocausto, esse fantasma que muitos nunca escolhem mencionar, embora esteja sempre lá. Nomes de familiares ou amigos que pereceram foram mencionados num tom sombrio lhes dando uma presença estranha, como se ainda estivessem conosco, embora soubesse que nunca estiveram.
E mais estranha ainda era o asco dos meus colegas Russos dos Judeus. Crianças com as quais cresci odiavam Judeus simplesmente porque eram Judeus. Elas sabiam o que tinha acontecido aos seus vizinhos Judeus há apenas um ano atrás, mas eram tão sarcásticas e insensíveis como antes da guerra, o que me foi contado pelos mais idosos. Isto, eu não conseguia entender. Porque eram eles tão odiados? Que mal imperdoável os Judeus fizeram? E de onde tinham eles aprendido essas histórias de horror sobre as coisas que os Judeus podiam fazer?
Como seria de esperar do filho de pais em profissões de medicina, eu, também, assumi a profissão médica como minha carreira “de escolha.” Estudei bio-cibernética, uma ciência que explora os sistemas do corpo humano, e tornei-me um cientista, um investigador no Instituto de Pesquisa do Sangue de São Petersburgo. E enquanto fantasiava comigo mesmo radiando orgulho sobre o púlpito em Estocolmo na Suécia, vencedor de um Prémio Nobel, uma paixão profunda que já nutria e que vinha à superfície da minha consciência.
“Eu quero compreender o sistema”, comecei a pensar, “saber como tudo funciona.” Mas mais que tudo, comecei a ponderar porque tudo era da maneira que era.
Enquanto cientista de coração, comecei a pesquisar respostas cientificas que pudessem explicar tudo, não só como calcular a massa de um objeto ou a aceleração de sua queda, mas o que causava esse objeto a existir em primeiro lugar.
E dado que não consegui achar uma resposta na ciência, decidi avançar. Depois de ser um refusenik (Judeus soviéticos a quem era negada permissão para emigrar para o estrangeiro) durante dois anos, finalmente obtive a minha licença e parti para Israel em 1974.
Em Israel, continuei a procurar o sentido e a razão por trás de tudo. Dois anos depois de ter chegado a Israel, comecei a estudar Cabalá. Mas não foi até Fevereiro de 1979 que encontrei o meu professor, o Rabash, o filho primogénito e sucessor do Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada) pelo seu comentário Sulam (Escada) sobre O Livro do Zohar.
Finalmente, minhas orações foram respondidas! Cada dia, cada hora , novas revelações despertavam em mim. As peças do quebra cabeça da realidade caíram em seu lugar uma de cada vez e uma imagem coerente do mundo começou a se formar perante mim, como se o nevoeiro em si mesmo estivesse se formando diante de meus olhos atônitos.
Minha vida havia sido transformada e eu submergia a mim mesmo nos estudos e em assistir o Rabash da maneira que conseguia. Era sortudo o suficiente para ser capaz de suportar a minha família com apenas algumas horas de trabalho todos os dias e dedi cava o resto do meu tempo a absorver a sabedoria tanto e quão profundamente podia.
Para mim, vivia numa realidade de sonho. Tive uma maravilhosa família, vivia num país onde me sentia realmente livre, tinha uma boa vida com facilidade e tinha encontrado as respostas às minhas perguntas vitalícias.
Uma dessas perguntas persistentes era aquela sobre o ódio aos Judeus. Na Cabalá, descobri porque acontece, porque é tão persistente e mais importante, o que deve ser feito para o curar. Certamente, antissemitismo é uma ferida no coração da humanidade, um eco de uma dor não curada que o mundo carrega há praticamente 4000 anos, desde Abraão, nosso Patriarca, ter deixado a Babilônia.
A Cabalá ensinou-me que Abraão tinha proposto ao seu povo se unir e ser uma vez mais de “uma língua e uma fala” (Génesis 11:1), e que Rei Nimrod, governante da Babil ônia nessa altura, tinha proibido Abraão de circular a sua ideia. Gradualmente, vi que o que o mundo agora precisa é dessa mesma união, essa camaradagem e responsabilidade mútua que Abraão havia desenvolvido com seu grupo e descendência e que Rei Nimrod o tinha impedido de doar aos seus irmãos e irmãs Babilônios.
Em uma aula matinal, meu professor, o Rabash, ensinou-me a “Introdução ao Livro do Zohar,” de Baal HaSulam. No final dele, Baal HaSulam escreveu que a menos que os Judeus doassem ao mundo o conhecimento e orientação para a união, as nações do mundo desprezariam os Judeus, os humilhariam, os expulsariam para fora da terra de Israel e os atormentariam onde quer que estivessem. Havia lido esse ensaio insondável anteriormente, mas nessa manhã teve um impacto mais profundo em mim. Senti outra fase no meu desenvolvimento a emergir por dentro.
Mais tarde nesse dia, fomos até Kfar Sába, uma pequena cidade perto de Telavive, a um Kolel (seminário judaico) com o nome do meu estimado mentor. Na cave, o Rabash mostrou-me uma caixa de cartão de tamanho médio cheia até à borda de pequenos pedaços de papel. Ele perguntou-me se o levaria para o carro e o traria para a sua casa.
Coloquei a caixa na mala do carro e no caminho de volta perguntei -lhe o que eram esses papeis na caixa. Sem a menor cerimónia ele murmurou, “Alguns velhos manuscritos de Baal HaSulam.” Eu olhei para ele, mas ele olhou diretamente para a estrada à frente e manteve-se silencioso todo o caminho de volta.
Nessa noite, as luzes estavam acesas na cozinha de Baruch Ashlag toda a noite. Fiquei lá e li meticulosamente cada pedaço de papel até que descobri um que não me deixaria procurar mais. Era a peça do quebra cabeça que procurava sem sequer o saber. Era o capeamento, o primeiro passo na marcha que estava prestes a tomar doravante.
O papel que tinha encontrado, que é agora parte de “Os Escritos da Última Geração” de Baal HaSulam,” contava um conto de agonia e sede, amor e amizade, libertação e compromisso. Aqui estão as palavras que descobri: “Há uma alegoria sobre amigos que estavam perdidos no deserto, esfomeados e sedentos. Um deles havia encontrado um acampamento abundantemente cheio de cada delicia. Ele lembrou -se dos seus pobres irmãos, mas ele já se havia afastado deles e não sabia onde estavam. …Ele começou a gritar alto e a soprar o chifre, talvez seus pobres, amigos esfomeados escutassem sua voz, se aproximassem e viessem a esse acampamento abundantemente cheio de cada delícia.
“Assim é a questão perante nós: nós nos perdemos no terrível deserto juntamente com toda a humanidade e agora encontramos um grande e abundante tesouro, nomeadamente os livros da Cabalá. Eles preenchem nossas ansiosas almas e nos preenchem abundantemente com exuberância e acordo.
“Somos saciados e há mais, mas a memória dos nossos amigos deixados desesperadamente no terrível deserto permanece fundo dentro dos nossos corações. A distância é grande e palavras não conseguem abrir caminho entre nós. Por esta razão, temos de montar esta trombeta para soprar com força para que nossos irmãos possam escutar e se aproximar e serem tão felizes como nós.
“Saibam, nossos irmãos, nossa carne, que a essência da sabedoria da Cabalá consiste de conhecimento de como o mundo desceu do seu lugar elevado e celestial ao nosso estado ignóbil. …É desta forma muito fácil descobrir na sabedoria da Cabalá todas as correções futuras destinadas a vir dos mundos perfeitos que nos precedem. Através dela saberemos como corrigir nossas maneiras doravante.
“. . .Imaginem, por exemplo, que certo livro histórico fosse descoberto hoje, que descreve as últimas gerações milhares de anos a frente, descrevendo o comportamento tanto dos indivíduos como sociedade. Nossos líderes procurariam cada conselho para organizar a vida aqui correspondentemente, e nós não chegaríamos às manifestações nas praças. Corrupção e o terrível sofrimento cessariam e tudo chegaria pacificamente ao seu lugar.
“Agora, distintos leitores, este livro encontra -se aqui diante de vocês, em um armário. Ele afirma explicitamente a inteira sabedoria do estadismo e as condutas da vida privada e pública que virão a existir no fim dos dias. Eles são os livros da Cabalá, onde os mundos corrigidos estão dispostos. Abram estes livros e encontrarão todos os bons comportamentos que virão a aparecer no fim dos dias e encontrarão dentro deles as boas lições pelas quais ordenar as questões mundanas hoje também.
“…Não consigo mais me conter. Resolvi divulgar as condutas da correção do nosso futuro definitivo que descobri pela observação e pela leitura nestes livros. Decidi sair ao povo do mundo com esta trombeta e acredito e estimo que ela será suficiente para reunir todos aqueles que merecem começar a estudar e a mergulhar nos livros. Assim eles se sentenciarão a si mesmos e ao mundo inteiro a uma escala de mérito.”1
Cerca de um ano depois de descobrir estes artigos, publiquei os meus primeiros tr ês livros com a orientação e apoio do meu professor. Tenho publicado livros desde então e circulei a Cabalá por numerosos outros meios, também.
A realidade de hoje é muito dura, e as pessoas frequentemente não têm paciência ou desejo de mergulhar em livros, como Baal HaSulam imaginara. Mas a essência da sabedoria, o amor, e a união que são as fundações da realidade e que a Cabalá instiga nos seus praticantes, permanecem tão verdadeiras como sempre foram.
Além do mais, desde o virar do século, o antissemitismo tem aumentado uma vez mais, desta vez por todo o mundo. O espectro e o ódio aos Judeus enraizaram-se mundialmente. Se espalhando furtiva e venenosamente, ele ameaça infestar nações inteiras com fobia de judeus e repetir os horrores do passado.
Mas agora sabemos qual é a cura. Cada vez que os Judeus se unem, a serpente esconde a sua cabeça. O espírito de camaradagem e responsabilidade mútua que sempre foram a nossa “arma,” nosso escudo contra a adversidade.
Agora devemos reunir esse espírito, nos vestirmos com ele e deixar que o seu calor curativo nos rodeie. E assim que o tenhamos feito, devemos partilhar esse espírito com o resto do mundo, pois esta é a nossa vocação, a essência do nosso ser “uma luz para as nações.” E assim, porque todos precisamos de respostas para as nossas perguntas mais profundas, porque bem fundo todos os Judeus querem saber a cura para o antissemitismo e porque é o legado do meu professor e de seu pai e grande professor. Decidi detalhar o que significa ser um Judeu, o que significa ser comprometido e o que significa partilhar. Mas acima de tudo, eles me ensinaram o que significa amar o Criador.