Será que o limiar do ódio na sociedade moderna pode piorar e o que pode o povo judeu fazer acerca disso?
Quando eu era menino na Europa do Leste, minha mãe me disse que se eu fosse para a escola e fosse bom para os outros, então a vida me trataria bem. Hoje, contudo, não vejo que os pais na Europa digam a mesma coisa aos seus filhos. Novas vagas de ódio xenófobo varrem o continente, marcando uma necessidade crescente de uma abordagem diferente.
A Áustria e República Checa elegeram representantes que agressivamente exigem o fim da imigração. A Hungria declarou que a Europa ficasse livre de imigrantes. A extrema direita alemã ganhou aderência enquanto partido politico pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A Polônia recentemente honrou um historiador com uma medalha nacional no mesmo mês em que publicou um artigo que desacredita o sofrimento judeu durante a Segunda Guerra Mundial. Também, uma das equipas principais de futebol da Itália, a Lazio, recentemente estampou autocolantes de Anne Frank usando um uniforme da team do Roma em desrespeito à equipe do Roma, uma vez que o Roma é habitualmente considerado extrema esquerda e judeu.
O ódio xenófobo atingiu novas magnitudes na Europa. Antes que ele começe a inflamar grandes conflitos, como no passado, nós temos de entender de onde ele vem e o que pode ser feito para impedir o seu aumento.
“A Europa é um representante chave do mundo do século 21, o declínio de uma cultura ocidental que até recentemente prosperava. Hoje, a Europa é um emblema daquilo que o mundo inteiro está a começar a experimentar: o fim da era do individualismo excessivo.”
O Paradoxo da Nossa Era
Enquanto a sociedade humana avança para o renascimento tecnológico, nós estamos a perder a motivação. O impulsio para sobressairmos em muitos campos em que nos aplicavamos no passado está a esvaecer, uma vez que há sinais visíveis de que se tornarão obsoletos ou dominados por robôs. Enquanto os tempos se tornam cada vez mais confusos e difíceis para as pessoas ao nível pessoal, social e económico, mais e mais pessoas sentem que os estrangeiros são uma perturbação para as suas vidas.
Os europeus são os primeiros a experimentar os danos resultantes de ondas massivas de imigração. Inicialmente, eles pensavam que os imigrantes impulsionariam o continente com sangue novo. Eles pensavam que poderiam ganhar da entrada da imigração e acolheram abertamente os imigrantes. Contudo, quando começaram a ver a cultura, educação e economia europeia em risco, muitos europeus entenderam que não seriam capazes de ganhar desta situação e debandaram em rebanhos para a extrema direita.
A Europa é um representante chave do mundo do século 21, o declínio de uma cultura ocidental que até recentemente prosperava. Hoje, a Europa é um emblema daquilo que o mundo inteiro está a começar a experimentar: o fim da era do individualismo excessivo.
Como reacção para o fracasso do individualismo excessivo, os valores nacionalistas fazem um retorno súbito. Todavia, esta erupção de nacionalismo é somente reaccionária e não oferece uma solução duradoura.
As pessoas continuam insatisfeitas. Nossos desejos são muito mais exigentes hoje que eram no século passado e cada vez mais vamos descobrir que quer vamos para a direita ou para a esquerda, nunca acharemos satisfação e conforto perene. Além do mais, a tendência para unir uma parte da sociedade em desconexão e oposição às outras partes é uma que conduz aos regimes nazis, guerras mundiais e muito sofrimento se ela ganhar ampla aderência.
Um exemplo deste tipo de união foi recentemente exprimido pela declaração do ex-supremacista branco Kevin Wilshaw no Channel 4 onde publicamente abandonou a extrema direita. Ele mencionou o sentimento de união na extrema direita como sendo derivado de “ser atacado pelas outras pessoas.”: “Embora você acabe com um grupo de pessoas que através das suas próprias visões extremistas estejam separadas da sociedade, você tem uma sensação de camaradagem no sentido que você é um mebro de um grupo que está a ser atacado pelas outras pessoas.”
O mundo de hoje se parece mais e mais ao pátio de uma prisão onde você tem de escolher o seu gangue para obter uma sensação de apoio: ora está na direita ou na esquerda. Além do mais, uma vez que a sensação de união está a faltar na sociedade no geral, muitas pessoas debandam para achar essa união na extrema direita ou na extrema esquerda, que se alimentam do ódio da sua oposição.
Estamos então condenados a entrar no futuro com esta luta crescente?
“Como reacção para o fracasso do individualismo excessivo, os valores nacionalistas fazem um retorno súbito. Todavia, esta erupção de nacionalismo é somente reaccionária e não oferece uma solução duradoura.”
Uma Alternativa à União Baseada No Ódio
Nós podemos alcançar estabilidade económica, bem estar social, uma sensação de segurança, felicidade e preenchimento reorganizando nossos sistemas sócio-económicos sob um único princípio fundamental: conexão universal acima de todas as diferenças. Este princípio é baseado na conexão natural que compartilhamos enquanto seres humanos. Além do mais, contrariamente à versão da extrema esquerda da união comunista e da versão da extrema direita de união nazi, o princípio da conexão acima das diferenças permite que a união fortaleça a diversidade social e a capacidade de cada pessoa exprimir a sua individualidade na sociedade.
Como funciona isso? Funciona porque este princípio emana da própria natureza. Como é visível em qualquer organismo vivo, aas forças opostas da natureza formam um único sistema que funciona em perfeita sincronização. Portanto, estabelecendo uma conexão delicada que conecta todos os opostos em um único todo, através de consideração mútua e aceitação, nós temos a capacidade de progredir positivamente enquanto sociedade.
A primeira sociedade na história que se baseou na conexão acima das diferenças e não na base das diferença de cada grupo, foi fundada no antigo reino da Babilônia há cerca de 3800 anos atrás. Um grupo de pessoas de culturas diferentes, idiomas e fundos se reuniram juntas sob um guarda-chuva ideológico de conexão acima de todas as diferenças.
Esta sociedade surgiu num tempo em que as pessoas sentiram as crescentes divisões sociais e em vez de deixar que as divisões se desenvolvessem para conflitos, como aconteceu com os outros Babilônios, eles transcenderam suas diferenças e se conectaram pelo bem de todos. Sobre esta conexão está escrito, “amor todos os crimes cobre” (Provérbios, 10:12). Esta sociedade se desenvolveu para aquilo que é conhecido como “o povo de Israel.” Abraão guiou sua conexão com um método que mais tarde foi chamado “a sabedoria da Cabala.”
“A união revelada do mundo moral, espiritual e intelectual com o mundo material, prático, técnico e social é exprimida no mundo por Israel. Também, a singularidade da Terra de Israel é que ela serve para sintonizar o mundo na revelação desta união, que dá uma nova face à cultura da humanidade.”
Rav Avraham Isaac Kook, Orot Hakodesh
Há imensa importância para esta conexão acima das diferenças que as pessoas na antiga Babilônia formaram. Estas pessoas ficaram conhecidas como “os judeus” (“Yehudim“), da palavra hebraica “unido” (“yihudi“) (Yaarot Devash, Parte 2, Drush 2) e sua concretização em se conectarem acima das suas diferenças gravou-se a si mesma na consciência da humanidade. Ela é na realidade a razão pela qual tantas pessoas odeiam os judeus. Isto é, se o povo judeu não concretizar sua habilidade de se conectar acima das suas diferenças, assim permitindo que esta tendência se espalhe para mais e mais círculos da sociedade, então eles são como um entupimento no sistema. Muitas pessoas subconscientemente sentem esse entupimento e culpam os judeus por qualquer coisa de mau que aconteça nas suas vidas.
“É um facto que Israel é odiada por todas as nações, seja por razões religiosas, raciais, capitalistas, comunistas ou cosmopolitas, etc. Isso assim é pois o ódio precede todas as razões, mas cada um meramente resolve a sua repugnância segundo a sua própria psicologia.”
Rav Yehuda Leib HaLevi Ashlag (Baal HaSulam) Os Escritos da Última Geração.
A xenofobia dos dias de hoje no mundo ocidental é um precursor para o ódio de amanhã que estará direccionado para os judeus. Enquanto o povo judeu negligenciar sua capacidade inata de se unir “como um homem com um coração” (Comentário de Rashi a Bamidbar 1:2), o ódio e insatisfação sentidos por mais e mais pessoas se voltará cada vez mais contra eles. Resumindo, se os judeus não se unirem, então o mundo se unirá contra nós.
Foi a conexão acima das diferenças que nos estabeleceu como povo judeu. Esta ideologia está profundamente escondida na nossa raiz. Nós temos o método que consegue guiar-nos para a detecção destas raízes, as nutrirmos e cultivarmos para uma reorganização positiva da sociedade humana. Tudo o que precisamos é sacudir todos os mal entendidos sobre a sabedoria da Cabala, entendermos que ela é um método para conectar as pessoas acima de todas as diferenças e então implementar este método, descobrindo como podemos substituir o crescente ódio, xenofobia, insatisfação e insegurança de hoje com aceitação recíproca, felicidade, confiança e bem-estar social.
A forma positiva ou negativa da união que a sociedade pode assumir está nas nossas mãos e espero que despertemos para concretizar nossa união positiva mais cedo que tarde demais.
Publicado originalmente no KABNET