O poder crescente da Amazon e da Alphabet representa o amanhecer de uma nova era. Nós temos de formar uma nova cultura que se enquadre no nosso futuro conectado. Dar às pessoas um rendimento básico por participarem neste mega projecto é o próximo passo que devemos tomar.
Numa questão de dias, tanto os preços das acções da Amazon como os da Alphabet cruzaram a marca dos 1.000 dólares, pregando um prego a seguir ao outro no caixão dos negócios tradicionais de retalho. Os shoppings estão a entrar em colapso enquanto os drones tomam o ar. Dezenas de milhares de empregados estão a ser despedidos enquanto os supermercados automatizados assumem sua forma. As compras online tornaram-se a norma e a cultura de consumo como a conhecemos vai para os livros de história.
Mas isso não termina com as compras. A evolução da tecnologia é como um fenómeno fractal, o padrão repete-se em diferentes formas e cores. Automóveis autónomos estão a ameaçar os motoristas, a inteligência artificial está a espalhar-se pelo sector dos serviços, as impressoras 3D estão a redefinir a manufactura e smartphones falantes estão a tornar-se secretárias pessoais.
A previsão de um futuro desempregado paira no ar e o conceito de um Rendimento Básico Universal está nas manchetes à esquerda e à direita. Mas por baixo da fria superfície tecnológica, está a cozinhar uma profunda questão humana: qual será o papel do ser humano no futuro próximo e para onde vamos enquanto sociedade?
Evolução Humana. O Quadro Maior.
Até agora os humanos estiveram ocupados a estabelecer sua existência física neste planeta. Caçámos mamutes, vivemos em cavernas e acendemos fogueiras durante um tempo. Então mudamos-nos para casas com sistemas de aquecimento e produção alimentar industrializada. Gradualmente, estamos a delegar o aprovisionamento de nossas necessidades físicas para equipamentos e máquinas que façam o trabalho por nós.
Estamos a aproximar-nos de um ponto de viragem na evolução humana onde um novo reino se abre para nós. Enquanto descobrimos que conseguimos automarizar amplamente a produção de comida, água, habitação e de vestuário para todos, nosso tempo, energia e concentração podem ser investidos naquilo que mais importa: Desenvolver a essência do ser humano dentro de nós e paralelamente curar e alimentar a humanidade enquanto sociedade.
A Vantagem do Homem Sobre o Robô?
As mudanças estão a ocorrer mais rápido do que percebemos uma vez que o progresso tecnológico está a acelerar. E se em tempos questionamos qual é a vantagem do homem sobre o animal, em breve questionaremos qual a vantagem do homem sobre o robô.
Responder a esta pergunta não será uma questão de filosofia. Será um problema premente que determina não menos que o destino da raça humana. O nível da tecnologia que estará à nossa disposição pinta dois futuros possíveis: Podemos usar a tecnologia sofisticada para os países lutarem uns com os outros e destruirem o planeta, ou podemos construir o meio para abastecer toda a necessidade básica e criar uma realidade de abundância para todos.
Se desejarmos avançar para o último, então muita coisa tem de mudar. E essa mudança começa dentro de nós. Precisamos de reconhecer que nosso impulso egoísta para colocar nossos interesses pessoais acima de tudo está em contraste com nosso futuro interdependente. Precisamos de nos tornar conscientes de que o mundo é um sistema globalmente integrado que requer que avançemos para a união.
Para essa finalidade, nossos valores sociais e o propósito da cultura humana, nossas aspirações pessoais e aquilo que na realidade fazemos com o nosso tempo, todos precisam estar focados em nutrir nossas conexões humanas. Fazendo isto, vamos desbloquear uma nova fonte de prosperidade e preenchimento e colocar a sociedade no caminho certo.
Criar uma Nova Cultura Conectada
Múltiplos campos da ciência social e da biologia têm dito isto durante décadas, nós estamos todos programados para a conexão humana. Não importa de onde viemos ou que valores no presente mantemos, enquanto seres humanos, encontramos felicidade e preenchimento quando nos sentimos conectados aos nossos semelhantes. E também é também então que nos tornamos a melhor versão de nós mesmos: Produtivos, criativos, saudáveis e resilientes.
Contudo, criar esta nova cultura conectada significa trabalhar imenso. As explosões de egoísmo humano precisam de ser continuamente equilibradas com os inspiradores valores pró-sociais. Enquanto seres humanos nos precipitamos instintivamente para nossos impulsos egoístas, mas ao mesmo tempo somos criaturas sociais que saímos do nosso percurso pelo reconhecimento social. Então em vez de lutarmos pela auto-acumulação e auto-maximização, numa cultura conectada, o clima social nos impulsionará a competir pela contribuição social.
Para alcançar isso, muitas pessoas precisarão de passar por treinamento e mais tarde trabalharem como educadores e organizadores comunitários para criarem e manterem um clima social positivo.
Regressando ao Presente: O Dilema do RBU
As vozes que evocam os governos a contrariar o desemprego tecnológico fornecendo um Rendimento Básico Universal são maioritariamente vistas do lado económico da equação. No lado social dela, não está claro para os defensores do RBU que a nova fonte de preenchimento e progresso humano é não outra senão a conexão humana positiva.
Se desejarmos evitar desenvolvimentos caóticos e avançarmos suavemente para o futuro inevitavelmente conectado das nossas sociedades, recomendo que um rendimento básico não venha por si só. Em vez disso, que ele venha juntamente com um treino sócio-educativo. Em vez de termos pessoas que vivem da segurança social enquanto lutam para competir com robôs cada vez mais avançados, elas devem receber um salário pelos novos empregos do futuro: os papeis sociais e educativos necessários para formar uma cultura humana positivamente conectada.
Na minha visão, é isto que a maioria das pessoas farão se nos colocarmos conscientemente no caminho certo enquanto sociedade. Nossa inteligência, engenho e criatividade podem todas ser utilizadas para aumentar a qualidade das conexões humanas. Este não é um sonho utópico, mas em vez disso o único envolvimento realista e pragmático que podemos assumir para evitar um futuro distópico e tomar o caminho certo na encruzilhada em que nos encontramos.
Se trabalharmos juntos, podemos bem ter uma vantagem sobre os robôs.
Publicado originalmente no BIEN – Basic Income Earth Network