A publicação publicitária de página inteira no Washington Post ripostando para Lorde por ter decidido cancelar o seu concerto de Israel devido à pressão do BDS a chamando de “intolerante” e atacando a Nova Zelândia ao mesmo tempo, não é o tipo de resposta que dará qualquer pontuação à imagem de Israel.
Seguramente, Israel está certa nos seus esforços para combater as várias campanhas de desligitimização. Mas em vez de tentar dizer para aqueles que guardam rancor por Israel que estão errados, primeiro devemos explicar para nós mesmos de onde vêm verdadeiramente estes sentimentos.
Em vez de derramar dinheiro em ataques de relações públicas que causam a divisão, que nos fazem a todos aparentar não mais maduros que crianças de escola maldizendo umas das outras, seria muito mais benéfico para Israel, para os Judeus do mundo inteiro e até para a sociedade humana no geral, investir numa estratégia de RP que destape a verdadeira base do povo judeu e a razão profundamente enraizada para que tantas pessoas odeiem Israel e o povo judeu e o que pode ser feito construtivamente acerca disso.
Eu concentraria a mensagem de tal esforço de relações públcias nos seguintes três pontos:
1. Qual é a razão do ódio?
A razão do ódio pelos judeus está profundamente enraizada na humanidade. A palavra hebraica para “Judeu” (Yehudi) vem da palavra “unido” (yihudi) (Yaarot Devash, Parte 2, Drush nº 2), pois o povo judeu foi fundado sob o princípio da união acima das diferenças. Como consequência, é esperado que eles exemplifiquem essa união para que a humanidade a siga. Fazendo isso, eles se tornariam uma conduta vital que tem poder para substituir a divisão, conflitos e sofrimento da humanidade por união, paz e felicidade. Como escreve o Rav Kook, “Em Israel reside o segredo da união do mundo.”
A humanidade está conectada como uma única rede e o povo de Israel são o “ponto de acesso” da rede. O Zohar afirma que os pensamentos e acções do povo judeu têm um efeito de ondulação pela humanidade e que todas as crises no mundo estão relacionadas à função que é suposto que eles concretizem dentro da rede.
Portanto, quanto mais negativos os fenómenos que se acumulam no mundo, mais o mundo guarda rancor por Israel e pelo povo judeu, indirectamente nos pressionando a realizarmos o nosso papel. Se mostrassemos ao mundo o exemplo de união que ele espera, imediatamente sentiríamos uma resposta positiva. Enquanto não agirmos desse modo, então mais e mais pessoas sentem ódio inexplicável pelo povo judeu.
2. De onde vêm os Judeus?
A nação de Israel não é uma nação típica. Ela surgiu na antiga Babilónia quando indivíduos, famílias e tribos concordaram seguir a ideia espiritual revolucionária que Abraão o Patriarca havia cunhado.
Era um tempo de imensa divisão social. Abraão foi um Babilónio que recusou sucumbir ao fluxo da rotina diária, que empurrava as pessoas umas contra as outras. Em vez disso, ele embarcou numa jornada de auto-descoberta, o estudo da natureza e do sistema da criação. Isto o conduziu para uma descoberta inédita: a percepção da humanidade como uma rede unificada, onde duas forças fundamentais estão em jogo: uma força de união positiva e uma força negativa de egoísmo. A força positiva constantemente opera para unificar todos os indivíduos em um únito todo, enquanto a força negativa constantemente gravita na direcção oposta, distanciando os indivíduos uns dos outros.
A descoberta de Abraão salientava que as leis que actuam sobre o indivíduo são as mesmas leis que actuam sobre escalas maiores da natureza. Ele concluiu que a crise da sociedade babilónia poderia ser concertada se o equilíbrio entre as duas forças fosse restaurado, fortalecendo a força positiva da união. Ele formou grupos e os orientou para cultivarem a união como valor supremo, os ensinando a como se elevarem acima da força egoísta que os separava.
Foi assim que o método de se elevar acima do ego humano e manter a união acima das diferenças foi desenvolvido. Com o decorrer das gerações, este método ficou conhecido como “a sabedoria da Cabala.”
3. Por quê agora?
A humanidade tem se desenvolvido rapidamente em anos recentes. Alcançamos novos máximos de desenvolvimento tecnológico e cientifico, perigosamente em conjunto que novos mínimos na qualidade das nossas relações humanas. O mundo de hoje está imerso em divisão e conflito, com divisão social baseada na política que se intensifica, o ressurgimento das tendências nazis, fascistas e xenofóbicas e um aumento da ansiedade sobre o armamento e guerra nuclear.
O Secretário Geral da ONU António Guterres inaugurou 2018 emitindo “um alerta vermelho para o nosso mundo” e enfatizando a necessidade de “juntos resolvermos os conflitos, superarmos o ódio e defendermos os valores compartilhados” esse é um claro sinal de alerta para os nossos tempos.
A solução para as ansiedades intensificadas de hoje, que tem o poder para elevar a sociedade humana para um novo nível de relações baseado em união e responsabilidade mútua, é a capacidade de nos elevarmos acima do ego humano separador. O método para implementar esta solução reside fundo dentro do coração do povo judeu.
É simples: quanto mais o sistema exigir que nós judeus nos unamos acima das nossas diferenças, mais forte se tornará o ódio para connosco. Ou numa luz mais positiva: quanto mais nos unirmos, mais vamos “desbloquear” o sistema, permitindo que a força positiva unificadora da natureza flua para as relações humanas.
Portanto, se regressarmos ao escrutínio inicial de “O que sentem verdadeiramente os boicotadores de Israel?” antes de simplesmente os contraatacarmos com uma reacção impulsiva para aqueles que nos atacam, eles estão certos em nos recordarem das exigências duras do mundo para que o povo judeu leve a cabo o seu papel. Independentemente das inovações de alta-tecnologia que Israel trouxer ao mundo, o mundo permanece desinteressado, subconscientemente esperando algo muito mais significativo e substancial do povo judeu.
Na semana passada, a voz de Lorde foi despojada do palco musical e amplificada na exploração política. contudo, com esforços de RP mais articulados, poderemos ser capazes de começar a ouvir um chamamento muito mais profundo por trás do cancelamento de Lorde em Israel: a voz do mundo que deseja que Israel e o povo judeu comecem a dar um exemplo positivo e unificador.
Publicado originalmente no Breaking Israel News